ISADORA DE SOUSA
No ano de 2016, o Brasil passou por um grande abalo político. A então presidente da
república, Dilma Rousseff (PT), estava passando por um processo de impeachment. Milhões de brasileiros foram às ruas, portando bandeiras do Brasil e vestidos com verde e amarelo. Com as cores do país, eles tinham como objetivo mostrar uma frente unida e patriota se manifestando e lutando pelo seu país.

Mas, na verdade, foram dois anos depois que a bandeira e suas cores realmente tiveram seu significado tomado por uma parte da população. Quando o atual presidente, Jair Bolsonaro (PL) foi eleito, em outubro de 2018, um elemento nacional foi oficialmente convertido no que hoje pode ser um dos mais populares símbolos da extrema direita no país.
Para o doutor em história social (USP) e docente na Unesp, Maximiliano Vicente, a motivação por trás da ideologia patriota bolsonarista em relação a elementos nacionais, é clara. “O objetivo é criar artificialmente a ideia de união, de dizer que somos todos iguais, que existem interesses do país, embora ninguém saiba dizer quais são os interesses, na prática só determinam comportamentos e atitudes irracionais”, explica.
Mas o que significa patriotismo para a direita?
O presidente Jair Bolsonaro costumava dizer, em seus discursos, que o Brasil é um país que não quer mais corrupção. “O nosso país quer ordem e prosperidade. Façam comparações dos quatro anos do meu governo com os quatro de outro que foi presidente qualquer no passado. Somos exemplo de patriotismo e honestidade”.
A cientista social Mariana Thimoteo discorda desse conceito. Para ela, de fato, o patriota é quem tem amor à pátria e aos símbolos nacionais, mas não é extremista. O patriota valoriza o patrimônio material e imaterial brasileiro, toda a cultura e costumes. O que difere do discurso de ódio dirigido a diversos povos brasileiros, pelo bolsonarismo, supostamente patriota. De acordo com Mariana, a postura por trás do apego aos símbolos nacionais pela direita é, na verdade, uma ideologia nacionalista.
“Os símbolos nacionais são importantes porque dão identidade a um povo, fazem com que possam se reconhecer dentro de um coletivo, como nação”, explica Mariana Thimoteo. Para ela, Bolsonaro e o bolsonarismo não compactuam com os valores nacionais brasileiros. “Na verdade ele subjuga algumas culturas e valores e tenta impor novos, como o fortalecimento do movimento evangélico. O nacionalismo só pertence a um grupo específico, racial, linguístico e cultural. O Brasil é muito grande e diverso nós não podemos nos limitar ao ideal nacionalista”, explica.
E qual é o problema de associar um símbolo nacional a uma ideologia política?
A lei 5.700/71 prevê, em seu Art. 10º. que a Bandeira Nacional pode ser usada em todas as manifestações do sentimento patriótico dos brasileiros, de caráter oficial ou particular. Ou seja, a bandeira do Brasil pode ser usada sob o argumento de patriotismo. Mas utilizá-la para defender um político ou uma ideologia política específica é um uso indevido do referido símbolo nacional.
Se o objetivo não é defender o Brasil em si, mas sim ajudar na eleição ou na adoração de um político específico ou de uma ideologia política específica, não há o que se falar em patriotismo.
De acordo com o professor Maximiliano Vicente, o uso de elementos nacionais para fins políticos foi uma das motivações para a Segunda Guerra Mundial. “Veja, a relevância dessa associação por estar assentada em valores irracionais e que tiram toda lógica e racionalidade de seus seguidores. É como se falassem, esses símbolos me autorizam a… e na verdade o que conta é o mundo real, da constituição e da diversidade em todas suas dimensões”.
Com o resultado atual das urnas de 2022 e a copa do mundo, os brasileiros estão novamente passando pelo processo de ressignificar a bandeira nacional. Mas só o futuro decifrará se a bandeira voltará a ser um bem que pertence a todos.

Maravilhosa, prometeu tudo e entregou tudo.
CurtirCurtir