Conheça diferentes projetos de proteção animal e como eles diversificam suas iniciativas em nome da causa

Por Danielle Ribeiro

Era um dia ensolarado de sábado, 10 horas da manhã e a cidade de Bauru já registrava 32 ºC. Para muitos, o final de semana seria de descanso, mas não para as protetoras da causa animal, Luciane Martinho e Cristiane Cortez que organizavam uma feirinha de adoção de animais. 

O evento ocorreu no dia 25 de outubro, em um colégio de Bauru,  e contou com a participação dos projetos Lu Martinho Protetora,  Tereza Caleda,  ONG Formiguinhas Valentes e Castramor.

Logo na entrada era possível ver a movimentação de crianças e jovens de uniforme. A escola estava preenchida com decoração colorida de papel crepom e cartazes. Dentro de uma área coberta, havia exposições de trabalhos de alunos, mas o que realmente chamava atenção eram os animais para adoção. 

Dois cercadinhos de madeira e algumas gaiolas foram montadas para abrigar cachorros e gatos durante o evento. Luciane e Cristiane, junto com outras apoiadoras, cuidavam dos animais e de toda a parte técnica da adoção, com orientações sobre cuidado e documentação.

Era quase palpável a esperança das cuidadoras e dos animais, que tentavam ganhar a atenção dos visitantes do seu próprio jeito, com o objetivo de promover a adoção do maior número de cães e gatos.

A cada nova adoção, surgia uma onda de palmas e gritos entusiasmados.  Alguns brinquedos reciclados feitos pelos alunos eram distribuídos como forma de brinde para quem adotava.

As protetoras prezam por uma adoção responsável e consciente. Foto: Danielle Ribeiro.

Ivan Dias, professor de matemática do colégio, apaixonou-se por uma filhotinha de pelo branco e olhos claros, que, desde o começo da feira, estava sendo admirada por muitos.

Entre papeladas pra lá e pra cá, Lu Martinho e Ivan se afastaram da multidão para conversar sobre a adoção e assinar o termo de responsabilidade. Afinal, adotar um animalzinho não é uma tarefa fácil, é preciso ter planejamento. E foi isso que Lu Martinho fez, como parte de seu protocolo para ter certeza de que o animal seria bem recebido.

Após o preenchimento da documentação, Luna – agora com um novo nome e um novo lar -,  já estava nos braços de seu tutor.

Apesar da história de Luna terminar com um final feliz, muitos animais acabam retornando para os abrigos e lares temporários. Segundo Cristiane, responsável pela ONG Formiguinhas Valentes, o número de adotados varia conforme o tamanho da campanha e da divulgação.

A prioridade costuma ser os filhotes. Cachorros pequenos, de pelagem e olhos claros, como é o caso da Luna,  são adotados com mais facilidade, diz Lu Martinho.

Cachorros idosos, deficientes, com doenças crônicas ou que exigem algum cuidado especial, são os que possuem mais chances de rejeição e passam praticamente a vida em abrigos. “Os adultos também merecem um lar, os velhinhos, sabe? As pessoas abandonam o cachorro velho, são os que mais [sofrem]. Tem cachorro que passa a vida inteira no abrigo, isso não é justo”, afirma Luciane.

Diversos projetos de proteção animal atuam hoje na cidade e buscam diversificar suas ações para continuar o trabalho em nome da causa. Conheça alguns deles a seguir.

Terra dos Patudos

Na Unesp de Bauru, a Terra dos Patudos é responsável por todas as demandas dos animais do campus. O projeto foi criado em 2005 por Renata Vieira Villas Boas e, em 2007, foi reforçado com a presença de Kátia Aparecida Franzé Ventura, ambas funcionárias da Unesp.

Renata (à esquerda) e Kátia (à direita). Foto: Danielle Ribeiro.

Ao todo, são oito voluntários espalhados pelo campus, entre servidores técnicos e docentes que contribuem com o projeto. Renata conta que cada um é responsável pelas áreas próximas ao local de trabalho. Aos finais de semana, é feito um revezamento entre os voluntários, que fazem o trajeto de carro, para alimentar os animais em diferentes pontos do campus. 

O servidor aposentado Luiz Alberto Magri, 75 anos, alimenta os gatos diariamente desde antes da criação da Terra dos Patudos. Seu Luiz, como é carinhosamente chamado, segue um percurso a pé, que já virou rotina. “Ele conhece bastante os gatos e sempre gostou de cuidar”, comenta Renata.

