À esquerda, foto da torcida Noroestina, e uma faixa com os dizeres:
“Noroeste, uma paixão sem limites”. Na direita, a bandeirinha de escanteio estampada com o escudo do Paulista de Jundiaí.
(Foto: Noroeste: TV Norusca ; Foto Paulista: Paulista Futebol Clube
)

Por Lucas Soares e Marcelo Júnior, dia 30 de junho às 18:27

A tradicional Copa Paulista se iniciou mais uma vez, e com ela surge um grande debate no estado: a condição dos clubes interioranos. Dentre os maiores expoentes da região figuram Noroeste, o tradicional “Norusca” da cidade de Bauru, o grande figurão do centro-oeste paulista, e o Paulista de Jundiaí, que representa uma das maiores cidades do estado em termos populacionais. 

O torneio é fundamental para o desenvolvimento e a valorização dos times do coração do estado, e isso não é um debate. Todavia, ainda reside falta de informação em temas e discussões sobre a competição. Em adição, a inconsistência dos clubes que participam do torneio, com muitos altos e baixos, demissões em massa, e a inexistência de contratos a longo prazo, ressaltam em uma cultura imediatista, que age de acordo com as regras da Federação Paulista e da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), estas que são muito criticadas, acusadas de desfavorecer uma gestão profissional para os clubes de menor expressão. 

Por isso, o Jornal Contexto procurou destrinchar como as grandes equipes em termos regionais encaram a Copa Paulista, e trazer à tona as diferenças dos projetos, e os motivos da desvalorização dos clubes interioranos, dando enfoque ao tom “salvador” que a competição assume. Tudo isso no prisma de dois dos maiores clubes do interior paulista, dois participantes assíduos do torneio, e que atualmente vivem momentos distintos. 


Paulista: O Galo de Jundiaí

Escudo do Paulista F.C (Foto: Twitter do Paulista Futebol Clube)

O Paulista de Jundiaí é o maior campeão da competição com 3 títulos, e com certeza figura como referência quando o assunto é disputar o torneio. No entanto, o Galo não vence a competição desde 2011, amargando uma seca histórica, o que gera uma reflexão sobre o que vem dando errado no clube. Em entrevista ao Jornal Contexto, o Assessor de Esportes da Prefeitura de Jundiaí explica alguns dos motivos que fazem o time viver tempos sombrios: 

“Jundiaí é uma cidade diferenciada, e merece ter uma equipe na primeira divisão. Mas devido a falta de profissionalismo de várias gestões, perdeu a oportunidade e a credibilidade para termos investimentos em projetos de trabalho de base, pois deixou de ser uma referência como clube formador e atraente aos investidores”, ressalta o assessor. 

No entanto, o assessor elogia a Copa Paulista, alegando que a competição é uma espécie de alívio para os clubes interioranos. “A competição é interessante, pois atende as equipes da região com pouco poder econômico, e movimenta futebol e população através de uma competição regional, diminuindo os custos, mas mantendo o Paulista na vitrine da cidade e dos possíveis patrocinadores”, diz o funcionário. 

Por fim, ele ainda analisa o impacto do torneio na política pública municipal:

“Quanto à política pública esportiva, o futebol é um fenômeno que mobiliza milhares de pessoas, como clube o Paulista de Jundiaí vem em uma crescente, mas muito abaixo do que poderíamos ter de retorno econômico e de participação da população”, acrescenta. 

O Paulista entra na competição buscando o título para, quem sabe, retomar o caminho das glórias do Galo interiorano. 

Noroeste: O Norusca de Bauru 

Pôster dos onze iniciais em um jogo de 1986 do E.C Noroeste (Foto: Blog do Zé Duarte) 

Para o Noroeste, participar da Copa Paulista em 2025 vai além da simples busca por resultados positivos em campo. Diante dos obstáculos financeiros e de infraestrutura que afetam muitos clubes do interior, o time de Bauru encara o campeonato como uma chance importante de se fortalecer. O torneio não só oferece experiência para o elenco e prepara o time para campeonatos maiores, como também serve para aproximar o clube da torcida e gerar um impacto positivo na cidade. 

