A importância de conhecer as técnicas de reaproveitamento, de roupas e tecidos, praticadas e ensinadas por projetos de moda sustentável em Bauru

Por SAMARA MENESES

A indústria da moda é extremamente valorizada no mercado, tendo crescido 5,5% a cada ano, de acordo com o portal Ecycle. Porém, tanto lucro também vem acompanhado por enormes desperdícios e produção de lixo, tornando a indústria têxtil uma das mais poluentes do mundo, sendo uma grande fabricante de resíduos e produtora de gases tóxicos. 

De acordo com o relatório da Ellen MacArthur Foundation, além do carbono emitido no processo de produção, o descarte da indústria, dado o ciclo de vida curto das coleções, é imenso e anualmente em torno de US$ 500 bilhões são perdidos com o descarte de roupas nos aterros. Para entender essa dimensão, na criação de peças, 25% de tudo que é produzido é descartado e, praticamente, nada é reaproveitado. 

Foto: Puput / Shutterstock.com

Devido a tanta produção de lixo e pouco reaproveitamento, vem surgindo diversas técnicas sustentáveis para o meio têxtil, cujos objetivos baseiam-se na reutilização. Julia Landim, conhecida por Juju à Mão, empreendedora bauruense e colaboradora direta com o projeto  Crisálida, afirma que “a moda não é feita para ser sustentável, é feita para ser passageira. Portanto, a ideia é ter produtos marcantes o suficientes para que não dependam de uma tendência externa para se manter no guarda roupa de uma pessoa”. 

O projeto Crisálida está localizado dentro da ASCAM (Associação dos Catadores de Materiais Recicláveis de Bauru e Região), e foi criado a partir de uma grande identificação de demanda têxtil, com a possibilidade de reuso, porém sem um destino correto. O projeto possui como objetivos fazer gestão de resíduos, por meio de capacitação de grupos e de comunidades que tenham essa necessidade de formação em relação ao artesanato, promovendo economia circular e criativa de renda. 

Atualmente, o projeto acompanha cerca de seis  mulheres durante o ano, desenvolvendo habilidades artesanais e vendendo suas produções ao longo do projeto. De acordo com Luana Crispim, uma das responsáveis pelo projeto,”a ideia de capacitação não é só ensinar a técnica, mas levar para os grupos que atendemos um conhecimento sobre o valor do desenvolvimento e do fazer artesanato, além de como precificar isso inserindo dentro de uma lógica de mercado de moda”. 

Projeto Crisálida / Foto: Vinicius Bonafe

Uma técnica que vem sendo explorada no ramo sustentável é a economia circular. A prática, que ao invés de possuir o descarte como opção final, visa reintegrar os produtos na cadeia produtiva com um valor igual ou superior, recuperando e restaurando o processo criativo de produção. Sendo assim, o tratamento mais ecológico para materiais têxteis é mantê-los circulando, evitando o descarte final, aumentando seu ciclo de vida útil. Isso pode ocorrer, pelo upcycling (reutilização criativa), customização, brechós, doações, etc. “Essa mudança de ponto de vista e consumo tem que ser uma necessidade da sociedade como um todo, e não, apenas, responsabilidade de uma pequena parcela que rege os bens de consumo e produções”, reforça Julia. 

Entretanto, de acordo com Índice de transparência da Moda Brasil 2022, da Fashion Revolution Brasil, cerca de apenas 7% das marcas divulgam o valor gasto com sustentabilidade, enfatizando a falta de compromisso que marcas de grande porte apresentam em relação ao cuidado ambiental.  Já quando se trata de produtores independentes, a lógica é outra, considerando que todo pequeno empreendedor tem uma produção sustentável, levando em conta que ele fomenta a economia local, economizando, por exemplo, gastos com logística e apoiando pequenos empreendedores que moram na mesma região.

Projetos ecológicos alternativos como o Crisálida são uma forma de fortalecer o crescimento da economia local, valorizar a cultura e gerar outras formas de renda para a população. Demonstrando a efetividade de atividades de conscientização e reeducação ambiental para comunidades locais. “Este tipo de iniciativa normalmente traz uma educação tangencial consigo, além de fomentar uma independência associada a um tipo de empreendedorismo. Abrir a mente para  possibilidades reais com o que já temos em mãos e não utilizamos pode transformar vidas financeiramente e moralmente”, finaliza Julia Landim. 

Um comentário em “A moda também pode ser sustentável

Deixe um comentário