Além dos voluntários que fazem o trabalho “braçal”, como Renata chama, que é alimentar os gatos, trocar os potes de água e visitá-los em suas casinhas, desde 2022 existe um grupo com mais de 20 colaboradores. Entre servidores técnicos, docentes, alunos e ex-alunos, que ajudam mensalmente o projeto com valores que variam de dez a 200 reais.

Depois da pandemia,  as responsáveis pelo projeto tiveram  a ideia de criar o Bazar dos Patudos. Para tentar suprir os gastos com as despesas dos animais são vendidos roupas, sapatos, bolsas, acessórios e roupinhas de animais, doados para a causa.

Kátia destaca que o bazar é uma das principais fontes de renda do projeto.  Hoje elas batalham por um espaço mais apropriado, dentro do campus, para a realização dos eventos de venda. “Não tem aquela logística que a gente gostaria de ter e a gente depende desse bazar para dar continuidade às internações, castrações e até mesmo ração ou remédio”, explica.

Renata e Kátia também criaram outras ações para angariar fundos, como calendários personalizados, rifas com cestas temáticas e venda de serviços de parceiros, como pastel e pão de queijo. Os calendários são feitos desde 2017 com parceria entre casas de ração, veterinários e outros apoiadores.

Já as cestas temáticas produzidas há alguns anos, serviam para vender rifas. Renata fala com muito orgulho dos voluntários que se juntavam para comprar os produtos para compor a cesta. “Nossas cestas eram um espetáculo. Na cesta de Natal, por exemplo, um dava as castanhas, o outro o damasco, o outro o champanhe, o outro o panetone e no final eram uns 15 produtos”.

Cesta de Natal de dezembro de 2022, ganhador Profº Olavo Speranza. Foto: Renata Vieira/ acervo pessoal.

Outra cesta que também fez sucesso foi a de Dia das Mães, composta por bombons, enfeites artesanais, creme corporal, sabonetes, flores, brincos e outros diversos produtos.

Cesta de Dia das Mães de maio de 2021, ganhadora Profª Eliana Zanata. Foto: Renata Vieira/ acervo pessoal.

Todos esses serviços buscam suprir o gasto de cerca de 10 kg de ração que são consumidos diariamente pelos mais de 130 gatos da universidade, além de despesas médicas e emergências.

Em 2023, a Terra dos Patudos realizou uma parceria com a ONG Arca da Fé para a castração dos animais do campus. Com essa parceria, já foram castrados mais de 220 gatos entre machos e fêmeas. Os adultos castrados retornam ao campus, já os filhotes são recolhidos pela ONG e vão para a adoção. A Arca da Fé também é responsável pelos animais doentes e em tratamento médico.

Graças a esse apoio, grande parte dos gatos que vivem na Unesp estão vacinados, castrados e microchipados, porém ainda há muitos que não conseguiram ser capturados ou surgiram depois desse período e acabaram se misturando com os gatos já castrados.

Hoje, os animais também contam com cerca de 20 pontos de abrigo – casinhas construídas por um parceiro do projeto, a partir de retalhos e materiais reutilizáveis, como fórmicas e carpetes.

Para Renata, os gatinhos da Unesp são uma extensão de seu lar. Ela conhece a história de cada um na ponta da língua. E são muitas as personalidades marcantes espalhadas pelo campus: Letícia, Artur, Serena, Nuno, Vera, Leo, Flor, Sunny, Shy, Ursinho, Vilma, Chiquinha, Arlindo, Álvaro, Abelhinha, Pitty, Nenê, Lilica, Aurora, Amora, Repolho e entre tantos outros.

Além do trabalho desenvolvido no campus, Renata cuida de cerca de 30 gatos em sua própria casa, muitos vieram da própria universidade.

Um exemplo é a gata Aurora, que mora no campus e gosta de ficar no espaço gatificado da marcenaria. Ela foi castrada e ficou na casa da Renata por três meses, depois foi devolvida ao campus. Na época, uma moça queria adotar somente um dos filhotes, por causa do pelo cinza, mas Renata não queria separar as irmãs, então acabou adotando as duas.


Outra história feliz é a do Olívio, um gato gordinho de pelo branco. Quando ele chegou na Unesp, apresentava quadro de magreza excessiva, Renata pensou que fosse uma fêmea e logo levou para receber tratamento médico e castração. Inicialmente foi batizada de Olívia Palito pela sua aparência. No final, o gato era macho e já estava castrado, quando Renata descobriu, ele passou a ser chamado de Olívio.

