João Pedro Ferreira

Saque do Futuro, projeto de extensão da universidade, promove aulas introdutórias ao esporte

A iniciativa bauruense permite com que todos possam desfrutar dos benefícios do esporte (Foto: arquivo pessoal/João Marcos Pellegrini) 

“O projeto busca tirar da vida da pessoa aquilo de “eu não consigo”, muita gente não joga vôlei porque “ah, eu não consigo”, mas é uma crença totalmente trabalhada na prática”. A fala de Milton Vieira, professor de educação física, reflete o caráter inclusivo do projeto de extensão “Saque do Futuro”, iniciativa unespiana focada em iniciantes do voleibol e aberta ao público.

A ideia de criar um projeto de vôlei surgiu na década de 90, por meio de um torneio interno entre os servidores técnicos administrativos da Unesp. O idealizador do “Saque do Futuro”, Milton Vieira, costumava lecionar aulas de natação na universidade, mas foi logo depois desses jogos internos que a oportunidade em lecionar o voleibol surgiu. 

“Eu ministrava a disciplina de natação e educação física escolar, além de aprendizagem e condicionamento, crescimento e desenvolvimento. Quando se aposentou um professor de voleibol, essa disciplina veio para mim e eu comecei a ministrá-la. Aí eu também propus o projeto de extensão “Saca Essa” [antigo nome do “Saque do Futuro”]”, comenta o professor. 

A ideia do projeto é promover a iniciação ao voleibol, estimulando a prática da atividade física, bem como incentivar a convivência social e o trabalho coletivo.

No começo, o “Saque Essa” tinha um outro viés educacional, já que a sua proposta pedagógica era voltada apenas ao público infantil, com aulas que procuravam trazer escolares pro campus para desenvolver suas habilidades no esporte. Apesar disso, Milton comenta que a iniciativa encontrou dificuldades com relação à infraestrutura.

“Não tinha essa estrutura que tem hoje, nem o ônibus passava para o lado de cá do radar, era muito pouco, e as crianças não conseguiam vir. Durante a semana também era muito complicado no contraturno delas”, diz. “Nós começamos a fazer um ginásio municipal aqui na entrada da universidade, entre 2000 a 2005, e aí começou a ampliar as possibilidades. Quando a gente teve toda a estrutura colocada aqui, como o ginásio coberto, nós trouxemos o projeto para dentro do câmpus de Bauru”, afirma o docente.

Com a popularidade do “Saca Essa”, os estudantes e os servidores da Unesp começaram a se interessar pelas aulas, até que surgiu uma nova proposta para o projeto: ele deixaria de ser apenas para crianças escolares, mas também para adolescentes, atendendo a comunidade interna da universidade. 

O professor ainda comenta que essa nova proposta não foi aprovada pela Unesp, porque a universidade alegava que o projeto não atendia a comunidade externa. “Para mim, a comunidade externa era alunos de outro curso da Unesp, que vem de outras cidades, que é da própria comunidade, mas aí a gente abriu então a possibilidade de não ser só interno e ser para todo mundo”, aborda Vieira.

Com todas essas reformas e mudanças, o projeto, com o novo nome de “Saque do Futuro” , vem acontecendo desde 2017, atendendo toda a comunidade de Bauru. 

Por que o vôlei?

Segundo Milton Vieira, a escolha do vôlei para ser um esporte de um projeto de extensão veio por conta de sua coletividade. Durante a prática da modalidade, as relações interpessoais são desenvolvidas a todo instante.

“Por ser um esporte coletivo, eu penso que essa relação interpessoal tem que ser estimulada, principalmente nos dias de hoje. É uma modalidade que está em evidência, na mídia, na sociedade e é uma modalidade que eu preciso de ter nível de habilidade, eu preciso aprender”, aponta. “Eu não consigo jogar só com desenvolvimento motor. No futebol, eu consigo correr sozinho com a bola, ir lá e fazer um gol. No voleibol, eu preciso da relação com o outro, eu não consigo jogar sozinho”, afirma o docente.

