Surgido em 2008 em uma escola australiana, o termo ‘Educação Positiva’ se refere a uma abordagem de educação parental baseada em uma relação de respeito e confiança, sem usar de artifícios como medo, envergonhamento e chantagem emocional
Por Raquel Mezavila Xavier
A Educação Positiva é uma abordagem de educação parental que prioriza o vínculo, o respeito e limites firmes com acolhimento. Baseada em evidências da neurociência, tem como foco o desenvolvimento de habilidades socioemocionais, substituindo punições por consequências educativas. Esse tipo de educação promove a segurança emocional pelo reconhecimento das emoções e a comunicação com calma.
O termo ‘Educação Positiva’ surgiu no início de 2008 em uma escola australiana, que foi a primeira no mundo a implementar os princípios da Psicologia Positiva, a teoria por trás da abordagem. Mas foi apenas nos últimos anos que esse modelo ganhou visibilidade e se difundiu nas redes sociais.
Com a vinda desse tema para a internet, houve o aumento do acesso das pessoas para esse tipo de educação, que justamente quebra o padrão da educação tradicional que é marcada pelo autoritarismo e por uma forte hierarquia.
Essa difusão gerou não só visibilidade para a metodologia, como também uma certa confusão com a educação permissiva, que se diferencia por não impor limites e ser passiva sobre as ações que devem ser corrigidas.
A desinformação sobre a Educação Positiva trouxe muita crítica para o modelo e para os profissionais que a utilizam, os educadores parentais por exemplo, questão que se refletiu nas salas de aula e trouxe o debate entre pais e educadores.
Maya Eigenmann, neuropedagoga, sócia e professora da maior escola que forma profissionais em Educação Positiva, a Escola da Educação Positiva, e autora do livro “A raiva não educa, a calma educa” pontua que o título deste é o resumo do que é esse universo.

“A diferença da Educação Positiva para a educação tradicional é que nós nos relacionamos com as nossas crianças a partir de uma relação de respeito e de confiança, sem usar de artifícios como medo, envergonhamento, chantagem emocional, para educar. Nós sustentamos limites sim, só que sem estupidez, sem grosseria e com muito respeito”, diz Maya.
A neuropedagoga afirma que existe, de fato, uma grande confusão entre as pessoas ao confundir a Educação Positiva com a educação permissiva, mas o motivo disso está nas consequências da educação tradicional.
“A educação tradicional sempre foi pautada numa hierarquia na qual existe um que manda e um que obedece. Como nós viemos desta que faz com que a gente pense muito 8 ou 80, preto no branco, onde só existe a polarização, as pessoas não conseguiam vislumbrar uma alternativa, senão a criança estar mandando no adulto”, aponta.
Os limites devem ser impostos de maneira respeitosa e com gentileza, mas muitos pais têm dificuldade nessa questão pois ainda possuem a mentalidade da educação tradicional da obediência pelo medo.
“O adulto que vem da educação tradicional acha que ele deve adestrar, que ele deve falar só uma vez e a criança vai juntar as mãozinhas e falar ‘obrigada por mandar eu desligar a televisão’. Mas aí eu sempre explico que o que os adultos querem é adestramento, não é educação. Para educar, aí precisa de tempo, disponibilidade, repetir muitas vezes, se regular, mas não é todo mundo que está disposto a fazer isso”, finaliza Maya.
Eigenmann ainda explica que enxerga uma abertura para esse novo método de educação parental não somente nas novas gerações, mas também nos adultos que revisitam sua própria história e querem ser diferentes com seus filhos.
“Eu vejo que essa mudança também ocorre na esfera dos adultos, adultos que estão revisitando a própria história, que estão desconstruindo preconceitos, que estão buscando essa evolução, esse autoconhecimento, para serem adultos melhores para os seus filhos”, diz.
A esfera institucional, a escola, é um ambiente que se escancara muitas questões sociais e a própria educação imposta pelos pais. Mas antes de observar os alunos, Maya reforça que é necessário rever o próprio curso da Pedagogia.
“Eu sou formada em pedagogia e aprendi a ensinar a ler, escrever, fazer conta… mas acolher uma criança fazendo birra, não estudávamos isso. O cérebro, as mudanças do adolescente em sala de aula, não estudávamos também. Então devemos rever a formação como um todo para que o professor chegue na escola com mais conhecimento no âmbito neurológico e emocional dos alunos”, aponta.
