Com a direita dividida, a queda de Bolsonaro abre espaço para luta por protagonismo na corrente política
Por Gabriel Passarin 

Em 22 de outubro, o ex-presidente Jair Messias Bolsonaro foi condenado a 27 anos e 3 meses de prisão após decisão da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF). Após esta decisão, especialistas esperam por uma disputa entre políticos da direita brasileira para assumir o posto de Bolsonaro na vertente política. 

Isto porque, após a condenação de Jair Bolsonaro, a direita brasileira se encontra sem uma figura central para a corrida eleitoral que se aproxima. Após as decisões do Supremo no julgamento do ex-presidente. O Brasil vê surgir novos nomes para assumir o protagonismo deixado por Jair Bolsonaro e herdar seus apoiadores fascinados. 

Segundo Jefferson Oliveira Goulart, doutor em Ciências Políticas e professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp), nos anos após o impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff, Bolsonaro emergiu como a principal figura de liderança para a direita conservadora e extremista no Brasil e agora, após a decisão de inelegibilidade pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), é de se esperar um conflito para assumir o que antes era o lugar do ex-presidente. “Há uma rivalidade entre os que estão muito interessados em capturar o espólio deste patrimônio eleitoral do bolsonarismo”, afirmou o professor. 

Hoje a extrema direita do país vive um conflito crescente na escolha de um grande nome para substituir Bolsonaro nas próximas eleições. O poder acumulado por anos pelo ex-presidente é foco de diversos políticos e partidos da direita extrema e moderada, o que pode vir a causar, segundo o professor Goulart, a impossibilidade de unanimidade na escolha de apenas um nome para as eleições e um cenário disruptivo na corrente política, ocasionando em diversos candidatos e na confluência de votos. 

A principal escolha, segundo Jefferson Goulart, é o atual governador do estado de São Paulo, Tarcísio de Freitas, do Republicanos. Nome que já foi considerado pelo presidente do PL, Valdemar Costa Neto, como o “número 1 da fila” para receber o apoio do partido nas eleições de 2026.  Em entrevista à GloboNews, o chefe do Partido Liberal reforçou que Tarcísio deve assumir o posto de favorito diante da inelegibilidade de Bolsonaro. Entretanto, o cenário político para a candidatura de Tarcísio não é perfeito, já que o apoio de Bolsonaro e seus seguidores não é considerado uma certeza absoluta. As últimas pesquisas do Instituto MDA,  calculam uma derrota de Tarcísio para o atual presidente Lula em um possível segundo turno em que o governador de São Paulo receberia apenas 37,6% das intenções de votos, enquanto o líder petista projetaria 43,9% dos votos para si. 

Além disso, Tarcísio vive diversas intrigas com outros fortes candidatos a assumir o posto do ex-presidente. O maior choque até o momento é o caso com Eduardo Bolsonaro, que, junto à esposa de seu pai, Michele Bolsonaro, e outros membros da família, reivindicam que essa liderança seja ocupada por eles próprios. Em troca de mensagens com o pai, Eduardo Bolsonaro demonstrou sua insatisfação com o governador, dizendo que ele “não é a solução” e, com isso, unido ao seu papel de oposição ao governo atual e com conversas diretas com o governo estadunidense, demonstra acreditar que a herança do Bolsonarismo deve ficar entre a família. 

Com a rixa entre a família de Bolsonaro e Tarcísio de Freitas, outros nomes que surgem para uma possível candidatura nas eleições de 2026 são os do governador de Minas Gerais e Goiás, Romeu Zema (Partido Novo) e Ronaldo Caiado (União Brasil), que demonstraram uma ascensão como representações da direita brasileira, mas que também demonstram ficar para trás do atual presidente em uma possível candidatura no próximo ano, segundo pesquisas do Instituto MDA. 

A união de todos estes fatores com a queda de popularidade do movimento pró Bolsonaro acarreta na pluralidade de nomes dispostos a lutar pelos restos deixados por Jair após sua condenação. Segundo o professor Jefferson, o Brasil vive um cenário de disputas que dificulta este único nome. “Hoje vivemos um cenário de muita indefinição, derivado de uma conjuntura muito dinâmica de acontecimentos, que nos últimos meses vem causando um forte desprestígio da figura do Bolsonaro, do movimento bolsonarista e da direita, que fez com que as prospecções que se fazem, embora ainda muito prematuras, indiquem uma dificuldade em posicionar essa liderança em torno de uma única candidatura”, disse o professor. 

Professor Jefferson Goulart | Foto: Arquivo Pessoal

O acadêmico também afirmou que uma eleição necessita de uma confluência de características e que as diversas disputas no meio enfraquecem a nomeação de um sucessor. “Uma eleição é uma disputa política eleitoral, ela sempre tem que considerar o conjunto dos participantes e isso tem confluído para o cenário com maiores dificuldades que vem se desenhando para a direita. Isso tudo nos leva a crer que essa composição está cada vez mais comprometida”, afirmou Jefferson. 

O professor nos explicou que a chamada “Nova Direita” é construída por uma base carismática, nacionalista e religiosa em diferentes partes do mundo. No Brasil, Jair Bolsonaro fez questão de solidificar sua base de apoiadores por seus valores conservadores, gerando a aclamação carismática necessária para se alcançar o cargo mais alto da política no país. Entretanto, figuras como Tarcísio de Freitas, Eduardo e Michele Bolsonaro, além de outros nomes de relevância, não possuem o reconhecimento popular necessário para centralizar os votos da direita no país, levando a um conflito. “A disputa presidencial necessita preencher alguns requisitos; é necessária a união de um contentamento popular que atravessa vários segmentos e estratos de classes sociais, junto a uma favorável opinião pública. É uma coalizão de características que ainda não vimos em um suposto sucessor”, afirmou o professor. 

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