Algumas funcionárias próximas ao seu ponto de alimentação costumam chamá-lo de Nino. Foto: Danielle Ribeiro.

Para conhecer um pouco mais do principais locais de cuidado dos gatos da Unesp, veja os pontos do Google Maps e o infográfico a seguir:

No total foram registrados 20 pontos, sem contar os pontos do Laboratório da FC, responsáveis pelo Profº Américo. Mapa: Danielle Ribeiro.

Para realizar o percurso completo de carro demora em torno de duas horas. Imagens: Danielle Ribeiro.

Para acompanhar os gatinhos, doar, adotar ou ser voluntário no projeto, confira o instagram @terradospatudos.

Eco Patinhas

“O que o animal retribui para gente não é nem um pouquinho do que a gente gasta. Eles retornam carinho, amor e te curam”, Rosa Capossi (voluntária).

O projeto promove a conscientização e preservação do meio ambiente, juntamente com o bem-estar animal. Unindo a reciclagem e a castração de cachorros e gatos para incentivar boas práticas sustentáveis. Fabiana Gonzalez, Graziele Justina e Maria Lucia Damasceno coordenam o projeto desde julho de 2019.

A ideia surgiu a partir de uma reportagem do projeto Tampinha Legal, no Rio Grande do Sul. A inspiração deu início a uma postagem no Facebook, convidando voluntários para o projeto.

Fabiana (à esquerda), Graziele (no meio) e Maria Lucia (à direita). Foto: Eco Patinhas/ acervo pessoal.

A reciclagem e a educação sobre o manejo dos materiais é a base do projeto. Desde o início, o objetivo era alcançar principalmente as escolas, a fim de conscientizar as crianças e jovens sobre o tema.

E a castração de animais é a forma de direcionar a renda obtida pela coleta de recicláveis. Desde 2019, já foram recolhidos mais de 100 toneladas de material e com esse valor arrecadado já foram castrados mais de 1.300 animais.

Maria Lucia conta que seis animais vindos de resgates estão sob a responsabilidade das coordenadoras.

Voluntários podem participar da separação de materiais ou no recolhimento dos pontos de coleta. Foto: Reprodução.

São várias formas de se voluntariar e Maria Lucia explica como funciona: “Tem gente que quer se voluntariar para fazer separação, tem voluntários que ficam responsáveis por um determinado número de pontos, normalmente perto do trabalho ou perto de casa. Você pode participar em dia de evento, então sempre tem um jeitinho de ajudar. E para a população em geral, é juntar as tampinhas e levar nos pontos de arrecadação”.

No total são registrados 154 pontos de coleta parceiros pela cidade, dentre eles estão pet shops, farmácias, escolas e outros comércios.

Saiba mais sobre os pontos de coleta reciclável. Imagens: Danielle Ribeiro.

O Instituto também oferece um mapa digital com todos os pontos de arrecadação em Bauru.

No Instagram também é possível encontrar o endereço dos pontos de coleta. Mapa: Instituto Eco Patinhas.

Além da reciclagem, outras formas de arrecadação de recursos financeiros são por meio de doação de pixs e rifas com parceiros, muitas vezes dos próprios pontos de arrecadação.

Um plano que ainda está no papel, mas que em breve as organizadoras pretendem colocar em prática, é um bazar com produtos personalizados do projeto. Maria Lucia fala sobre a ideia de criar camisetas e canecas do Eco Patinhas.

Atualmente o Instituto registra cerca de 50 voluntários.  Além das parcerias dos pontos de coleta e casas de ração.

E em setembro deste ano, elas iniciaram o processo de regularização, que, ainda está em andamento, mas atualmente o projeto já foi renomeado para Instituto Eco Patinhas.

A sede do Instituto fica localizada na Rua Caiapós, nº 2-84, na esquina com a Rua Ezequiel Ramos. A abertura ao público é às quartas-feiras e sábados das 8h às 11h30. Para mais detalhes ou voluntariado entre em contato pelas redes sociais:

Lu Martinho Protetora

“Eles têm frio, eles têm medo, eles sentem calor. É igual a gente”, Lu Martinho.

Luciane Martinho ou como é conhecida, Lu Martinho, iniciou na carreira de proteção animal em 2015 como lar temporário. Ela comenta que seu amor pelos bichos vem desde muito jovem.

Um resgate após o outro, ela foi se sensibilizando e cada vez criando mais consciência dos maus tratos e abandonos sofridos pela população animal. Por isso, transmite a mensagem de adoção responsável como base do seu projeto e sempre tem muito cuidado em avaliar os futuros adotantes dos animais.

