O que as semelhanças entre os autores de chacinas em escolas têm a nos dizer? 

Por Jhennyfer Silva de Lima e Leticia Rosa de Lima

Desde o conhecido Ataque de Columbine (ocorrido em 1999 nos EUA) casos de violência escolar são uma preocupação para a população mundial. Afinal, esse é justamente o espaço em que deixamos nossas crianças acreditando ser um lugar seguro. Conforme esses episódios vêm ocorrendo no Brasil, questionamentos surgem no país a respeito dos autores desses crimes, suas personalidades e motivações.

Quando atos de violência em escolas ocorrem dessa maneira, tendemos a compará-los com casos antigos e, assim, é possível perceber diversas semelhanças tanto nas ações concretizadas quanto na vida dos próprios autores.

É possível observar, por exemplo, que mesmo com a diferença temporal e geográfica entre seus crimes, os atiradores do Massacre de Columbine (1999), de Realengo (2011) e de Suzano (2019) tem características pessoais e vivências muito parecidas entre si, e com outros agressores recentes.

O primeiro questionamento em casos do gênero é sempre sobre a instabilidade mental dos jovens, e esse é sim um fator presente em muitos casos. Entretanto, especialistas consideram que ligar as psicopatologias a esses crimes serve apenas para aumentar o preconceito com pessoas que sofrem com essas condições. Deve-se prestar atenção, principalmente às características sociais em que o sujeito está envolvido.

Profª Drª Márcia Lopes Reis – Faculdade de Ciências da Unesp de Bauru. (Fonte: arquivo pessoal)

“É preciso violência para acordar [mais violência], violência que às vezes chamamos de adrenalina para esse processo todo”, explica a doutora em sociologia e professora do departamento de educação da UNESP de Bauru, Márcia Lopes Reis.

Quando se procura saber mais sobre esses agressores é possível encontrar em comum o fato da maioria deles serem vítimas de bullying (assédio moral) no âmbito escolar, se acostumando com a ira, o ódio e a irritação constante em um lugar que deveria ser sobre aprendizado, segurança e valores para a socialização do indivíduo em sua comunidade.

Paulo Freire já dizia em sua obra “Pedagogia do oprimido” que “quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é se tornar o opressor”, mas isso não é apenas sobre o mercado educacional, é possível ver nos textos dos autores dos massacres ao redor do mundo como suas motivações são parecidas, baseadas em terem sido oprimidos anteriormente por pessoas de seu convívio.

Porém, segundo Márcia, a escola não é a primeira instituição a falhar com o processo de civilização dessas pessoas. “Falha a família, por exemplo, ao não saber dos caminhos e das opções que o seu jovem, sua criança e seu adolescente, ou seus adultos estão tomando e oferecer para ela outras possibilidades”.

Essa é justamente uma das semelhanças notadas entre os casos anteriormente citados, seja a falta de atenção e negligência parental, a orfandade ou outros problemas familiares encontrados também em ataques mais recentes ocorridos no Brasil nos últimos meses.

Entrada da Escola Municipal Tasso da Silveira no dia do ataque em Realengo. (Fonte: Wikimedia Commons)

O autor do massacre de Realengo disse, em um dos seus textos transcritos pelo Fantástico, da Rede Globo, em 2011, que seu “desejo é que se forme uma rede de combate aos infiéis entre os irmãos”, se referindo à criação de grupos para unir os “irmãos fiéis” que acreditavam na mesma ideia dele pela internet para tanto se ajudarem, apoiarem, financiarem ou servirem como inspiração para espalhar o que acreditavam ser o certo.

Para a doutora em Sociologia, essa compatibilidade entre os criminosos não é apenas uma coincidência. “Os grupos para se construírem como tal sempre são formados por pessoas muito semelhantes, por isso a palavra de identidade, identificação. Você se aproxima, você tem características parecidas com essas pessoas. Ao mesmo tempo que a gente se identifica com esse grupo, nos distanciamos dos outros”.

Criando um espaço de acolhimento para essas pessoas que se sentem excluídas, diferentes ou são agredidas no seu dia a dia, assim é possível afirmar então que esses indivíduos pertencem a uma certa comunidade, com vivências parecidas e que, por se acharem de certa forma, ameaçados, ou superiores em suas posições partem para o discurso de ódio baseados em suas ideologias de purificação.

“Unidos vocês poderão esperar em uma coisa que todos nós desejamos, que os maus sejam extintos que deus vos abençoe”, afirmou, à época, o autor do massacre em Realengo.

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