Tentando trazer todos esses sentimentos novamente na edição de 2025, o Noroeste conta com novas estratégias, levando em consideração a Série D ano que vem. Para isso, um dos primeiros passos é olhar para as edições passadas, e observar onde o clube errou e onde acertou.

Em entrevista com o Voz Noroestina, maior portal de torcedores do clube, os membros do portal destacam importantes pontos para se levar em consideração antes do torneio:

“O Noroeste ano passado não disputou a Copa Paulista, então não tem como se basear em relação ao ano passado. Em 2023, logo que tinha subido da Série A2 para a Série A1, teve um time competitivo, teve um time forte, um time que teria grandes chances de chegar, mas acabou tendo a infelicidade de perder nas quartas de final para a Portuguesa Santista, que posteriormente acabou sendo campeã. Desde então, nos últimos anos: 2022, 2021, 2019, 2017 e 2016, o time levou a Copa Paulista bem nas coxas. Em 2023, investiu, classificou para as quartas de final, mas acabou tendo essa eliminação. Esse ano eu vejo o Noroeste como um dos 3, 4 grandes favoritos ao título. Acho que pode chegar, tem elenco para isso. Eu estou acreditando nisso”, destacou o dono da página, Augusto Brasil.

A presença de um torneio para o segundo semestre é de grande importância para clubes do interior, que mal têm orçamento para se manterem durante a temporada de jogos. Sem ter renda em jogos em casa ou patrocínios com contratos mais longos, o futebol do interior provavelmente não sobreviveria. 

Também é importante para que a torcida se mantenha conectada com o clube durante o decorrer do ano, e não somente no começo do ano nas competições estaduais. 

“A Copa Paulista foi a competição mais importante para a torcida e a que mais tinha público, sabe? É muito ruim pra um time profissional jogar os três primeiros meses e passar nove meses inativos. Então acho que essa é a principal importância do clube se manter ativo, pra torcida conseguir estar perto do clube, estar no estádio acompanhando o seu time. Acho que essa é a principal importância da Copa Paulista”, explica o dono da página. 

A participação do Noroeste na Copa Paulista 2025 vai além dos resultados em campo. Enquanto o elenco trabalha no Complexo Damião Garcia em busca da classificação, a diretoria enfrenta desafios administrativos para garantir estrutura e condições de disputa. 

Com orçamentos reduzidos, os clubes apostam em parcerias pontuais, com cotas de patrocínio para os uniformes e ações de marketing nos jogos em Bauru e Jundiaí. Campanhas de engajamento com empresas locais também fazem parte da estratégia para ampliar receitas. Na logística, o Noroeste organiza deslocamentos, hospedagem e alimentação para o elenco, além de manter a estrutura de treinamentos, o mesmo vale para o Galo. 

Noroeste, o Norusca de Bauru situado à esquerda do mapa paulista, movimentando o centro-oeste; Já o Galo de Jundiaí mais perto da região metropolitana, é o maior campeão do torneio.

Mesmo com a fase inicial regionalizada, as etapas eliminatórias exigem viagens longas. Os times também cuidam da regularização de atletas junto à FPF (Federação Paulista de Futebol), e vêem na Copa Paulista uma oportunidade de dar rodagem a jovens da base, preparando os elencos para a disputa do campeonato paulista de 2026 – o Noroeste na divisão A1 e o Paulista na A3 – assim, valorizando jogadores para futuras negociações. 

Além do aspecto técnico, a participação traz uma esperança de retorno financeiro futuro. Embora a Copa Paulista não ofereça premiações em dinheiro ao longo da competição, o título garante ao campeão a escolha entre disputar uma vaga na Série D do Campeonato Brasileiro ou a participação na Copa do Brasil, competições que podem representar novas fontes de receita para os clubes, seja em premiações, bilheteria e patrocínios. 

A Copa Paulista é fundamental para que os clubes do interior continuem em atividade, e principalmente, para que vislumbrem um futuro mais agradável.

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