Nessa falta de conhecimento no âmbito neurológico observada por Maya, ela reforça que é nesse momento que entra o educador parental, o profissional da Educação Positiva que faz a ponte entre família e escola.
“O educador parental entra realmente para ser o que vai dar o suporte, seja para os professores encontrarem formas de se regularem no dia a dia da escola e de trazer essa informação para ele, de apoiar as famílias que estão com dúvidas e perdidas em relação ao desenvolvimento infantil, então de estruturar esse suporte mesmo”, completa.
Como uma forma de mensagem para os pais e educadores, Eigenmann reflete sobre a importância do constante estudo sobre a educação, tanto a parental quanto a institucional, pois está aí o futuro da sociedade.
“Talvez a maior mensagem que eu sempre compartilho, da ‘raiva não educa, a calma educa’. Entender que na hora que estamos desregulados, e isso vai acontecer com frequência, não é hora de abrir a boca. Não só com as crianças, com nenhuma pessoa. Quando estamos desregulados, precisamos cuidar do que estamos sentindo, e nós não fomos ensinados a fazer isso. Fomos ensinados a resolver as coisas no supetão, ou ‘engole, engole, engole’ até explodir. Para a criança, é muito pesado lidar com a raiva dos adultos”, finaliza Maya.
Rosilma dos Anjos, professora aposentada da rede municipal de São Paulo, formada em pedagogia e pós graduada em psicopedagogia, explica como a educação passa por mudanças de acordo com a mudança das gerações.

“No começo dos anos 80 surgiu uma estudiosa, e ela começou a pesquisar como o aluno aprende a ler, qual o processo de ler e escrever. O nome dela é Emilia Ferreiro, ela veio e pôs tudo por água abaixo sobre o método que usávamos antes. E isso causou uma confusão na sala de aula, porque muitos não aceitavam e não entendiam. Esse novo tipo de aprendizagem que a Emilia Ferreiro trouxe mostra que você tem que ouvir a criança e que o burburinho da classe faz parte da aprendizagem”, explica.
Rosilma completa dizendo que o aluno constrói seu entendimento conversando, discutindo, e que o questionamento e a atenção para cada aluno são necessárias para a educação. E assim, ao longo dos anos, se mostra que a evolução assusta.
“Quando me tornei coordenadora, entrei em contato com outra maneira de trabalhar sobre a resolução de conflitos dentro de sala de aula, que é estimular o diálogo, a empatia, a responsabilidade e como reparar as relações. A resolução de conflitos e o entendimento do processo dos alunos é essencial para manter o ‘controle’ da sala de aula”, completa.
A proximidade com o aluno foi uma evolução ao longo dos anos, pois a sociedade muda e a escola acompanha essa mudança, tendo em vista também o método de educação aplicado na maioria dos lares.
“Antigamente, o respeito era obedecer, ficar quieto, não discutir. A própria maneira de se relacionar com os mais velhos, a tecnologia… são fatores de evolução. Tudo isso trouxe mudanças, e mudanças para melhor. É necessário encontrar o equilíbrio na sala de aula, pois é preciso individualizar para o que cada um precisa, mas trazer para o coletivo”, completa.
Rosilma ainda diz que acredita que a abordagem da Educação Positiva seja uma das melhores hoje, pois ela enxerga o aluno como um todo.
“A grande falha da educação também é achar que ele é apenas aluno, sendo que dentro do aluno está o filho, o cidadão, e todas as outras facetas. Nosso comportamento deve mudar de acordo com as situações, mas quando temos clareza disso, e é papel da escola trazer essa perspectiva”, diz.
Ela finaliza falando sobre o importante papel dos educadores em acolher, além de educar, tendo em vista os recortes sociais de privilégios na sociedade atual.
“Eu preciso ajudar o aluno sem esquecer do meu papel fundamental de educar, que é o papel principal da escola. Mas ninguém aprende com fome, ansioso, ou sofrendo qualquer tipo de questão, que deve ter a atenção da escola também”, finaliza Rosilma.
A Educação Positiva deve ser estudada com fontes confiáveis, pois há muita desinformação nas redes sociais sobre esse assunto. Analisar e entender as formas de educação, tanto nos lares como nas salas de aula, e como aplicá-las de maneira correta é essencial para um futuro com adultos responsáveis e íntegros.
