Por Bianca Sarto e Cesar Forte | 30 de junho de 2025
Como projetos que vão desde a sala de aula até grandes empresas incentivam e transformam a educação no país.
O estudo sobre a qualidade da educação infantil, realizado pela Fundação Itaú Social com a colaboração do Movimento Bem Maior, em 2021, avaliou o contato com a escrita e leitura como um dos principais métodos a serem utilizados para promover a oportunidade de aprendizado entre as crianças. Porém, aponta que apenas 10% das turmas brasileiras avaliadas disponibilizam de fato o acesso livre a materiais de leitura.
A professora Pietra Zoéga atua no ensino fundamental há três anos e acompanha de perto os efeitos do hábito de ler entre seus alunos. “A leitura transporta, abre portas, cria mundos. Desde cedo, ela ajuda a criança a entender que há outras realidades além da dela”, pontua Pietra.
Com a proposta de estimular a leitura entre as crianças, em 2025, o Ministério da Educação (MEC) criou o Projeto Leitura e Escrita na Educação Infantil (Pro-LEEI). O programa tem como objetivo aprimorar a formação dos educadores infantis, visando implementar práticas pedagógicas mais eficientes, que promovam a leitura, a escrita e a linguagem dos estudantes.
Em conjunto do Compromisso Nacional Criança Alfabetizada — política pública que visa preencher a lacuna educacional brasileira, garantindo a alfabetização de todas as crianças até o final do 2° ano do Ensino Fundamental — a estratégia já alcançou um aumento de 20% no índice de alfabetização no Brasil desde os últimos dados indicados pelo SAEB (Sistema de Avaliação da Educação Básica).
Segundo a professora, os impactos vão muito além do desempenho em Língua Portuguesa. As crianças que desenvolvem o hábito de ler melhoram em interpretação de texto, aumentam a capacidade de concentração e até mudam de comportamento. “Algumas que eram mais agitadas passaram a preferir um momento de leitura e outras, mais tímidas, começaram a se expressar mais em sala de aula”, diz Pietra.
Essa transformação é ainda mais vista quando o estímulo vem junto de projetos criativos, como o caso da Estante Mágica. O projeto ajuda com a autoestima, com a sensação de pertencimento e, principalmente, com a curiosidade fundamental para a infância.
Robson Melo, cofundador da Estante Mágica, pontua que o motivo principal da criação do projeto é contribuir para a educação. Com o propósito de ir além das tradicionais iniciativas, o programa proporciona às crianças a oportunidade de desenvolverem o seus próprios livros de histórias.
“Queríamos trazer as crianças para esse mundo da leitura, então começamos a perguntar às escolas e às famílias o que poderíamos fazer de diferente. Muitos professores respondiam que seria muito legal se o aluno pudesse escrever o seu próprio livro, se referindo a ideia quase como um sonho que não pudesse ser realizado. E assim pensamos: Por que não?”, diz Robson

A Estante Mágica atinge o total de 2,7 milhões de crianças somente no Brasil. São 7 mil escolas participando do projeto e cerca de 22 mil professores utilizando a metodologia. Os resultados da iniciativa mostram um aumento na frequência às bibliotecas escolares e no interesse por livros.
A iniciativa conta com uma equipe de educadores especializados na área da educação, que disponibilizam materiais de apoio para que o professor oriente o processo de criação do aluno. As ferramentas de orientação e o livro finalizado em formato de ebook podem ser acessados gratuitamente pela escola e familiares. Para se inscrever, basta realizar o cadastro pelo site ou aplicativo da Estante Mágica e seguir o passo a passo.
“Tem aluno que entra num projeto desses só porque quer ganhar um prêmio, mas acaba saindo apaixonado por livros. Depois do projeto, começam a pedir livros novos em casa, recomendam para os primos, querem trocar com os colegas. Isso mostra que o mais importante é encontrar a leitura certa para cada criança, aquela que a faz se identificar”, conclui Pietra.

A professora também alerta para o papel das famílias. “Não basta que a leitura esteja só na escola. É preciso que as crianças também tenham livros em casa, vejam seus pais lendo, tenham espaço para conversar sobre o que leram. O hábito se forma no afeto e na convivência.” Enquanto os grandes desafios estruturais da educação seguem sendo debatidos, essas histórias de salas de aula transformadas e alunos despertando para a leitura e o conhecimento são poderosos lembretes de que o caminho passa também pelo encantamento do aprendizado.
