O maior programa sociocultural brasileiro direciona crianças e adolescentes ao mercado da Música
Por Samuel Vinícius

O projeto Guri é o maior programa sociocultural brasileiro, com mais de 380 polos espalhados pelo estado de São Paulo. A estrutura consegue destinar o ensino de música a crianças e adolescentes entre 6 a 18 anos de idade. O projeto além de incentivar o conhecimento da arte e o consumo a cultura, direciona os alunos que têm interesse no mercado de trabalho, a programas de profissionalização como a Emesp Tom Jobim e o Conservatório de Música de Tatuí, instituições que através de processo seletivo selecionam seus alunos e os encaminham a uma especialização
O Guri é mantido pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo e atualmente é gerido pela Associação Santa Marcelina de Cultura, uma das organizações sociais sem fins lucrativos de maior renome no Brasil. Em 2019, após o programa sofrer com crises orçamentárias que quase fecharam as portas de diversos polos, a pressão popular sob o governo do Estado fez com que o então governador, João Dória, descontingenciasse R$20,7 milhões para manter o projeto funcionando. Em nota na época ao portal do Governo do Estado o ex-governador disse: “Não haverá nenhuma interrupção no Projeto Guri, que continuará operando regularmente como está, atendendo 64 mil crianças e adolescentes em todo o Estado, sem redução de alunos e professores.”. O Santa Marcelina assumiu a direção de todo o Projeto Guri em 2022.
A iniciativa tem grande impacto social comprovado, principalmente para os alunos que têm interesse em trabalhar com música. Em pesquisa solicitada pela Santa Marcelina ao Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS) a fim de medir o retorno social de investimento (Social Returno On Investment – SROI) do projeto na capital de São Paulo, foi possível metrificar o retorno do impacto social gerado pelo Guri.
Os resultados do estudo analisaram os impactos sociais causados pelo projeto entre os anos de 2016 a 2018 onde a iniciativa atendeu mais de 26 mil alunos na capital e região metropolitana de São Paulo. Revelando que a cada R$1,00 investido no Projeto Guri existe um retorno em valor social de R$6,53, seis vezes mais que o valor inicial investido, revelando a amplitude que o projeto pode atingir socialmente.
O projeto Guri em Bauru
Em Bauru existem diversos exemplos de que o projeto faz diferença na vida dos estudantes de música. Cintia Moreno é coordenadora do polo na cidade de Bauru há 19 anos, está na posição desde a inauguração do projeto e acompanhou a formação de diversos musicistas.

(Créditos: Samuel Vinícius)
“ O projeto impacta em vários aspectos, tanto o cultural quanto o social, incentivando o aluno a participar de atividades que os colocam em contato com artistas convidados e cursos… a gente tem bastante relatos das famílias relacionando o projeto com a melhora do desempenho escolar e social de seus filhos, onde os alunos que talvez possam apresentam dificuldade de socialização ou aprendizagem dentro do projeto eles começam a ampliar conceitos de amizade, respeito e disciplina.”
(Cintia Moreno)
Na cidade o polo oferece os cursos de clarinete, contrabaixo acústico, coral juvenil, eufônio, flauta transversal, percussão, trombone, trompa, tuba, viola, violino, violoncelo, saxofone e iniciação musical para as crianças entre 6 e 8 anos, os encontros acontecem duas vezes por semana e os alunos têm as aulas de seus referentes cursos permeados das matérias de teoria musical e coral, ampliando o contexto artístico cultural e o desenvolvimento de habilidades para a hora de praticar em seus instrumentos.
A musicista Alex Monteiro é uma menina trans que aos 19 anos trabalha com música na região centro-oeste paulistana, a artista performa junto a Orquestra Sinfônica de Bauru e Lençóis Paulista tocando flauta transversal, segundo ela “trabalho é o que não falta” e o projeto Guri foi “essencial” para a formação de sua carreira na música. O projeto permite a permanência do estudante após maioridade desde que não interrompa sua matrícula, dessa forma Alex permaneceu no polo e hoje após passar no processo seletivo faz parte da Escola de Música do Estado de São Paulo – Tom Jobim (EMESP Tom Jobim). “Hoje eu vou para São Paulo toda segunda-feira de manhã e volto para Bauru toda quarta-feira à noite”, conta a aluna sobre sua rotina de estudos na Emesp.

