Por Davi Martins

Olavo Luiz Pimentel de Carvalho, autodenominado, cristão, conservador, ex-comunista e filósofo, foi um dos precursores da radicalização política no Brasil, com um crescimento exponencial de adeptos da extrema direita, principalmente após 2013. O “Guru do Bolsonarismo”, como era chamado, segue como um dos maiores embasamentos teóricos da extrema direita brasileira. Sua linguagem, enriquecida de palavrões e deboches, cativou adeptos desde o lançamento do seu livro O Imbecil Coletivo (1996). Além do mais, a relação íntima entre ele e a família de Jair Bolsonaro culminou no surgimento de uma direita que importa conceitos norte-americanos e tenta forçá-los no contexto brasileiro atual.

Olavo se mudou para os Estados Unidos em 2005, morou no país até seu falecimento em 2022, vindo para o Brasil em visitas pontuais, para tratar de questões como a saúde.  Durante seu período de estadia, utilizou das redes sociais, principalmente o YouTube, como pontes emissoras de seus achismos e ensinamentos para um público que o encarava como “professor” ou “mestre”. Nunca concluiu nenhuma formação acadêmica de fato.Em entrevista, o Professor André Albino disse que Olavo era muito influenciado pela visão norte-americana de inimigo interno. Este ponto o fazia dialogar diretamente com a extrema-direita dos anos de ditadura no Brasil, que foi construída a partir dos pensamentos anti comunistas norte americanos. “No Estado Novo, a criação de um inimigo interno, a partir do levante comunista, que foi chamado de intentona comunista, vai dar margem para uma extrema direita”  diz Albino  “Olavo de Carvalho é muito importante na divulgação disso. A partir dele, a palavra comunista, para tudo, vai se difundir”, completa.

Professor André Albino durante entrevista ao Jornal Contexto

Sua relação com a família Bolsonaro começou em 2012, quando o deputado Flávio Bolsonaro, entusiasta na obra de Olavo, foi até os EUA entregar-lhe a Medalha de Tiradentes, medalha de mais alta condecoração no âmbito fluminense, destinada a premiar pessoas e entidades que prestaram relevantes serviços à causa pública do estado do Rio de Janeiro. O ex-presidente e Olavo tinham os mesmos interesses, e mantinham contato frequente desde 2014 via internet. Sua importância para a família se dá por conta de sua influência filosófica, explicando o título de “guru do bolsonarismo”. O deputado Eduardo Bolsonaro, em entrevista para a Rede Tv! em 2019, admitiu que (Olavo) “É nossa referência filosófica”

André comenta que Olavo também foi responsável por criar amálgamas entre capitalistas e comunistas, criando um mundo conspiracionista, onde fundamentos conflitantes podem se unir. Assim como foi responsável por difundir a ideia do anti-globalismo. “Um pupilo do Olavo de Carvalho, o Ernesto Araújo, assume a política externa brasileira e a visão anti-globalista é a tônica da sua gestão” comenta André. “A luta contra a ideia de que muitas nações Que é mais ou menos uma ideia da origem da ONU”, afirma.

Além de defender ideias norte-americanas, Carvalho fez parte de encontros marcantes em solo estadunidense, um desses sendo um jantar em Washington, em 2019 onde sentou ao lado do então embaixador brasileiro Sérgio Amaral, de Jair Bolsonaro, Paulo Guedes e Steve Bannon, ex-estrategista das campanhas eleitorais de Donald Trump e grande apoiador americano de Bolsonaro.

Bolsonaro e os Estados Unidos
O relacionamento com Steve Bannon foi uma alavanca para a eleição de Bolsonaro em 2018. Bannon é pioneiro no uso de redes sociais na divulgação política. André diz que quando Bannon se encontrou com Eduardo e Jair Bolsonaro  ele prometeu ajudar na campanha. “Todos (a equipe de divulgação de Bolsonaro) eram mais ou menos semi-analfabetos nessa linguagem. E Bolsonaro bomba naquela eleição.”

Durante a pandemia, Bolsonaro se apoiou nas decisões de Trump para lidar com a Covid-19, alegando que a doença era uma “gripezinha” em um de seus discursos mais marcantes. O ex-presidente também chegou a fazer viagens para os EUA no período de investigação sobre uma possível fraude de sua carteira de vacinação.

Após perder as eleições de 2022 para Luiz Inácio Lula da Silva, surge mais um episódio marcante de seu governo: dia 30 de dezembro de 2022, o então presidente se negou a passar a faixa da presidência para o seu concorrente e viajou para os Estados Unidos. Similar à invasão do Capitólio em 2021, ocorreram posteriormente os ataques contra a sede dos três poderes no dia 8 de Janeiro de 2023. Bolsonaro sempre alegou que não teve envolvimento com os ataques.

Mesmo fora da presidência, fez discursos junto de seu filho Eduardo Bolsonaro na CPAC ( Conferência de Ação Política Conservadora), marcados por deboche sobre as presidências de Joe Biden e Lula “Lula da Silva é um dos comunistas mais perigosos no mundo”, disse Eduardo na CPAC de 2023. Albino aponta os encontros na CPAC como uma espécie de contradição “A extrema-direita é tremendamente nacionalista. E, ao mesmo tempo, tem essa ideia de um internacionalismo.” comenta Albino.

Eduardo Bolsonaro utiliza frequentemente suas redes sociais, principalmente o X(antigo twitter) para compartilhar seus ideários. Em 9 de julho fez uma publicação agradecendo a imposição da Lei Magnitsky contra Alexandre de Moraes “Make Brazil Free Again” faz referência ao movimento Make America Great Again(Maga – Faça a América boa novamente), um dos jargões mais utilizados por Trump durante sua candidatura e período eleitoral. “ Quando você não consegue dar o seu golpe, você apela para golpes vindo de fora”, diz André, sobre a busca de intervenções norte-americanas. “No Brasil, a extrema-direita não tem tanto nacionalismo. hoje nós temos é algo um pouco ambíguo”, complementa.

Print da rede social X de Eduardo Bolsonaro

“Obrigado presidente Trump – Faça o Brasil livre novamente – nós queremos magnitsky”

Desde fevereiro, Eduardo se mantém isolado nos Estados Unidos. São sete meses fora do país, sem ter participado de 27 das 42 sessões parlamentares, mais de 60% de ausências não justificadas. O Conselho de Ética arquivou o pedido de cassação por quebra de decoro parlamentar nesta quarta (22). Parlamentares do PT recorrem contra a ação do conselho.”A figura do Eduardo se abalou muito com a ida aos Estados Unidos, sobretudo agora, com a possibilidade de um acordo comercial com Lula e Trump. Então, realmente, o Eduardo Bolsonaro fica muito escanteado”, Albino conclui.

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