Mudanças na vida acadêmica e psicológica dos jovens após a proibição do uso de celulares nas escolas
Por Maria Clara Rebustini

A estudante do ensino médio Júlia Jorgina Mônaco Pintanelli. Foto: Arquivo pessoal

Desde o início desse ano, entrou em vigor a lei nº15.100/2025 que restringe o uso de celulares durante aulas e intervalos, para que os alunos possam se concentrar nas atividades diárias e interagir com outras pessoas. O uso ainda é permitido para fins pedagógicos com autorização do professor e para casos de acessibilidade, saúde e segurança.

A norma foi aprovada pelo Congresso Nacional com o objetivo de salvaguardar a saúde mental, física e psíquica de crianças e adolescentes, diante da usual utilização de celulares por parte dos estudantes durante o período de estudo nas salas de aula e nos momentos que deveriam ser destinados à socialização, como recreio ou intervalos entre as aulas.

Perante isso, quando circularam notícias explicando a lei, como e quando seria colocada em uso nas escolas, houve grande repercussão nas redes sociais. Muitos alunos demonstraram insatisfação nas redes, gravando vídeos e postando mensagens relatando suas infelicidades. Ocorreu muitos burburinhos nas escolas e reclamações entre amigos sobre essa decisão.

A lei entrou em ação no começo do ano, com mudanças nas escolas e na rotina dos alunos, trazendo um novo comportamento na vida acadêmica dos jovens.

Ouvindo os alunos

Diante dessa situação, para melhor entendimento da opinião dos estudantes nessa mudança, a aluna do terceiro ano do ensino médio, em Jaú, Júlia Jorgina Mônaco Pintanelli fala um pouco sobre as primeiras sensações ao descobrir sobre a lei.

“A primeira impressão que tive foi de desespero, pois já estávamos acostumados a utilizar o celular no dia a dia”, relata a mesma. A era da tecnologia é muito presente atualmente, principalmente na vida dos jovens, o sentimento de desespero esteve presente durante essa mudança de rotina.

Fica nítido o quão imerso nas tecnologias a sociedade atual está, até mesmo para estudos.

“Já estávamos acostumados a utilizar as plataformas digitais no dia a dia, tanto para fazer atividades ou pesquisas, como forma de distração durante os intervalos”, Júlia conta.

Existiam muitos relatos e reclamações de professores sobre alunos que, durante as aulas, ficavam utilizando o celular de forma indevida. Para Júlia, ela não tinha problemas de uso “O celular não interferia no meu foco, pois eu sabia distinguir os momentos de uso, utilizando em disciplinas que eram necessárias, evitando pegar nele”.

Já nos intervalos, de acordo com a pesquisa feita por agência Brasil, 44℅ dos alunos dizem sentir mais tédio durante os intervalos.

Para Júlia, os intervalos mudaram um pouco.“A interação social entre os alunos aumentou, hoje entendo que essa mudança foi boa para alguns e ruim para outros, que acabaram ficando mais isolados”, diz.

Júlia explica que os intervalos agora estão até mais longos. “Tirar ele -celular- só fez o intervalo parecer mais longo e sem graça”.

Ela fala que alguns alunos durante o intervalo dormem, jogam vôlei, pingue-pongue e pebolim e relata que estava acostumada a usar o mesmo nos seus intervalos, como uma válvula de escape “A gente já estava acostumado a usar o celular o tempo todo, principalmente para se distrair, ouvir música, conversar com amigos ou ver as redes sociais”

Júlia reclama também que “agora, sem ele, parece que o tempo não passa, tudo fica meio parado e entediante”.

Por fim, ela desabafa sobre a falta do celular nos intervalos “fica chato e cansativo, porque o celular ajudava a distrair a cabeça”.

Júlia também acredita que a tecnologia veio para ajudar nos estudos. “pessoalmente, acho que a tecnologia veio para ajudar na sala de aula e, proibir o uso de celular acaba atrapalhando o aprendizado ao invés de melhorar”, finaliza.

O fator psicológico da mudança

A psicóloga Brena Leandra dos Santos Gonçalves, de 45 anos, explica um pouco sobre os efeitos psicológicos desta mudança nos jovens. “Segundo pesquisadores, o uso excessivo de telas afeta o emocional, cognitivo e o social do jovem. Em um lugar que se use todos esses elementos como a escola, isso gera dificuldades para utilizar essas habilidades”, explica.

Ela fala que a melhor forma de utilizar as telas é com acompanhamento de uma psicopedagoga, para elaborar estratégias, orientando o adolescente, pais e até educadores a um uso não prejudicial.

Para os estudos, o uso das telas afeta majoritariamente de forma negativa. Ela explica que “os principais aspectos relacionados ao uso abusivo de telas podem interferir nas interações sociais e danos cognitivos”. Ela explica também que essa exposição extrema dificulta que os jovens estudantes consigam resolver problemas relacionados as matérias a serem estudadas e entender a matéria a ser explicada ao mesmo.

“A proibição do uso de celular em sala de aula pode melhorar os resultados acadêmicos e cognitivo dos jovens, pois reduz a distração e o baixo desempenho, além de incentivar a interação social”, completa. Ela também relata que “ao eliminar a distração dos celulares, os alunos conseguem se concentrar mais nas aulas”.

Brena conta que “sem o celular para usar nos intervalos, existe uma chance maior de que os alunos conversem uns com os outros, fortalecendo relações interpessoais e a comunicação”.

Com a proibição dos celulares, os resultados acadêmicos têm mostrado grande melhora. De acordo com uma pesquisa feita pela Folha de São Paulo, no dia 24 de setembro de 2025, diz que 83% dos alunos sentem melhora no foco nas aulas.

A psicóloga Brena Leandra dos Santos Gonçalves. Foto: Arquivo pessoal

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