Canção do seriado Chaves deveria ser ouvida por todas as nações.
Por Brida Correia
A velhice é uma das quase certezas que temos na vida. E quando se diz “quase”, é porque não sabemos realmente se chegaremos até lá. Em séculos passados, a velhice era considerada para quem alcançava os seus 50, 60 anos. Hoje, não é mais tão raro ouvir notícias sobre pessoas que passaram seus 100 anos de idade. Considerando os avanços tecnológicos, tanto na medicina quanto nos próprios estilos de vida, envelhecer bem e de forma saudável se tornou possível.
No entanto, a velha guarda se tornou um problema para algumas sociedades, que passaram a olhá-la com uma visão pessimista. Na Coreia do Sul, uma série de polêmicas se espalhou nesse último ano, pelo preconceito sofrido por pessoas mais velhas. Em alguns comércios, como restaurantes e padarias, a intolerância tornou-se tão grande que os donos começaram a restringir idosos de frequentarem seus estabelecimentos.

(The Qoo)
Essa intolerância contra pessoas jovens ou velhas é chamado de etarismo ou idadismo, como também é conhecido. Este preconceito está mais presente do que imaginamos em nossa sociedade, como forma de julgar aqueles que são os mais “vulneráveis”, propondo que eles não possuem habilidades para praticar certas atividades ou ir à alguns lugares.

O professor adjunto da Unesp de Marília, Sadao Omote, que possui experiência na área de Psicologia, com ênfase em Psicologia Social, atuando principalmente nos temas inclusão diz que “de um modo geral, pode-se dizer que tanto os idosos quanto os jovens não têm papel de destaque na sociedade. No mundo atual, com a tecnologia de informação e comunicação, que agiliza a circulação de informações, e com rápidas mudanças, a experiência acumulada pelos idosos perdeu a sua relevância.”

(Divulgação)
Para o professor, os fatores econômicos também atuam a favor dessas ações. “Em parte é questão cultural, mas os fatores econômicos, em termos de produção e de consumo de bens, também têm forte influência sobre a definição do espaço social de categorias de pessoas”, diz ele.
Segundo a professora em Comunicação e Práticas de Consumo da ESPM de São Paulo, Gisela Castro, o etarismo “embora possa acometer pessoas de todas as idades, é mais comum se referir a pessoas mais velhas porque nossas sociedades se tornaram profundamente centradas na juventude, que se tornou um imperativo social, algo a ser exibido em qualquer idade tanto em termos de aparência social quanto em termos de atitudes”.

(Divulgação)
Ela explica também que “as populações do mundo todo estão envelhecendo, o que significa dizer que mais e mais pessoas hoje estão vivendo por mais tempo. Há também uma nítida diminuição das taxas de natalidade e mortalidade infantil, o que faz com que a antiga pirâmide etária esteja sendo desconfigurada com o progressivo estreitamento da base (com menos bebês e recém-nascidos na população) e alargamento do topo (com mais pessoas mais velhas vivas)”.
Devido a esse novo modelo de sociedade, o estado e suas instituições deveriam se adequar às novas necessidades dessa parte da população, promovendo projetos de inclusão. Porém, de acordo com a professora, “essa reconfiguração na proporção de pessoas mais velhas na população ainda não se reflete em uma maior inclusão dos mais velhos, que ainda são discriminados socialmente por serem considerados menos dignos de admiração, menos belos, menos interessantes do que os mais novos etc.”
Além disso, é possível notar que há um enfrentamento ainda maior contra esse preconceito com as mulheres. “Essa situação é ainda mais difícil em relação às mulheres, que costumam ser ainda mais discriminadas uma vez que tenham ultrapassado a idade reprodutiva. Há toda uma indústria anti-idade que é multimilionária e que ganha dinheiro justamente explorando as inseguranças de homens e mulheres instados a projetarem uma aparência juvenil em qualquer idade”, completa Gisela.
Essa mesma discriminação e falta de aceitação do próprio ser faz com que muitos recorram a procedimentos estéticos que tiram a própria beleza do tempo. É notável que muitos artistas famosos do último século não aceitaram suas rugas e marcas de expressão, resolvendo parar no tempo com cirurgias plásticas que tirassem a essência da idade.

Viver esse preconceito de forma recorrente traz resultados não só físicos, mas também psicológicos. A partir do momento em que fazem você se sentir incapaz, o sentimento de opressão surge podendo afetar até a saúde mental. Sadao afirma que “pode ser prejudicial à saúde mental desses grupos, porém o quanto compromete ou não depende da reação de cada um. Pode ser vantajosa a assistência psicossocial a esses grupos sociais, para promover a saúde física e mental, em vez de a sociedade arcar com a despesa com a terapêutica de pessoas que adoecem”.
Mas, ainda assim, em muitas culturas o envelhecimento natural e saudável ainda é visto como algo a ser brindado – e tolos são aqueles que não o saúdam. Como brinca o professor Sadao, “quem não ficaria admirado vendo uma senhora de 95 anos jogando park golf, percorrendo um percurso de cerca de 4 kilômetros?”

Ótima matéria! Reflexo de uma sociedade que está morrendo aos poucos, a busca pela manutenção da juventude como sinônimo de beleza é empurrada por guela abaixo constantemente por essa indústria voraz da beleza, e o paralelo com o avanço da tecnologia no armazenamento de informações é de “bugar” a mente, iremos substituir também a experiência?
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