Entenda o fenômeno que gera profundas transformações no corpo feminino
Por Beatriz Malheiro
A menopausa é, de maneira sucinta, a última menstruação da mulher. Ela é conhecida comumente pelo período que envolve todas as alterações hormonais que antecedem a incapacidade de se reproduzir. Este momento tem o nome de climatério, porém o processo de perda da capacidade reprodutiva começa aproximadamente 2 anos antes da última menstruação, durante a perimenopausa.
A visão de uma profissional da saúde
Bruna Oneda, mestre e doutora em Medicina pela Universidade de São Paulo (USP), explica que todos os sintomas que acompanham o climatério são um produto da deficiência de hormônios; tanto o famoso calorão, quanto o cansaço, a insônia, a indisposição, a falta de libido e muitos outros.
“Antigamente, acreditava-se que os hormônios agiam só no sistema reprodutor feminino, mas hoje a gente sabe que a falta do estrogênio age em muitos lugares e, por isso, há vários sintomas”, explica. E complementa dizendo que o calorão é o sintoma que costuma anunciar o climatério para as mulheres, “Geralmente, se descobre que está nessa fase pelo calorão, que afeta 80% das mulheres passando por este processo”.
A médica explica também que existe no SUS (Sistema Único de Saúde) todo um suporte para as mulheres passando por essa fase. “Meu mestrado e meu doutorado 15 anos atrás foi no Hospital das Clínicas, e lá já tinha um ambulatório de ginecologia endócrina, onde profissionais específicos cuidavam de climatério”.
Para Bruna, o que acontece é que nem todos os médicos ginecologistas são especialistas em menopausa e climatério, mas acredito que hoje já tenha um direcionamento maior, um próprio olhar diferente dentro da rede pública, vendo que essa mulher precisa de cuidados específicos.
Sobre o tabu que ainda acompanha o tema da menopausa, Bruna explica que ele tem origem histórica, e tem a ver com a mudança da função feminina na sociedade desde o século XX até agora. “É muito recente esse falar de menopausa. A gente vê essas mulheres modernas, nós, que vamos ficar 30, 40 anos das nossas vidas no climatério”.
A médica explica que antigamente não era assim. “Sempre teve esse estereótipo de que a menopausa era o marco do envelhecimento da mulher. Tampouco se falava, as mulheres escondiam, não queriam tratar. E muitas vezes essa mulher era mais velha, já era avó, não estava mais preocupada com isso”.
Basicamente, por causa da inserção das mulheres no mercado de trabalho e do aumento da expectativa de vida, as que passam pela menopausa estão no auge de suas vidas. Assim, o tratamento do climatério tornou-se uma pauta mais debatida, pois promove uma melhor qualidade de vida e oferece o suporte necessário para que a mulher consiga arcar com todas as demandas de sua vida.
“Muitas atrizes famosas divulgaram que também estão passando por isso. Então acho que hoje se trata com mais naturalidade e mais gente busca mais soluções. Acho que tem um pouco de cada coisa aí”, diz a médica.
Para iniciar o tratamento, o ideal é que a mulher procure a ginecologia, pois assim o médico vai avaliar a situação dos hormônios e como está o aparelho reprodutor dela. A partir daí, vai ser decidido se a mulher vai passar ou não pela reposição de hormônios. “Existem mulheres que vão precisar e querer usar a reposição hormonal, que hoje é chamada de terapia hormonal, e existem mulheres que não necessariamente vão precisar e também não vão querer”, explica Bruna.
Uma mulher que não lida com sintomas muito agressivos pode precisar também da terapia hormonal. Isso acontece porque a reposição de hormônios também serve como profilaxia para algumas doenças. “Existem, por exemplo, algumas questões como a perda de massa muscular e de massa óssea que o uso de hormônios ajuda a retardar”, diz a médica.
Também, é importante que um estilo de vida saudável seja adotado durante esse momento. “Aquela mulher que tem um estilo de vida mais saudável, se alimenta bem, pratica exercício físico, ela vai passar esse período com mais tranquilidade”.
