O poder de Hollywood na criação do personagem fútil e burro interpretado por mulheres
Por: Isabela Domingos
Imagem – Reprodução/Prime Video
“So you’re breaking up with me because I’m too… blonde?” A frase dita por Elle Woods, protagonista do filme Legalmente Loira, marca o início da trama mundialmente conhecida e trata com humor a vida da patricinha Elle, que resolve cursar Direito em Harvard para reconquistar o ex-namorado. No entanto, Woods se encanta pela área e, diferente dos demais alunos, precisa provar a cada momento que é sim esforçada e que mesmo sendo extremamente feminina pode ser uma ótima advogada.
Desde o início dos tempos, a feminilidade é muito cobrada pela sociedade, afinal, é muito importante estar sempre maquiada, com cabelos alinhados, unhas feitas e roupas delicadas, além da voz angelical e dos dons culinários. Mas o que antes era visto como uma qualidade, com o passar dos anos se mostrou um vilão, um verdadeiro demônio.
Afinal, mulheres femininas são sinônimos de pouca inteligência e habilidades profissionais e incapazes de se importar com assuntos sérios como política, economia e ciência. Esse estereótipo pode ser facilmente encontrado nas telinhas e a receita é sempre a mesma: mulheres extremamente femininas usando seus saltos altos e mini vestidos, sempre fazendo compras e, claro, sem cérebro.
Elle Woods retrata o que muitas mulheres passam no mundo corporativo, onde a feminilidade é vista como algo negativo e o gosto por tons de rosa é sinônimo de burrice. Um estudo realizado pela Women in the Workplace em 2023, quanto maior o cargo, menor a presença feminina – não à toa, apenas 28% dos CEOs e presidentes de empresas são mulheres.
Fonte: Representação em divisões corporativas de gênero e raça – McKinsey & Company, Women in The Workplace 2023
As barreiras invisíveis, como diz Dhafyni Mendes Borges, co-fundadora do Todas Group, em entrevista concedida à revista Marie Claire, podem afetar a saúde mental de muitas profissionais. “A jornada de ascensão da mulher é muito mais exaustiva e, geralmente, vem acompanhada de burnout”. Ainda segundo os estudos divulgados pela Women In The Workplace 2023, as mulheres estão mais ambiciosas que antes da pandemia. Aproximadamente 9 em cada 10 mulheres com menos de 30 anos almejam a promoção e cargos de liderança dentro das empresas.
A demonização da mulher como figura profissional, fora dos parâmetros patriarcais, é muito forte na sociedade de forma geral. Muito nova para ser líder, muito velha para ser mãe, muito gorda para ser modelo, magra mas não magra o suficiente, arrumada demais, arrumada de menos – os discursos ambíguos proferidos diariamente causam discussões em busca de respostas.
Giulia Coronato, escritora do blog Steal The Look, escreveu recentemente sobre a forma como Hollywood retrata mulheres nas telonas, e usou como exemplo os comentários infelizes feitos pelos telespectadores do filme Barbie, afinal um mundo cor de rosa dominado por mulheres é um absurdo. “Cada mulher possui um estilo diferente e não são todas que querem usar símbolos ultra femininos, mas aquelas que querem devem ter o direito de usar sem ter sua integridade e inteligência questionada”.

Imagem – Reprodução/Warner Bros 2023
A arte imita a vida. É uma frase que se aplica perfeitamente a essa realidade criada e retratada nas telinhas, como Giulia diz: “a feminilidade virou sinônimo de maldade e de burrice com a criação de personagens superficiais, que não demonstram ou representavam a real complexidade do que significa ser uma mulher”.
Ser mulher é um grande desafio principalmente no meio corporativo, e todo esse caminho se torna ainda mais complexo quando o estilo pessoal de cada uma é mais considerado do que qualquer qualificação intelectual. É preciso se libertar das amarras criadas. “Você deve sempre ter fé nas pessoas. E, o mais importante, você deve sempre ter fé em si mesmo”, como dizia a grande advogada Elle Woods.