(Créditos: Samuel Vinícius )
Um modelo de disseminação cultural que é exemplo para o Brasil
O projeto tem grande influência no consumo de arte e cultura, principalmente na medida que presta atendimento a crianças e adolescentes, levando o serviço de letramento cultural a esses jovens. O atendimento em sua maioria é destinado a comunidades periféricas que buscam no Guri o recurso de implementação social, fazendo com que ele seja a base de aprendizado de cultura e arte para esses artistas mirins. Pois a cultura tem papel na formação social do indivíduo, fazendo-o reconhecer a realidade que está inserido, gerando mais pertencimento social e habilidades de socialização.
A professora Giovanna Contador, tem 28 anos e leciona para os alunos de corda, que inclui violino, viola, violoncelo e contra-baixo, do polo Bauru. Ela relata que os alunos são incentivados a conhecer novos artistas e estilos musicais, com isso acabam desenvolvendo interesse nos arranjos musicais uns dos outros e acabam descobrindo novos artistas e estilos musicais. “Vou dar um exemplo muito simples, às vezes um aluno mais novo ouve um aluno mais experiente tocando uma música diferente, acaba gerando o interesse, entende? E assim eles acabam aumentando seus repertórios musicais…”.
Giovanna também destaca como os alunos conseguem identificar uma perspectiva de futuro através da arte. “Eu também já fui aluna do Guri”, diz a musicista Atualmente a artista é um exemplo de profissional do polo e seus alunos contam com diversos outros casos de sucesso que começaram na unidade de Bauru e atualmente estão rodando o mundo.

(Créditos: Samuel Vinícius )
O incentivo cultural é essencial para o crescimento de um país, na medida que em países tidos como modelos de bem estar social e desenvolvimento contam com grande participação da chamada economia criativa em seus rendimentos, a exportação e importação de “produtos culturais” acaba empregando parcelas relevantes da população, movimentando a economia local e trazendo mais rendimento a nação. No Brasil o setor cultural contribui com cerca de 3,11% do PIB brasileiro ficando até mesmo a frente da do rendimento gerado por indústrias automotivas, que representam 2,11% do PIB nacional. Para entender um pouco melhor da importância de projetos socioculturais e da necessidade da arte para o desenvolvimento de um país, Liene Saddi, produtora cultural destaca:

Liene Saddi – Produtora audiovisual Bauruense. Mestre em Artes e Doutora em Artes Visuais pela Unicamp.
Finalização de um semestre e o início de novas turmas
Sempre quando um semestre é finalizado os alunos se reúnem para uma audição onde expõe para a comunidade bauruense, principalmente as famílias dos alunos, os aprendizados desenvolvidos durante o período letivo através de um concerto musical. O espetáculo é dividido entre as Turmas A, B e C, onde cada uma delas é organizada pelo nível de desenvolvimento de seus integrantes. A partir disso são elaborados arranjos especiais para serem apresentados, com melodias que são populares entre os alunos mas que também não deixam de lado a tradicional música clássica.
Confira fotos e vídeos do espetáculo:
(Créditos: Samuel Vinícius)







Alunos e profissionais do Guri no dia da audição de final de semestre
(Créditos: Samuel Vinícius)
O espetáculo também abre espaço para a divulgação de novas turmas, que inclusive já estão com matrículas abertas! Para participar do projeto é muito simples, basta comparecer junto do responsável legal ao polo de Bauru, munido do documento de identidade e comprovante de endereço, com isso será possível escolher o instrumento de sua preferência e dar início ao curso. As inscrições ficam abertas até o início das aulas do segundo semestre, que tem previsão para começar em agosto.
