Como o uso desacompanhado de anabolizantes influencia a saúde física e mental dos indivíduos.
Por Rebeca Mattos
O uso de anabolizantes deixou de ser um tema restrito somente a atletas de alto rendimento e fisiculturistas profissionais. Nas academias, em conversas informais e até mesmo nas redes sociais, esse conceito ganha destaque como uma espécie de “atalho” para se conquistar o corpo dos sonhos. No entanto, junto com o ganho de massa muscular e resultados estéticos mais acelerados, os riscos à saúde física e mental também crescem. A pressão por um corpo ideal, junto à facilidade de acesso a esses produtos, muitas vezes de maneira clandestina, trazem diversos danos aos seus usuários.
De acordo com levantamentos recentes, houve um aumento de cerca de 670% nas vendas de anabolizantes no país nos últimos cinco anos. Foi constatado ainda, que um em cada 16 estudantes no Brasil já utilizou dessa substância. O número mostra que, de 1996 até os dias atuais, houve um aumento de 39% no uso de anabolizantes entre os estudantes do nível fundamental, 67% entre os do ensino médio e 84% entre os do último ano do ensino médio.
Os anabolizantes são desenvolvidos a partir da testosterona, um hormônio responsável pelo desenvolvimento de características masculinas. Em clínicas, podem ser utilizados em tratamentos médicos como casos de perda severa de massa muscular ocasionada por doenças crônicas. Porém, fora desse contexto, o uso não supervisionado por especialistas capacitados gera muitos riscos, como alterações no coração, fígado e até mesmo no humor. Entre os efeitos mais relatados, é possível destacar a irritabilidade como um dos principais efeitos colaterais.
Pressão estética e redes sociais
A busca por resultados rápidos não acontece por um acaso. As redes sociais, com os ideais de corpos padronizados, ampliam a ideia de que é preciso atingir determinados padrões de beleza. Esse fator possui grande influência e impacto na autoestima, especialmente de jovens, que associam a aparência física à aceitação social, e se sentem pressionados a buscar a “perfeição” para se encaixarem no meio em que convivem, tomando decisões com base em publicações e informações sem veracidade.
“Existem erros alimentares na população que quer ganhar massa muscular, principalmente por conta das redes sociais, da falta de informação de um profissional”, aponta a nutricionista Rosana Minatel.

O resultado dessa pressão é o aumento do consumo irregular de suplementos que prometem ganhos rápidos, sem que o usuário tenha noção das consequências causadas por esse uso. Em muitos casos, a rotina junto com dietas extremamente restritivas, treinos pesados e a constante comparação contribuem para o surgimento de transtornos alimentares e emocionais, como ansiedade e depressão.
“As pessoas acabam apelando por suplementos nutricionais sem prescrição de um profissional, e às vezes nem precisam dessa suplementação, poderiam atingir a recomendação diária somente com a alimentação mesmo” destacou a especialista.
Ao conversar com um usuário de anabolizantes e esteróides, foi possível entender um pouco mais sobre suas motivações, principalmente ao se tratar da pressão estética com o próprio corpo e o impacto causado em sua percepção sobre si mesmo.
“Sempre busquei resultados mais rápidos… Chegou num ponto que eu queria sempre mais, comecei a pegar mais pesado nos treinos e a usar coisas pra ter resultados mais rápidos, daí comecei a incluir coisas mais pesadas, aí eu percebi que chegou uma hora que eu tava tomando pra ir numa balada”.
Do corpo ao comportamento
As mudanças provocadas pelo uso de anabolizantes não ficam somente no aspecto físico. A alteração nos níveis hormonais possui impacto direto no comportamento e no equilíbrio emocional. Há relatos de usuários que sofreram episódios graves de estresse, irritabilidade e constante instabilidade de humor.
“O que mudou muito foi meu comportamento, de estresse, aumentou muito. Teve alguns anabolizantes que eu tomei que me deixaram sequelas de estresse por um bom tempo” afirma entrevistado.
Além disso, estudos indicam que o uso, a longo prazo, pode resultar em uma dependência psicológica. A pessoa, ao notar os efeitos causados no corpo, sente dificuldade em cessar com o consumo por medo e insegurança de perder os resultados atingidos. Essa relação de dependência traz à tona um ciclo vicioso, pois quanto maior o consumo, maior os danos e a dificuldade de interromper o uso.
Um problema presente nas academias
Apesar da gravidade, ainda há certa banalização ao se tratar do assunto em ambientes como academias. O tópico em questão, muitas vezes, é tratado como algo “normal”, onde instrutores e colegas incentivam o uso, propagando-o como parte do processo de ganho muscular e apoiando novos praticantes a ingressar nesse meio.
“Comecei a andar com pessoas que pegavam mais pesado, e como eu já tava no meio dessas pessoas que usavam, comecei a criar curiosidade.” disse fonte ao ser questionado sobre como iniciou o uso de esteroides.
Ao ser perguntado sobre o acesso a tais medicações, disse que: “Já que ficava junto com gente que usava, então tive um acesso fácil pelo mercado negro”
É válido ressaltar que a falta de políticas públicas específicas contribui para o avanço do problema, sendo importante que campanhas que conscientizem os riscos causados pelos anabolizantes, que circulam não somente no mercado médico e lícito, como no mercado clandestino, sejam proporcionadas para a população, com o propósito de expor os prejuízos que acompanham a utilização desses hormônios.
Consequências a longo prazo
Apesar dos efeitos positivos, como aumento de força e volume muscular com imediatismo, os danos costumam surgir com o tempo. Problemas cardiovasculares, disfunções hormonais e falência hepática fazem parte dos riscos que podem vir à tona a longo prazo. Quanto à saúde mental, a ansiedade e depressão podem se intensificar, impactando diretamente na qualidade de vida.
Outras alternativas
Para enfrentar essa questão, é fundamental que haja conscientização. Informar a sociedade sobre os riscos reais do uso de anabolizantes é indispensável para reduzir sua procura e consumo. É também essencial incluir suporte psicológico e médico para os que já fazem uso e estão dispostos a interromper com a prática. Campanhas e projetos de saúde em lugares como academias e rodas de conversas sobre padrões de beleza e pressão estética, podem ser alternativas que cooperem para diminuir o uso dessas substâncias.
Cada pessoa lida de uma forma única diante da promessa de resultados rápidos. Mais do que a melhora do físico, os anabolizantes expõem uma realidade de vulnerabilidade física e emocional, que precisam ser discutidas com seriedade e de maneira frequente. A busca pelo corpo ideal, quando colocada acima da saúde, pode cobrar um alto preço, e muitas vezes trazer consequências irreversíveis.