Mas vale lembrar que, assim como o tratamento hormonal deve ser individualizado, a prática de exercícios também deve ser. O correto é que cada mulher busque se adequar às necessidades de seu corpo de acordo com os limites dele. “Precisa de alguma forma começar exercício leve, tem que ser adequado também”, explica Bruna.
A menopausa sem tratamento
Gisele é uma mulher de 50 anos. Os sintomas da perimenopausa começaram aproximadamente em 2022, no final da pandemia, quando ela estava nos seus 48 anos. “Com 48 ficou claro. Ficou claro que era isso”.
No começo, ela não sabia exatamente o que estava acontecendo com o seu corpo. “Eu estava quase procurando um neurologista. Falei ‘acho que eu tô com sintomas de Alzheimer precoce’. Conversando com as amigas, eu falei, ‘gente, eu vou precisar de um neurologista, eu não consigo mais lembrar das palavras, no meio da minha fala, a palavra parece que vem até a ponta da língua e desaparece’”.
Foi através de conversas com amigas que também estão no climatério que Gisele entendeu de onde vinham os seus sintomas. “Aí, todo mundo começou a rir, ‘fica tranquila! Isso aí é menopausa’”.
Para ela, entre todos os sintomas que o climatério acompanha, a dificuldade em lembrar das palavras com rapidez é o que mais a afeta. “Esse é o pior. É o pior para mim. Parece que eu fiquei burra”.
Entre os sintomas, a insônia e perda de qualidade do sono também são um empecilho no cotidiano de Gisele, “Às vezes eu durmo tranquila, mas aí eu acordo, tipo, três e meia, quatro horas da manhã e não consigo voltar a dormir… E assim, meu sono é leve, ruim. Eu que adorava dormir até meio-dia, não consigo passar das oito e meia”.
O calorão, apesar de não ser o sintoma mais marcante do climatério para Gisele, a incomodou em dois episódios específicos. “Uma vez, no meio da noite, eu acordei e falei para o meu marido ‘você não está com calor?’ e ele falou, ‘não, não tô com calor’. Eu falei, ‘Mas eu tô morrendo de calor. Pelo amor de Deus, liga o ar-condicionado’”.
E a segunda, enquanto caminhava na rua. “E teve um outro dia que eu tive um de manhã, eu tava na rua, de repente parece que alguém tinha acendido uma fogueira no meu pescoço, tinha um calor pra cima, só que esse durou a manhã inteira. Não foi um fogacho, não foi uma coisa que durou um minuto, não, durou a manhã inteira”.
Gisele também relata certa dificuldade em organizar sua rotina. Ela explica que os sintomas de seu TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade) pioraram depois que ela entrou no climatério.
Diz que antes era capaz de se organizar sem o apoio de medicamentos, mas agora isso se tornou praticamente impossível, “Eu não sobrevivo. E mesmo medicada, eu ainda me perco, me embanano, ainda sinto que os sintomas estão piores do que já foram antes. Isso me incomoda muito, porque eu tenho que estar sempre atenta, eu tenho que ter agenda, mil alarmes”, conta.
Gisele faz acompanhamento com uma ginecologista e pretende começar a reposição hormonal logo.
A menopausa tratada
Andréia é mãe de três filhos e recentemente entrou no climatério. Ela conta que, no começo, a irregularidade de seu ciclo menstrual a fez pensar que estava grávida. “Estava pensando até que eu pudesse estar grávida, mas não estava, estava só começando a entrar na menopausa”.
“Comecei o tratamento tendo muito calor”, explica. Agora, com 45 anos, ela faz acompanhamento no posto de saúde do Jardim Europa a cada 2 meses.
Andréia acredita que o tratamento que ela faz alivia bastante os sintomas do climatério. “Antes era muito forte: o calor, os sintomas que eu sentia e que agora estão melhorando”.

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