Para especialista, falta educação ambiental no Brasil
Por Willian Polix

Luciane Martins de Araújo | Foto: Divulgação

A COP 30, que ocorrerá este ano, em Belém, PA, é importante principalmente para nós brasileiros, por ser a primeira realizada no Brasil e busca chamar a atenção para os problemas da floresta amazônica, mas o interesse maior é estabelecer formas de ação para tornar o Acordo de Paris efetivo, para que assim os países cumpram seus compromissos de redução de emissão de gases do efeito estufa.

O Acordo de Paris completa dez anos em 2025. No entanto, nesse período, grande parte das nações não conseguiu atingir suas metas climáticas, conhecidas como NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas). Entre os fatores que explicam essa estagnação está a falta de engajamento social e de conhecimento sobre o tema. No Brasil, a questão ambiental ainda é pouco abordada pela mídia e raramente aparece nas pautas prioritárias do Congresso Nacional

Atualmente, a maioria dos brasileiros desconhece as causas e consequências das mudanças climáticas, mesmo que a educação ambiental esteja prevista em lei desde 1997 e na própria Constituição Federal de 1988, pelo artigo 225, que estabelece o direito de todos a um meio ambiente ecologicamente equilibrado.

Para a doutora em ciências ambientais Luciane Martins de Araújo, a lei auxiliou muito nestes últimos anos, mas não tem sido suficiente e o maior impacto na conscientização do público tem vindo por parte das redes sociais.

  “A lei que trata sobre a educação ambiental existe desde 1997. Ela é formal, dentro das escolas e em todos os níveis, e não formal, aquela que vemos em notícias ou nas redes sociais. No aspecto formal, avançamos muito nesses quase 30 anos. No entanto, ainda temos um estado de letargia geral, onde muitos ainda não se sentem parte do problema e nem da solução. Nisso as mídias sociais podem exercer um papel importantíssimo de conscientização”, explica a especialista.

A falta do conhecimento das pessoas sobre as pautas climáticas influencia diretamente nas decisões políticas. Sem cobrança popular, parlamentares e gestores públicos se sentem pouco pressionados a aprovar leis e projetos que tratem do tema.

A pesquisadora afirma também que caso houvesse mais engajamento do público provavelmente não estaríamos tão distantes das metas da COP 21 “Se houvesse um interesse e preocupação pelo tema das mudanças climáticas e houvesse uma pressão social para que os governos adotassem medidas para mitigar a emissão de gases de efeito estufa e buscassem soluções também relacionadas à adaptação climática, não estaríamos na posição atual”, avalia Luciane.

Luciane complementa apontando a falta de compromisso dos países que deixaram de cumprir suas metas e como isso tem prejudicado e muito o planeta.

“Uma série de metas e compromissos assumidos pelos países, porém a maior parte deles tem, reiteradamente, deixado de cumprir esses compromissos. Isso resultou que, em 2024, o mundo batesse o recorde de emissão de gases de efeito estufa, o que tem provocado alterações climáticas por todo o planeta, conforme apontou, recentemente, a Organização Meteorológica Mundial (OMM)”.

Entre as consequências observadas estão o aumento da frequência e intensidade de eventos extremos, como secas, enchentes e ondas de calor. No Brasil, esses fenômenos já afetam a produção agrícola, a saúde pública e o abastecimento de água. Especialistas alertam que, sem mudanças profundas, esses impactos tendem a se intensificar nas próximas décadas.

Para Luciane Araújo os governos se veem acomodados com a falta de pressão pública. “Se essa fosse uma preocupação da sociedade e se essa preocupação exercesse pressão sobre os governos, eles governos não estariam tão displicentes e acomodados em não cumprir os com promissos assumidos voluntariamente, desde 2015”.

Luciane reforça que falar sobre mudanças climáticas é um passo essencial para que a população se sinta parte da solução. “Falar em mudanças climáticas significa mudar nossos padrões de consumo, pensarmos em produção sustentável, de bens duráveis, para reduzirmos também o seu descarte, reduzir os índices de desmatamento, fazermos o consumo consciente de água, dentre outros fatores”, afirma.

Com a chegada da COP 30, o Brasil tem a oportunidade de mostrar ao mundo não apenas sua riqueza ambiental, mas também os próximos passos para a cuidar do planeta. Para que isso aconteça é preciso fortalecer a educação ambiental e o engajamento social. Sem essa base, qualquer meta climática corre o risco de permanecer apenas no papel.

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