Giovanna Novaes

Recentemente, tem ganhado espaço na mídia e em ambientes acadêmicos o debate acerca da relevância da agricultura familiar no desenvolvimento da estrutura alimentar brasileira. O país, desde sempre, usufrui da grande diversidade desse sistema e de sua heterogeneidade social e produtiva, ainda que sob a sombra do monopólio do agronegócio.
A agricultura familiar pode ser comumente descrita como a atividade agropecuária de pequenos produtores que, através da mão de obra de sua própria família, mantêm um equilíbrio entre os produtos destinados a sua subsistência e os vendidos ao mercado, além de viverem em pequenas comunidades da área rural. Existe um esforço por parte dessa sociedade em emancipar-se de definições muitas vezes arcaicas e estereotipadas, que limitam o produto desse tipo de agricultura à produção de baixa renda ou, até mesmo, ao campesinato.
Ademais, há uma relação de falsa equivalência entre a agricultura familiar e o agronegócio, sustentada propositalmente a fim de encobrir os danos causados pelo sistema agro e descredibilizar a atuação da agricultura familiar na busca por uma política de produção agrícola mais sustentável. Enquanto o primeiro mantém-se em pé sobre a monocultura em grandes latifúndios responsáveis pelo desmatamento e empobrecimento do solo, a agricultura familiar defende o uso sustentável da terra, a policultura e a preservação da fauna e flora local.
Além de tudo, a questão econômica é outro tópico em pauta. A agricultura familiar é responsável por cerca de 80% de toda a produção de alimentos do planeta, segundo dados da ONU (Organização das Nações Unidas), além de gerar empregos para mais de 10 milhões de pessoas no Brasil. Com o número de hectares reduzido, a produção pode ser concentrada em práticas ecológicas, substituindo quantidade por qualidade. Dessa maneira, o manejo sustentável de alimentos assume lugar de destaque, possibilitando o crescimento de uma economia solidária.
É praticamente impossível discutir a história e relevância da agricultura familiar sem mencionar sua relação com o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), já que, desde o princípio, os valores e ideais dos dois se correspondem. Dentro do MST, famílias assentadas lutam pela transformação e desenvolvimento da realidade rural do país, combatendo o monopólio latifundiário, a má distribuição de terras, falta de investimento por parte do governo em pequenos agricultores e, em consequência, a fome.
Na tentativa de garantir que alimentos saudáveis e de baixo custo se tornem uma realidade para a população, membros e simpatizantes do movimento Sem Terra gerenciam pontos de venda de produtos oriundos da reforma agrária, sempre em defesa do pequeno produtor. É o caso da rede de lojas Armazém do Campo, que, em dezembro, inaugurou sua 24° unidade em Bauru. O espaço é abastecido com produtos in natura, vindos do campo e demais comunidades, como o Assentamento Zumbi dos Palmares, Assentamento Luiz Beltrame, Assentamento Laudenor de Souza, Acampamento Plínio de Arruda Sampaio, entre outros. De acordo com Pedro Donizete Alves Júnior, representante da rede em Bauru, a relevância de um lugar como esse, que auxilia na construção de uma emancipação alimentar da população, é algo vital: “Além de produzir alimentação saudável, também contribuímos para a sobrevivência de pequenos agricultores.”
Em síntese, é possível afirmar que todo o trabalho feito pela agricultura familiar auxilia na construção de um sentimento de coletividade por parte da população, além do despertar de uma consciência social e política a respeito da origem e manejo sustentável de cada alimento. “O MST vem com a missão da luta pela terra, já que na constituição de 88 diz que toda terra improdutiva deve ser destinada à reforma Agrária, então ele reivindica o que é nosso por direito, além de produzir alimentação saudável, também construímos sonhos e formamos pessoas melhores, que entendem e sabem dos seus direitos”, finaliza Pedro.

Um comentário em “A agricultura familiar como possível instrumento de emancipação alimentar.

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