Lu Martinho na feira de adoção do colégio. Foto: Danielle Ribeiro.

Há seis meses, Lu se mudou para uma chácara próxima à Piratininga, em um terreno de três mil metros quadrados, onde cerca de 40 cachorros recebem seus cuidados.

Quando conheceu a chácara, percebeu que poderia ser um recomeço para ela e para os cachorros. “Eu fui lá e fiquei encantada. Lá é outra vida, eles correm naquela grama e ficam tão felizes, tão felizes”, ela comenta.

A principal fonte de renda que custeia os exames, cirurgias, rações, remédios e mantimentos dos animais é o seu serviço de táxi dog. Mas ela também é responsável pelo serviço de pet sitter, que é conhecido como “babá de pet”, onde o profissional cuida do animal na casa do próprio tutor, e a hospedagem de animais em sua chácara, além da venda de rifas nas redes sociais e o recebimento de doações.

Há um ano, Lu construiu o seu bazar, e desde então vem recebendo doações externas e de parceiros. Junto com ela, suas colegas Vânia Nicolau e Jéssica Rodrigues auxiliam na gestão do bazar.

O bazar está localizado na Avenida Getúlio Vargas, nº 4-90. Aberto sempre de sábado das 10h às 13h, e em algumas quintas-feiras do mês. Lá você encontra de tudo, desde roupas, sapatos, livros, até porta-retratos, bolsas, acessórios e decorações.

Além disso, há três anos, Lu Martinho produz seus próprios calendários. É com a venda desses calendários que ela paga parte das despesas nas clínicas veterinárias.

O calendário custa 10 reais. Foto: Lu Martinho/ acervo pessoal.

É necessário sempre manter os animais vacinados e bem alimentados. Vez ou outra é necessário usar parte do dinheiro reservado para levá-los ao médico, isso quando não são tratamentos contínuos, como por exemplo, o do Bernardo, 6 anos.

Ele foi resgatado quando era bebê, junto com sua mãe e seus irmãos. Bernardo tem otite crônica, que é a inflamação constante no ouvido, o tratamento envolve a limpeza e medicação frequente. Há algum tempo atrás ele acabou sendo internado, pois as feridas infeccionaram e causaram miíase.

Em suas redes sociais, Lu Martinho também atualiza sobre futuros eventos de adoção e a rotina dos bichinhos com vídeos e fotos. Acompanhando a saga de Lu pela internet é possível ter um pouco da dimensão do que é o seu trabalho e até se sentir parte da sua grande família de quatro patas, ou três.

Yumi, 8 anos, é uma cachorrinha de três patas. Ela foi resgatada em 2020, encontrada com a perna pendurada em um poste de luz com pontos de cirurgia malfeitos. Ao ser levada ao veterinário foi comprovado leishmaniose, e com os machucados da perna foi necessário amputar.

Além dessas figuras, existem muitos outros sob os cuidados de Lu Martinho: Chaves, Boris, Lilica, João, Fuxico, Layla, Bianca, Nina, Jade, Bento, Penélope, Gilda, Rosinha, Toninha, Gênio, Zyra, Cascão, Will, Jimmy e entre outros, cada um com seu jeitinho e amor para dar.

Para mais informações, adoções, doações ou outros serviços acesse as redes sociais:

Formiguinhas Valentes

“A gente sempre tem sonhos, quem lida com animais sempre tem sonhos”, Cristiane Cortez.

A ONG Formiguinhas Valentes foi criada em 2013 por Cristiane Cortez. Atualmente o trabalho das Formiguinhas é auxiliar as protetoras independentes em campanhas de adoção, arrecadação de ração, castração e divulgação nas redes sociais.

Houve época em que a ONG tinha cerca de 16 membros, hoje em dia ela é composta por três integrantes: Cristiane, a presidente; Ana, a tesoureira e Fernanda, a social media.

Cristiane Cortez na feira de adoção do colégio. Foto: Danielle Ribeiro.

Conforme o passar dos anos, alguns membros foram saindo. Esse é o caso de Lu Martinho, que antes fazia parte da ONG e atualmente faz o trabalho independente. Apesar da saída do projeto, essa parceria ainda é vista nas feiras e campanhas de adoção.

Evento de adoção da Agrosolo realizado no dia 15 de novembro. Foto: Reprodução.