A escolha do voleibol para um projeto acadêmico faz ainda mais sentido quando pensamos em Bauru, que é, hoje, um dos polos paulistas de desenvolvimento e investimento do esporte. A cidade, hoje dominada pelos times masculino e feminino de vôlei do SESI, acaba atraindo cada vez mais pessoas para a modalidade. 

“O avanço do voleibol nos últimos tempos, não só na cidade, mas no Brasil, com a Olimpíada, com a mídia, tudo isso motivou mais as pessoas a procurarem a modalidade internamente. Em Bauru, com os dois times [do SESI] vindo agora, também tem uma motivação maior, a gente sente isso, as pessoas procuram, estão indo assistir os jogos, isso gera uma motivação para elas”, completa Vieira.

O docente ainda comenta que na cidade de Bauru existem poucas opções para quem não conhece o esporte, havendo mais clubes com foco em treinamento para o profissional. Segundo ele, o projeto busca adolescentes “que não foram pro esporte e que procuram mais o comprometimento de ter uma prática regular de atividade, pensando em saúde principalmente”.

Além de ensinar os básicos para os alunos, um dos pontos que mais diferencia a iniciativa unespiana de outros lugares é o foco em criar o hábito do esporte. O projeto não procura rendimento, mas sim manter uma vida ativa.

“Hoje a gente diz que todo mundo adere a uma atividade física, mas não tem aderência. Tem uma rotatividade muito grande. As pessoas começam e em um, dois meses param. A prática regular da atividade é fundamental. Vou dar um exemplo aqui, qualquer atividade física melhora a flexibilidade, só que você para uma semana, você perde. Então o contínuo do projeto melhora a qualidade de vida da pessoa”, aborda o professor.

O impacto do esporte 

Por meio de uma pedagogia acolhedora, o projeto busca atingir aqueles que nunca tiveram contato com o esporte. O aprendizado vai desde o básico, com os movimentos iniciais da modalidade, como o toque e a manchete, até movimentos mais complexos, como passada de ataque e movimentação em quadra. 

Giovanna Bertochi, estudante do oitavo ano do Ensino Fundamental e aluna do “Saque do Futuro”, aponta que um dos pontos-chave da iniciativa unespiana é a comunicação amigável e paciente. Ela comenta que mesmo começando do zero, foi justamente essa característica do projeto que a ajudou progredir no esporte. 

“Eu comecei aprender as coisas desde o começo, saque por baixo, posição dos pés na hora de sacar, toque, manchete, isso tudo se aprimorou muito pelo projeto. Lá eles têm muita paciência em ensinar as coisas, porque eu sou muito hiperativa, muito ansiosa. E daí eles tiveram muita cooperação comigo. Inclusive, eu treinei em outros lugares e nada chega aos pés do projeto”, aponta Bertochi.

Durante as aulas, João Pellegrini, aluno de Educação Física da Unesp e professor do projeto, procura mostrar que é justamente essa comunicação entre o coletivo que potencializa a aprendizagem.

“Algo muito importante no volei é a comunicação. Com ela, você acaba jogando bem com o seu time, é o jogo cantado, como dizem. O jogo cantado fica muito mais fácil. Então, a sua comunicação, querendo ou não, acaba melhorando no dia a dia. Você consegue esclarecer as coisas melhor. Então, esse é um ponto principal do social, o vínculo, basicamente, com as outras pessoas”, aborda Pellegrini.

O “Saque do Futuro” ainda utiliza essa socialização do voleibol para incentivar aqueles que possuem receio de participarem de uma atividade física. Milton Vieira afirma que o objetivo maior do projeto acadêmico é tirar a pessoa da arquibancada e fazê-la vivenciar a prática esportiva. 

“A iniciativa busca tirar da vida da pessoa aquilo de “eu não consigo”. Muita gente não joga vôlei porque “ah, eu não consigo”, “eu tenho medo da bola”, “ah, meu saque não vai passar”, mas são crenças totalmente trabalhadas na prática”, afirma. “Buscamos atender aqueles que não sabem e fazer com que eles mudem o comportamento, buscamos criar uma motivação, criar inspiração, criar uma vontade para que essa pessoa permaneça fazendo a atividade”, finaliza o docente.

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