POR AMABILE ZIOLI

Cavalheiro Verardo Neto é um dentista de 65 anos que construiu parte de sua trajetória na cidade de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo. Apesar de ser profissionalmente da área da saúde, Cavalheiro sempre foi apaixonado por literatura e, principalmente, poesia. No entanto, só conseguiu se dedicar completamente à escrita após sua aposentadoria.

O autor diz que sua relação com a literatura começou na adolescência, aos 16 anos de idade, época em que passou a consumir poesias românticas de autores como Álvares de Azevedo, Castro Alves e Casimiro de Abreu. “Imediatamente pus-me a escrever, no entanto, já de imediato buscando um modo próprio e original” diz Cavalheiro. Apesar disso, o escritor não se prendeu a um só gênero, mas passeou entre eles: infantil, religioso, trova e romance.

Começou na máquina de escrever, e frequentemente deixava suas ideias apenas em rascunho. Foi apenas em 1978 que publicou seu primeiro livro de poemas “Um Mar Sem Margens”. Atualmente, Cavalheiro conta com 40 títulos literários e faz a maioria das suas vendas pela internet, mas isso não foi de uma hora pra outra. Grande parte de seu sucesso nas mídias sociais se deve a uma foto de divulgação das suas obras que foi postada no Twitter, e acabou viralizando.

Dessa forma, Verardo ganhou muita visibilidade – passou a acumular quase 60 mil seguidores em suas redes sociais, e, consequentemente, suas vendas aumentaram drasticamente. Em 2021, o escritor disse ao G1 que chegava a enviar pelos correios 30 exemplares por dia: “Estou recebendo muitos, muitos, muitos pedidos mesmo. No Facebook, WhatsApp, e-mail, Instagram, que eu nem sei trabalhar com isso ainda. Nossa Senhora!”, relatou ao jornal.

Foto: Cavalheiro Verardo Neto/Arquivo Pessoal

A caminhada não foi fácil. Antes da internet, Cavalheiro vendia grande parte de seus livros na rua, usando apenas um cartaz e suas obras, algo que mudou completamente após a popularização de suas redes. Hoje, o autor consegue alcançar leitores de todos os cantos do Brasil, vendendo seus livros a preço único e frete grátis, independente da localização.

O escritor explicita os desafios sofridos por autores no Brasil, desde a publicação até a divulgação, e afirma que o cenário literário no país não é um dos melhores, além de trazer relatos pessoais no processo de procura de patrocinadores para o lançamento. “A tarefa era árdua, mas consegui colocar livros na praça sem gastar do meu bolso”, diz.

Ainda falando sobre patrocínios, Verardo assume os benefícios que a internet lhe trouxe no processo de vendas: “Hoje, vendo livros pela internet, o que me ajuda muito, pois não preciso mais correr atrás de patrocínio”. Olhando por essa perspectiva, a Internet foi um grande facilitador na vida de grande parte dos escritores brasileiros, tornando todo o processo de divulgação, criação, publicação e venda de um livro extremamente mais tranquilo.

Para aqueles que não contam com uma editora parceira, a ascensão da Amazon foi de extrema importância. A ferramenta permite que as vendas sejam feitas de forma remota, o que, para um produtor independente, é uma salvação. É o caso de Cavalheiro, que escreve, autografa, embala e envia cada um dos livros, apesar de não realizar as vendas pelo site, e sim pelo seu Whatsapp – o aposentado conta com a ajuda de um amigo, dono de uma gráfica, para imprimir os exemplares.

Embora houvesse diversas dificuldades, o autor nunca deixou que nada disso o abalasse: “Consigo minimizá-las com amor ao que faço e respeito para com meus leitores”, relata. O aposentado deixa claro seu amor pela escrita, vendo a possibilidade de viver várias vidas através de suas histórias. “A escrita representa muito mais do que um dom ou uma capacidade, ela representa a possibilidade que tenho de viver a vida que eu quiser viver, ou num personagem, ou num poema, mediante as minhas inspirações”.

2 comentários em “Cavalheiro Verardo: A história que a internet ajudou a escrever

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