Adotar envolve uma série de responsabilidades, e quando o animal é rejeitado, muitas vezes as pessoas não levam em consideração todo o estresse que ele vai sofrer. “As pessoas não pensam no emocional desse animal, porque ele já teve uma rotina, ele já acha que tem uma família, aí ele volta para o abrigo e fica estressado e assustado”, Cristiane explica.

Ela inclusive conta a história de uma cachorra que já foi rejeitada por cinco famílias, e acabou sofrendo muito com as mudanças e falta de cuidado dos antigos donos, atualmente ela está sob sua proteção. “As pessoas têm que ter muito em mente que é uma vida, não só as necessidades físicas e fisiológicas, mas também o emocional deles é muito abalado”.

Em 12 anos, mais de 300 animais já passaram pelas Formiguinhas Valentes. Atualmente 40 animais estão sob a tutela da ONG em lares temporários de voluntários ou das próprias coordenadoras. Adicionando as protetoras parceiras nesta conta, totalizam uma média de 150 animais para adoção.

Para custear tratamentos e despesas de lares temporários, a ONG arrecada doações de ração, mantimentos e pixs. Além das rifas, bingos e bazares, alguns parceiros também doam produtos, que promovem ações de arrecadação, como a venda de pizzas, pastéis e bolos.

E o destaque da ONG, são os calendários personalizados. O lançamento é feito desde 2017 e a escolha dos animais ocorre por meio de um concurso de fotos nas redes sociais. A cada ano o estilo muda, mas a mensagem continua mesma: o incentivo à castração  e à adoção consciente.

A ONG participa do projeto Amigo Caramelo, uma parceria entre a prefeitura e algumas clínicas veterinárias de Bauru, onde 20 castrações são destinadas mensalmente para o projeto. Além disso, elas também possuem algumas parcerias de confiança com casas de ração e clínicas veterinárias, que auxiliam no custeio das despesas.

Para mais informações, voluntariado, adoções, doações ou outros serviços acesse as redes sociais:

E a prefeitura nisso tudo?

Em 16 de julho de 2014, foi criado o Programa de Controle de População Canina e Felina do Município de Bauru, decreto nº 12.520. Os seus objetivos incluíam a redução do número de abandono e maus-tratos, a castração dos animais e a adoção consciente.

A última publicação oficial foi em novembro de 2021, com 1.073 denúncias de animais vítimas de maus-tratos. A falta de registros dificulta contabilizar os animais abandonados ou em situação de vulnerabilidade na cidade, tornando-se responsabilidade das próprias ONGs e projetos de proteção quantificar esses casos.

A prefeitura de Bauru anunciou no final de 2023 a construção do primeiro abrigo municipal de animais da cidade. De acordo com o JCNet, o abrigo seria entregue no primeiro semestre de 2024, entretanto a última notícia divulgada foi em 14 de junho de 2024, afirmando que o abrigo estava em suas preparações finais.

Maria Lucia explica como o papel do poder público e das ONGs em Bauru é inverso. “As pessoas e as ONGs são praticamente uma base e não era pra ser assim. Deveria ter uma base pública forte e ter essa ajuda das ONGs e dos projetos, porque senão realmente fica difícil funcionar, mas espero que em algum momento melhore e que a gente possa andar junto”, conta.

Para projetos que não são regularizados como ONGs, como é o caso da Lu Martinho e da Terra dos Patudos, é ainda mais difícil conseguir apoio público. Muitos acabam não indo atrás da legalização devido a falta de logística e recursos financeiros.

Dessa forma, ainda existem barreiras que dificultam esse contato da prefeitura com os projetos de proteção animal. No caso das Organizações Não Governamentais, alguns recursos tornam-se mais acessíveis. Um exemplo disso é a ONG Formiguinhas Valentes, que recebe 20 castrações mensais das 600 disponibilizadas pela prefeitura.

Alguns eventos de adoção da prefeitura realizados em parques públicos e shoppings também são divulgados no site e redes sociais da prefeitura. A campanha mais recente foi a Adote um Amigo, que além da adoção ofereceu o cadastro para castração de animais para pessoas em situação de vulnerabilidade social.

O Programa Amigo Caramelo oferece a população bauruense o cadastro para castração de cachorros e gatos de forma gratuita. O evento ocorre em dias específicos e de forma itinerante, a unidade móvel de atendimento é deslocada para diferentes bairros, a fim de atender maior parte da população.

