Especialistas alertam para a necessidade de áreas verdes para o desenvolvimento infantil

Por Sofia Azenha

A relação entre o bem estar na primeira infância e a interação com áreas naturais é um privilégio para todos?

Na sociedade atual, o aumento das grandes cidades e do uso da tecnologia faz com que o convívio com o meio ambiente está se esvaindo ao nível que crianças passam mais tempo na frente de uma tela do que brincando ao ar livre. Estudos científicos mostram que o contato com a natureza na primeira infância estimula a criatividade, a socialização e a saúde, assim como, promove o desenvolvimento cognitivo e emocional. A necessidade das crianças que estão passando pelo processo de neurodesenvolvimento intenso, físico como também o social é impactado pelo meio que ela vive.

Por conta da desigualdade social e urbana, em áreas periféricas o acesso às áreas verdes é quase inexistente ou inviabilizado, intensificando a vulnerabilidade social dessa população que já é marginalizada e negada por direitos básicos.

Segundo a pediatra Carla Rafaela, “viver num meio ambiente com áreas mais verdes gera qualidade de vida, porque a gente entende que geralmente, hoje em dia, quem mora nesses centros, onde você tem o privilégio de ter uma área verde, são pessoas que tem uma condição socioeconômica mais favorecido do que quem está nas periferias da cidade onde visivelmente eles vivem em conglomerados”.

Ela explica também que “isso gera stress ou diminui o stress, isso gera menos tempo no transporte público ou mais tempo no transporte público, isso influencia se os pais têm mais tempo com as crianças ou menos tempo com as crianças, e sabemos que ter contato com áreas verdes está estimulando o contato”.

Com o pouco tempo parental, o contato infantil com o meio externo é inviabilizado pelas rotinas familiares que veem como meio de conseguir cumprir suas necessidades o uso das telas. Essa negligência não intencional tem consequências na saúde física e mental, pois ao ficar parado na frente das telas e não ser estimulada “reflete nas crianças o aumento da obesidade, na quantidade de diagnóstico, inclusive de TDAH. “Porque não estão sendo estimuladas de uma outra forma e não estão gastando energia”, completa.

Para o manual de orientações do Grupo de Trabalho em Saúde e Natureza, realizado pela Sociedade Brasileira de Pediatria em parceria com o Criança e Natureza “é importante assegurar que essas crianças e adolescentes tenham tempo e espaço para movimentar-se, gastar energia e participar de brincadeiras que despertem seu interesse e concentração”, uma maneira de pôr isso em prática, é utilizando o plano de “dieta de natureza”, baseado na pirâmide de quatro passos para encontrar com a natureza.

O desenvolvimento infantil nas frentes da tecnologia gera um ciclo vicioso. Quanto maior o uso de telas, mais tecnologias e menos espaços verdes, maior é a incapacidade que a criança tem de interagir com o outros, de se conectar com outras experiências que são fundamentais nesse momento da vida delas, já que é um momento de construção de personalidade, construção e identificação do que ela gosta.

Carla Rafaela explica que o uso de duas horas de tela diária é o suficiente, porque, ao ultrapassar esse tempo, pode gerar sedentarismo, menos interação social, menos concentração, mais imediatismo, isso tudo gera ansiedade e outros transtornos, tanto de humor, de personalidade ou física, como a obesidade.

A diminuição da vida digital não significa a ausência dela. “É claro que no mundo em que vivemos tão conectados, excluir a possibilidade dessa criança de estar vivendo o que a geração dela pode permitir também é um erro. Mas eu acho que tem que ter uma moderação, porque usamos telas como chupeta”, completa Carla.

Diante disso, o contato com a natureza está se tornando um privilégio, quanto menor a vulnerabilidade social que esse indivíduo está inserido, maior serão as condições de crescer com acesso a áreas verdes. Consequentemente, com mais saúde, sem estar exposto ao estresse, medo e insegurança que influencia na qualidade de vida.

A falta de amparo social, tanto no acesso à saúde básica, transporte de qualidade, moradias bens estruturadas, comida nutritivas para a população mais vulnerável, deixa por último a preocupação com o impacto da falta de opção de lazer, do acesso ao meio ambiente com segurança ,que é um direitos básicos que deveria ser assegurados na Constituição brasileira.

Um comentário em “O impacto da infância sem natureza

  1. Tema muito importante a ser discutido – ausência de natureza. Precisamos falar de como as desigualdades, afetam o desenvolvimento infantil.

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