Descubra os métodos do Dragão para permanecer no topo do basquete nacional

Por: João Pedro Passaroni
Em abril de 2025, Paulo Jaú, treinador do Bauru Basket, afirmou, em entrevista ao Jornal Contexto, que o desempenho de sua equipe estava muito acima do que era esperado pela diretoria. Entre 18 equipes, o Dragão apresentava o 10º maior orçamento da competição e, na época, disputava a 5ª colocação da fase de classificação do Novo Basquete Brasil (NBB). O desfecho da competição foi positivo: Bauru chegou aos playoffs (mata-mata) e foi até as semifinais – a segunda consecutiva do time bauruense.
A chegada em duas semifinais seguidas de NBB é um sinal claro de que uma equipe é competitiva. Mas afinal, o que é preciso para um time se manter no topo?
No esporte moderno, é impossível dissociar a ideia de um bom elenco de um grande investimento, como afirma o jornalista Fernando Beagá, idealizador do projeto Canhota 10 (@canhota10).
“O orçamento para você montar um elenco qualificado é o primeiro quesito. E aí envolve outros fatores, de estrutura, de comissão técnica, que consiga conduzir esse elenco mais forte. Nem sempre o orçamento e elenco forte é garantia de que o time vai chegar, mas é meio caminho andado”, destaca.
No cenário nacional, é possível observar a dominância de duas equipes: SESI Franca e Flamengo. Equipes que têm sua montagem de elenco dominada por jogadores de destaque em ligas ao redor do mundo, e principalmente, com nível de seleção. Nos últimos 6 anos, o rubro-negro carioca chegou em 4 finais e conquistou 2 títulos do NBB, enquanto Franca chegou em 5 decisões com 4 triunfos consecutivos, tornando-se o atual tetracampeão da maior competição brasileira da modalidade.
Para a temporada 25/26, os números do orçamento impressionam: em entrevista ao portal Lance!, em agosto, o diretor de esportes olímpicos rubro-negro, Marcus Vinícius Freire, afirmou que a folha salarial do Flamengo Basquete para a temporada 2025/26 está avaliada em, aproximadamente, R$15 milhões.
“O Flamengo já é difícil de comparar no futebol, já está em um patamar acima de outros gigantes, como Corinthians e São Paulo. Está em outro nível, aí você pega o tamanho desse clube e joga no basquete, que é uma modalidade que está abaixo do futebol”, explica Beagá.
Já o investimento de Franca se dá por meio do SESI, referência em diversas modalidades ao redor do estado de São Paulo, como afirma o jornalista. “É algo que a gente vivencia aqui no vôlei de Bauru que, além do investimento financeiro, tem uma estrutura fortíssima, tem uma estrutura de categorias de base. O basquete feminino é em Araçatuba, o judô é em Botucatu e assim com outros esportes. E a partir do momento que o Sesi chega no Franca, o time se reergue e é o atual tetracampeão do NBB”.
Para a explicação desta diferença de recursos, o recorte utilizado será o ano de 2023. Neste período, segundo dados presentes no relatório financeiro da equipe, o Bauru Basket teve um gasto de R$2.851.252,32 (R$237.604,46 mensais) destinado à salários. No mesmo intervalo de tempo, o SESI Franca anunciou a renovação de Lucas Dias, que passou a receber U$350 mil anuais (na cotação atual, cerca de 1,9 milhão de reais), de acordo com o portal salario.com.br.
O valor ganho apenas pelo ala-pivô francano representa, aproximadamente, 66% da folha salarial destinada à 12 jogadores bauruenses, o que evidencia ainda mais a desigualdade de investimentos no basquete brasileiro.
O Bauru Basket
Um dos grandes passos para uma equipe alcançar o sucesso é a escolha de um bom treinador. Com Bauru, não foi diferente: Paulo Cézar Martins, o Jaú, assumiu a equipe na temporada 23/24 e foi eleito o Treinador do Ano.
“No quesito de técnico, Bauru acertou bastante, a gente viu o Jaú, por exemplo, que mesmo com um elenco que não está na altura, em teoria, de competir por título, conseguiu chegar longe em duas semifinais”, explica Beagá.

