Em seu quarto álbum, que chega às plataformas amanhã (27), a cantora e compositora neo-zelandesa surge intimista e pessoal
Por Rafaela Parizoto

Nesta sexta-feira (27), Lorde lança seu quarto álbum de estúdio: “Virgin”. Anunciado pela própria cantora no dia 30 de abril, o projeto já conta com três singles: seu lead “What Was That”, seguido por “Man of the Year” e “Hammer”, lançada na última sexta-feira (20).

Após quatro anos de seu último álbum “Solar Power”, o novo disco chega explorando temas mais íntimos para a cantora, como identidade de gênero e transtornos alimentares, e buscando se distanciar sonoramente de seu trabalho anterior.

Lorde afirmou em entrevista para a Rolling Stone que “Virgin” se conecta mais com seu álbum de estreia “Pure Heroine”, mas os fãs sentiram que o lead single se aproxima sonoramente da produção synth-pop muito presente em seu segundo disco, “Melodrama”.

“A única proximidade que consigo encontrar entre os singles recém lançados e o ‘Melodrama’ é na produção mais eletrônica e sem uso de instrumentos orgânicos, mas as melodias e expressividade do canto dela soam mais próximas do ‘Solar Power’ e o minimalismo da produção pode chegar perto do ‘Pure Heroine’”, afirma o músico Thiago Duque, que é produtor do duo SANTIN.

Ele ainda acrescenta que a Lorde sempre faz um grande esforço para diferenciar muito bem seus projetos para o público, seja trocando de produtor, mudança presente em “Virgin”, ou reinventando completamente a temática entre seus projetos. “No fim, acho que a semelhança que as pessoas encontram desses singles com o ‘Melodrama’ vem de uma carência de músicas Pop que não sejam distantes, mas sim, sensíveis e transcendentais, coisa que, de certa forma, ela é a única que se propões a fazer”.

Ella (Lorde) trabalhou com o produtor Jack Antonoff em seus últimos dois projetos e decidiu seguir um novo rumo em seu quarto álbum. Jack, conhecido principalmente por seus trabalhos com as cantoras Taylor Swift, Lana del Rey e, mais recentemente, Sabrina Carpenter, está totalmente ausente deste álbum da cantora, que é coproduzido pela própria, juntamente com Jim-E Stack e conta com algumas outras colaborações. Stack já trabalhou com nomes como Charli XCX, que também já colaborou com Lorde, e Bon Iver.

Lorde segue uma constância de lançar álbuns de quatro em quatro anos. Foi assim desde seu debut em 2013, e os discos que o seguiram em 2017 e 2021, até seu projeto atual. Durante esses intervalos, a artista não costuma fazer outros lançamentos, sejam esses feats ou Eps.

Desta vez foi diferente: Lorde se juntou a Charli para o single “Girl, so confusing” presente na versão de remixes do álbum “BRAT”. A faixa presente no álbum de Charli já citou um dos polêmicos temas presentes em “Virgin” – o transtorno alimentar que Ella enfrentou por anos – o que pode ser visto como um início dessa vontade de tratar sobre assuntos mais íntimos para a cantora em sua nova era.

A sonoridade do feat entre as artistas é mais eletrônica, assim como a maioria da discografia de Charli, que segue no caminho do eletropop desde o início de sua carreira. O sucesso de “BRAT”, com movimentos culturais como “brat summer” e até seu uso na campanha publicitária de Kamala Harris, candidata à presidência dos EUA, popularizou produções musicais mais eletrônicas no meio Pop.

Cantoras como Camila Cabello e Selena Gomez tentaram seguir por esse caminho em seus projetos mais recentes e, coincidentemente ou não, Lorde parece fazer o mesmo.

“Mesmo que a Ella já tenha flertado com a música eletrônica, como em ‘The Louvre’, acho que agora ela fica muito mais livre pra brincar com essa timbragem mais metálica, e isso com certeza se deve por ‘BRAT’ ter aberto o ouvido do público geral para esse tipo de som”, comenta Thiago.

Porém, se a cantora fez essa escolha por questões de marketing, ele contesta: “acho injusto dizer que ela está se aproveitando desse hype por dois motivos. Primeiramente, a Lorde começou a trabalhar nesse álbum um bom tempo antes de “BRAT’ sair e, segundo, mesmo que sejam discos que flertam com o mesmo gênero, querem chegar em lugares muito diferentes e têm propostas muito diferentes um do outro”.

“Virgin” tem uma proposta mais intimista e pessoal se comparado ao álbum de Charli, e essa sempre foi uma característica marcante dos projetos de Ella. “Lorde é alguém que faz músicas sobre aproveitar o rolê, mas não para aproveitar o rolê. O ‘Virgin’ ainda não expôs muito bem sua mira, enquanto o ‘BRAT’ mirou em todas as pistas de dança e acertou”, complementa Thiago.

Ella reforça bastante a ideia de um álbum mais revelador e pesado ao divulgar “Virgin”, tendo descrito as letras como “grotescas” em entrevistas. O disco passa por assuntos já presentes ao longo de sua carreira como término de relacionamento e uso de substâncias e vai até coisas nunca exploradas por Lorde anteriormente, como a redescoberta de seu corpo e gênero.

Em “Hammer”, faixa que abre o álbum, a artista canta que em alguns dias se vê como homem, enquanto em outros como mulher (“Some days I´m a woman, some days I’m a man.”)

“Dessa vez ela tá pegando fogo na divulgação do álbum! Sinto que ela teve muita dificuldade pra terminar esse projeto e isso faz ela valorizar seu trabalho mais que nunca, principalmente depois de todo o backlash que o ‘Solar Power’ sofreu” diz Thiago, que também é fã da cantora. Ele afirma que sendo fã, é muito gostoso poder ver tantas entrevistas, acontecimentos e opiniões de alguém que sempre foi tão reservada como a Ella.

“É lógico que a música sempre é o mais importante, mas o ‘BRAT’ também veio pra lembrar outros artistas que uma boa era Pop envolve muito mais que isso e sinto que Lorde está com isso em mente.”

Thiago finaliza contando que está ansioso para essa nova era de Lorde, principalmente pelo marketing de “Virgin’ estar muito focado em um aspecto mais visual do disco, desmantelando a imagem de sua antiga era e focando em realmente marcar o público com algo novo.

“Fazer todo mundo ver um raio-x e lembrar do álbum, e lembrar dela. E isso é cultura Pop no seu melhor!”

Deixe um comentário