Cada tutor pode registrar até cinco animais, segundo a Prefeitura Municipal de Bauru, no total serão realizadas 4.000 consultas e 3.000 castrações, sendo 2.000 castrações em cães e outras 1.000 castrações em gatos, tanto machos quanto fêmeas. Para mais detalhes informe-se nas redes sociais ou site da prefeitura.

“Enxugar gelo”

Ser um projeto regularizado abre muitas portas. Desde alcançar maior reconhecimento, auxílio público e parcerias na área.

Além dessa questão documental, existem muitos outros desafios enfrentados por essas protetoras, como, a escassez de lares temporários. Para projetos como as Formiguinhas Valentes e o Eco Patinhas que não possuem abrigos, é necessário que os animais sejam remanejados para casa das próprias protetoras ou voluntários do projeto, e muitas vezes é complicado equilibrar a quantidade de animais com o recurso financeiro disponível.

A expressão “enxugar gelo” aparece em todas as conversas, citadas pelas próprias protetoras. Em um sorriso cansado, todas relatam a dificuldade de fazer as contas “fecharem” no final do mês, seja por recurso financeiro ou pela própria quantidade de animais.

Por isso, em eventos de adoção a esperança é sempre conseguir o máximo de doações possíveis, porque nunca se sabe quando irão acontecer novos casos de abandono.

No final tudo vale a pena

O trabalho é intenso e nunca para. Cada dia é uma surpresa, mas apesar das dificuldades e desafios enfrentados diariamente, o coração e a mente das protetoras volta para casa mais leve, sabendo que ajudaram a salvar mais vidas.

Kátia, voluntária da Terra dos Patudos, se mostra muito grata e relata como as pequenas atitudes do dia a dia fazem a diferença. “É um trabalho que eu tenho muita honra de dizer que participei, eu tenho muito orgulho de falar que, de alguma forma, tive uma participação, porque a gente se apega aos animais”, diz.

Maria Lucia, uma das fundadoras do Eco patinhas, agradece a toda população que esteve junto do projeto e sempre incentivou o trabalho delas. “Mesmo na pandemia, as pessoas abraçaram muito, gostaram do projeto e incentivaram. Então é muita gratidão mesmo”.

Rosa Capossi, voluntária do Eco Patinhas, também conta como sua vida melhorou depois de ingressar no projeto por recomendação de sua irmã, que já participava. “Isso pra mim foi uma terapia, eu não consigo mais sair daqui, porque sempre você tem uma atividade. Realmente é terapêutico, você conversa, não sente solidão”, ela fala.

Para Lu, empatia é a palavra chave. “A gente diz que precisa olhar os animais com outros olhos, porque eles são seres inocentes, que também sentem dor, frio, medo. As pessoas precisam entender que a adoção tem que ser feita com responsabilidade, desde a alimentação, o abrigo, a castração, a vacina até a velhice”, ela explica.

E Cristiane deixa uma mensagem para aqueles que sonham, assim como ela, em conseguir um lar para esses animais. “Adote com responsabilidade, com amor e com o coração aberto, porque são vidas que precisam de amor, de cuidado e de segurança. Se o seu coração estiver preparado para aquilo, adote, porque a melhor coisa que tem na vida é um animalzinho”, finaliza.

Como ajudar?

Toda ajuda é bem-vinda e ela pode vir de várias formas, a depender da condição e disponibilidade de cada pessoa.

Os projetos estão sempre dispostos a receber doações, seja em dinheiro, ração, remédio, roupas, cobertores e entre outros. As informações de doações ou mantimentos mais urgentes são divulgados nas próprias redes sociais.

O apoio também pode vir através de lares temporários para animais resgatados, nesse caso a pessoa mantém uma relação mas contínua com o projeto e recebe  apoio para manter o animal em casa.

Atividades de voluntariado e apoio em eventos de adoção também são uma forma de apoio. Por exemplo, o Eco Patinhas recebe voluntários, seja para coletar reciclável nos pontos ou realizar a separação dos materiais na sede. E a Terra dos Patudos aceita voluntários que auxiliem na alimentação dos gatos da universidade.

O jeito mais simples, mas não menos importante, é a divulgação nas redes sociais. Cada seguidor, curtida e compartilhamento ajudam as protetoras a divulgarem o seu trabalho, eventos e outros serviços. O compartilhamento de postagens ajuda a aumentar o engajamento e a alcançar mais reconhecimento.

Com essa ajuda, você estará proporcionando uma vida melhor a esses animais.

Saiba como ajudar os projetos de proteção animal. Imagem: Danielle Ribeiro.


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