Novo presidente da Argentina causa polêmica com ideias ultraliberais sobre a economia

Por Amanda Trentin

No domingo, 19 de novembro, Javier Milei, da coligação La Libertad Avanza, venceu a disputa pela presidência da Argentina contra Sergio Massa, candidato da coalizão Unión por La Pátria e atual ministro da Economia no país. 

O presidente eleito é formado em economia pela Universidade de Belgrano e adquiriu certa notabilidade na esfera política em 2021, quando La Libertad Avanza conquista cinco cadeiras da Câmara nas eleições legislativas. Além disso, parte da notoriedade se deve à participação como comentarista econômico em programas televisivos e rádios. 

Umas das razões do porquê Milei foi vitorioso é devido ao fato de ele ser adepto da Escola Austríaca de Economia. Isso o foi muito favorável, tendo em vista que muitos de seus apoiadores também aderem à mesma vertente. A força de seus partidários foi maior que a voz dos peronistas.

Representante da extrema-direita, o ultraliberal promete privatizar os serviços estatais, com exceção da área da saúde e educação, extinguir o Banco Central (BC) e dolarizar a economia. 

Javier Milei segura uma serra elétrica como símbolo da ruptura com o governo anterior

Contudo, é possível que o autoproclamado “anarcocapitalista” não conclua o planejamento pensado para a nova era de liderança que a Argentina enfrenta, ao menos sobre o âmbito econômico. 

No entendimento do economista chefe do Banco Master e professor da FGV/SP Paulo Gala, o anarcocapitalismo defendido pelo presidente “na prática é inviável. É só uma ideia. Nenhum país do mundo conseguiria implementar isso, porque as economias modernas não funcionam sem Estado, Banco Central ou Ministério da Fazenda e da Indústria”, afirma. 

Em verdade, para Gala, a vitória das eleições a favor da La Libertad Avanza significa um protesto contra a insatisfação em relação ao descontrole da inflação e desorganização das contas públicas deixadas como herança da linha de governo assumida por Massa e seus ascendentes atuantes na política. Isso pois, fora do quadro teórico, as ideias extremistas do libertário são inviáveis. 

Já para o ex-secretário de Política Econômica e ministro de Minas e Energia no governo Bolsonaro, Adolfo Sachsida, o plano de Milei seria de cunho positivo, uma vez que resultaria em uma menor intervenção estatal em políticas econômicas e favorece o livre comércio. 

Na avaliação de Sachsida, Milei acertou em apoiar-se na corrente econômica firmada pela Escola Austríaca de Economia, vinculada à Friedrich Hayek. “Hayek foi o maior economista do século 20. É um referencial fabuloso”, comenta. 

Embora os estudos da Escola Austríaca sejam de fundamental importância para analisar um encaminhamento liberal da economia e entender os objetivos de Milei na tentativa de implementar a dolarização, nota-se a possibilidade de um previsível fracasso quanto a essa proposição. 

De acordo com Gala, a implementação do dólar na Argentina não seria plausível em virtude do déficit na balança comercial, no fluxo de capital e da ausência de reservas cambiais. O economista ainda compara os critérios de Milei com os de Macri. “Será um governo orientado com o quadro do que era o governo Macri”, resume. 

Mesmo com todos esses desafios, Sachsida explica que a informação sobre como a dolarização seria aplicada ainda não é precisa. “Não sabemos como ela será operacionalizada. Até agora só tivemos o debate de ideias”, diz. Mas se mantém esperançoso quanto o processo: “A dolarização de Milei certamente será mais sofisticada”. 

Ambas perspectivas apresentam subjetividades, mas que são consonantes quanto a um ponto: o governo de Milei será de orientação de direita, pautado no mercado, com abertura econômica, redução de tarifas e privatização.

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