Uma torcida fervorosa, que apoia o time em qualquer ocasião, também é um diferencial para se obter bons resultados. Com uma média de 1800 pessoas por jogo no ginásio Panela de Pressão, o Dragão fez seus torcedores se tornarem o 6º jogador em quadra, conseguindo 28 vitórias em um total de 35 jogos disputados na fase de classificação das últimas duas edições do NBB. O número representa um aproveitamento de 80% nas partidas disputadas em casa.
Paulo Jaú ressaltou o “fator casa” como uma das principais qualidades de sua equipe. “A gente pode chegar longe, como a gente pode também não chegar, mas mostrando a nossa força dentro da nossa casa, como nós fizemos nas duas últimas temporadas. Com certeza vamos brigar lá em cima na tabela”.
O impacto da torcida bauruense fica ainda mais evidente quando se analisam os números do time longe da Panela de Pressão. São apenas 15 vitórias em 35 partidas, um aproveitamento de 42%.
Não só dentro de quadra, a torcida também exerce grande papel na montagem do elenco da temporada, como diz Vanderlei Mazzuchini, gestor do Bauru Basket.
“Para a gente se manter competitivo, é uma cidade que gosta muito [da equipe], o fator casa é sempre muito importante. Então essa situação, de a gente trazer jogadores que vão conseguir lidar um pouco com essa pressão de jogar em casa, também é pensada na hora dessa montagem”.
Todo time que busca ser competitivo também tem grandes estrelas. Para a temporada 25/26, o Dragão decidiu montar o seu elenco ao redor de jogadores que foram destaques no último NBB.
“Todo ano a gente procura manter quem se adapta, quem está jogando bem. Ter três, quatro jogadores que a gente sabe que vai sustentar a equipe. E a partir daí a gente começa a ver o mercado, procurando jogadores que a gente entende e acredita que vão se adaptar à forma de jogar e à cidade”, explica Vanderlei.
Para a atual temporada, novas caras chegaram a Bauru: os armadores Vithinho Lersch (30) e Matheus Eugeniuz (25), o ala-pivô Augusto Anjos (22) e o pivô Dani Moreira, também de 22 anos. Os dois últimos nomes seguem um padrão de contratação que a equipe vêm aplicando nas últimas temporadas, onde jogadores com pouca minutagem em quadra, ao longo de suas carreiras, ganham a chance de se desenvolver na Cidade Sem Limites.

Arte: João Pedro Passaroni
“Quando você tem um orçamento mais enxuto, tem que olhar o mercado e ver o mercado como oportunidade”, afirma Jaú.
O Bauru Basket também anunciou a contratação do ala José Materán. O venezuelano de 29 anos chegou para suprir a carência deixada na posição após a lesão de Wesley Mogi. Para Lucas Guanaes, repórter da ESPN, a ausência de Mogi será sentida, mas a contratação de Materán para ser seu substituto foi certeira.
“A lesão do Mogi é um complicador para a defesa da equipe. Apesar de estar muito mal ofensivamente em 2025, é um dos principais defensores do NBB, sendo capaz de marcar praticamente todas as posições. A chegada do Materán tende a fazer a diferença para o ataque do time, que sofre para passar dos 60 pontos em vários jogos no ano. Ele já conhece o NBB, tem ótimo aproveitamento do perímetro e deve criar novas dinâmicas para a sequência da temporada”, explica Guanaes.
Na temporada 24/25, o treinador também buscou jogadores com baixa minutagem e obteve resultados positivos nos nomes de Pedro Infante (24), Gustavo – que chegou a atuar pela equipe já na temporada 23/24 – (22) e Andrezão (23).
Jaú acredita que esta temporada ajudará ainda mais no crescimento dos jovens. “Esses meninos ainda vão ter esse NBB para poder ganhar mais tempo, ganhar protagonismo, decidir jogo, perder jogo, é isso que faz a evolução do atleta”.
Os jogadores escolhidos para a diretoria para ser o “tripé” do time foram o ala Alex Garcia, o pivô Andrezão e o armador norte-americano Brite.

Arte: João Pedro Passaroni
Começando pelo ala de 45 anos, Alex é uma figura histórica do basquetebol brasileiro. O “Brabo” continua contribuindo para a equipe, com médias (na última temporada) de 13.3 pontos, 4.7 rebotes. Para além dos números, a experiência de um jogador com mais de 25 anos de carreira é decisiva para ser a figura de liderança da equipe.
Já sobre Andrezão, Jaú destacou o forte entrosamento do camisa 23 com o ala de 45 anos como uma de suas principais características. “Ele faz uma dupla muito boa, ele e o Alex, em uma situação de jogo pick’n’roll, por exemplo. Os dois se entendem muito bem”.
No dicionário do Bauru Basket, a palavra protagonista tem nome e sobrenome: Dontrell Brite. O norte-americano liderou a equipe na última temporada, com médias de 20.2 pontos, 3.5 rebotes e 4.3 assistências, sendo eleito o MVP (jogador mais valioso) do NBB 24/25.
No entanto, o “Flash” desfalcou o Dragão no começo das competições 25/26, pois estava atuando pela equipe mexicana Diablos Rojos desde junho. Para Beagá, a ausência do camisa 3 foi sentida pela equipe bauruense no Campeonato Paulista e na Liga Sul-Americana, onde o time não apresentou bons desempenhos e acabou sendo eliminado nas oitavas de final e na primeira fase, respectivamente.
Com o retorno do americano cada vez mais próximo, o cenário do Bauru Basket na temporada é otimista. “Em novembro, o Brite vai estar aí, e com a configuração do time, com o time treinando, em uma temporada regular de NBB com 38 jogos. Isso é algo que vai moldar a equipe”, conclui o jornalista.
