Ataques em escolas causam medo e incertezas na população

Por Artur Cruz Leite e Pedro Santos Freire

Muito longe dos contratempos da adolescência apresentados nos filmes de Hollywood como a aventura de, no meio da madrugada, pegar o carro dos pais sem aviso para ir a uma festa ou a busca pelo primeiro beijo, os problemas da juventude são muito mais sérios e complexos.

Em 2019, dois ex-alunos da Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano, assassinaram oito pessoas e depois se suicidaram. À época, o acontecimento fez a população questionar por que este crime ocorreu em um ambiente que deveria ser de paz.

Para o professor do instituto de geografia da UERJ, Alberto Pereira dos Santos, com décadas de experiência em educação básica, o indivíduo ao estranhar um ambiente de ideias, etnias e comportamentos plurais busca eliminar o que é diferente e tenta justificar seus atos entre grupos que compartilham do mesmo sentimento de ódio.

“Não estamos falando de indisciplina. Estamos falando de um grau extremo de violência contra professores e alunos que é legitimada por grupos da deepweb”, diz.

Neste contexto, as pessoas agora pertencentes aos cultos de ódio vão buscar vingança e glória onde foram vítimas de humilhação, a escola representa esse ambiente. Para o professor, “todos os problemas sociais explodem dentro da escola pública”. Ele acrescenta que elas são espelhos da realidade, assim as ideologias violentas e extremistas vão se manifestar nos jovens.

Policiais rondam Escola Estadual Thomázia Montoro após ataque – Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Segundo o professor, esta falta de suporte no meio escolar é causada pelos consecutivos desincentivos estatais das últimas três décadas. Estes cortes afetam os professores, as escolas, a contratação de profissionais da área da saúde mental que poderiam auxiliar os alunos.

“Enquanto no Brasil não se cumprir plenamente a Constituição Federal e a Lei de Diretriz e Bases de 1996, que implica em planos de carreiras, melhores salários, redução da jornada de trabalho para as professoras e professores, esse problema de violência vai continuar”, declara Alberto.

A respeito do sucateamento do sistema público de educação, para o profissional, os consecutivos cortes orçamentários assim como a atenção reduzida dada à área têm afetado os profissionais que atuam nas instituições. Estes estão com salários desproporcionais à sua função e responsabilidades, além disso mostram-se sobrecarregados por terem de cumprir com múltiplas funções além das próprias. Parte não contratação de profissionais da educação nos últimos anos. Alberto complementa: “Toda essa atrocidade contra a educação nos últimos 4 anos foi apoiada pelo Congresso Nacional como se nada estivesse acontecendo. É um projeto de uma parcela da população que quer, de fato, uma sociedade excludente”.

Assim, sob a ótica do especialista, o problema não vai se solucionar tão facilmente visto que ele é de ordem política e estrutural. A violência é como a “ponta do iceberg” deste problema. É uma questão societária que se reflete nas escolas através da violência usando como intermédio a Internet, uma “extensão do mundo real”, e de discursos já existentes.

Um comentário em ““Todos os problemas sociais explodem na escola”, diz professor

  1. O conteúdo abordado é bastante pertinente ao momento e certamente contribui para informar a população sobre motivos que geram mais violência nas escolas.

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