Recebendo nomes como Tim Maia e James Brown, a Chic foi um dos principais palcos da Black Music brasileira

Por Ivan Rossi

No auge da década de 70, na quadra da Sociedade Esportiva Palmeiras, surgia a principal festa black da noite paulistana. Embalada pelo som de Tim Maia, James Brown, Jorge Ben Jorge e Bebeto, a Chic Show do Palmeiras, por anos trouxe o melhor da black music para a comunidade negra de São Paulo.

Como afirma Luizão, o criador da Chic, no documentário “Bailes da Chic Show do Palmeiras”, postado pela escola de samba Mancha Verde, a festa foi criada para um público alvo, que eram as pessoas negras.

Por ser uma festa criada por negros e direcionada a negros, a chic show atendia muitas demandas de uma comunidade que tinha seu lazer marginalizado desde a criminalização do samba no pós-abolição da escravatura. O baile era felicidade, dança e muita música para um povo trabalhador, como fala Luizão no documentário da Mancha.

Além de trazer a boa música black para o palco, a Chic do Palmeiras oferecia a representatividade, muitas vezes oprimida em um Brasil que vivia uma ditadura militar. O cabelo black, a calça boca de sino e os passinhos se tornaram sinônimos de autoestima para quem frequentava os bailes da época.

Conversando com o historiador, dançarino de Soul Music e fundador da Zulu Nation Brasil 1994, King Nino Brown, que se apresentou no mesmo palco que James Brown na Chic Show do Palmeiras, perguntei sobre essa representatividade do baile para a comunidade negra paulistana: “era um quilombo no centro de São Paulo”.

Nino completou dizendo que, “quando acontecia a Chic Show, as outras equipes de som nem faziam seus bailes, todos iam para o Palmeiras”  

Na festa era possível ver a nova geração, a exemplo de King, mas ninguém queria ficar de fora dos embalos de sábado à noite. “Meu primeiro show no Palmeiras foi em 11 de novembro de 1978 com o James Brown e a Banda JBS, eu tinha 16 anos”. Nino conta que esse foi seu batismo. 

A Chic Show é um exemplo de festa que marca gerações, causa emoções, esbanja representatividade e felicidade a toda uma parcela da população marginalizada. Felicidade que sinto em cada frase dita por King Nino Brown na entrevista: “Eu via nego veio se emocionando com cada música. Um amigo nosso chamado Lamparina subiu no palco e abraçou James Brown, que correspondeu o abraço”.

Nino Brown termina a entrevista agradecendo ao Chic Show do Palmeiras por fazer parte de sua história e falando que Luizão era um grande pai para todos. Além de pedir para finalizar com uma música, me mostrando “Get Up Offa That Thing 1976”, de James Brown. 

O Chic show para Nino sempre será o “Number one” dos bailes blacks paulistanos. A quadra da Sociedade Esportiva Palmeiras jamais será esquecida como “um quilombo no centro de São Paulo”, em uma época tão difícil para o nosso país.

Deixe um comentário