Tentativa de levar ajuda humanitária à Faixa de Gaza por Gretha Thunberg traz à tona a discussão sobre os direitos humanos e a atuação dos países no conflito no Oriente Médio
Por Sofia Pontieri
O conflito entre Israel e Palestina ficou marcado pela polarização e a reflexão sobre a veracidade dos direitos humanos ao redor do mundo. Após tentativa de levar ajuda humanitária à Faixa de Gaza, Gretha Thunberg foi deportada por Israel, junto de diversos ativistas internacionais, demonstrando a premissa do país em impedir qualquer acordo diplomático e pacífíco como forma de resolução.
No começo do mês de junho, o navio que carregava ativistas do mundo todo foi detido antes de atracar na Faixa de Gaza. O navio transportava apoio humanitário para os sobreviventes palestinos, porém a ajuda nunca chegou ao destino final. De acordo com o Ministério de Relações Exteriores de Israel, o barco atracou na cidade de Ashod em Israel e no dia seguinte, Gretha Thunberg foi deportada em um voo para a França.
A situação da deportação repercutiu de forma clara o posicionamento de Israel em relação aos direitos humanos dentro da guerra, estritamente parcial e retaliador.
Perguntado sobre a hierarquização das vítimas e como isso se reflete no discurso internacional, o professor de Ciências Sociais da Unesp e doutor em História Social pela USP, Maximiliano Vicente, afirma que as vítimas são consideradas parte do confronto e que os aliados se desenvolvem como aliados de interesse.
“Quando se tem um conflito com origens antigas e dimensão internacional, não existe essa prioridade. Os erros são considerados em um estado de exceção, excluindo todos os princípios dos direitos humanos”.
Parte da discriminação que acontece nesse atrito político se dá pelo estranhamento do povo árabe pelo Ocidente, principalmente pelo preconceito em relação aos grupos criminosos terroristas.
“O mais chocante é como os árabes são considerados pessoas estranhas, cidadãos de segunda categoria que podem destruir, matar, invadir o território, como se eles [árabes] fossem culpados de tudo”.
O aliado mais importante e relevante de Israel são os Estados Unidos que possuem uma posição cômoda de considerar os inimigos e se defender contra diante do mundo inteiro. “Os Estados Unidos acreditam em uma política externa de resultados. Resultados esses de controle político e do preço econômico, resultados de extermínio de quem é contra esse princípio. E o pior é que eles [EUA] tentam convencer o resto do mundo que estão defendendo os direitos humanos”, reitera o professor.
As violações cometidas pelos países durante um conflito ganham repercussões diferentes dependendo do contexto, o que implica diretamente da credibilidade de órgãos que deveriam agir de forma neutra como a ONU.
De acordo com Luiz Felipe Osório, professor de Relações Internacionais e da Pós-Graduação da Ciências Sociais da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), “tem que se levar em consideração que a ONU é uma organização internacional forjada na lógica da descentralização da forma política no cenário internacional. Não se pode esperar dela mais do que ela pode dar”.
Ele explica ainda que o direito internacional é a manifestação do capitalismo no plano externo e que se organiza através da força material entre os Estados, a qual é discrepante, de forma que perpetua as hierarquizações entre os países.
O professor Maximiliano garante que não é possível defender os direitos humanos nesse cenário polarizado, principalmente pela falta de diálogo e interesses políticos externos que impedem o fim do conflito.
“Já faz muito tempo que os direitos humanos não são respeitados em nenhuma parte do mundo. Se não for estabelecido um consenso mútuo de direitos iguais, respeitados por ambos os lados, é impossível de se ter qualquer princípio de direito humano. Muito pelo contrário, o conflito vai aumentar cada vez mais “, comenta Max.
Luiz Felipe assegura que o apoio direto e indireto das grandes potências a Israel tem transformado o conflito em um morticínio, descredibilizando as décadas de esforços e de cooperação internacional voltados para compromissos de direitos humanos.
Questionado sobre o peso que se estabelece nas relações diplomáticas quando os países adotam um partido dentro da guerra, o professor afirma que “no caso específico de Gaza, colocar-se de maneira veemente ao lado dos palestinos e contra o genocídio é o caminho imediato para a paz e o fim do conflito, além, claro, de podermos argumentar que seria um dever moral da humanidade”.
