Conheça a história por trás da loja que vende LPs, discos de vinil, antiguidades e colecionáveis

Por Danielle Ribeiro

Nei Santos é o fundador e dono do centro de antiguidades O Curioso. A loja começou a ser construída no início de 2020, mas a sua história é muito mais antiga que isso.

O Curioso. Foto: Danielle Ribeiro.

“Eu sou acumulador. Eu não sou colecionador. Então, tudo que eu vi antigo, eu sempre gostei de comprar. Disco, brinquedo, ferramenta, moeda, cédula, tudo que você imagina”.

Nei destaca o orgulho que sente pela sua vasta coleção de objetos, “só moeda eu devo ter uma fortuna guardada, cédula, disco, eu tenho uns 100 mil, na minha casa eu tenho mais um galpão de uns 250 metros cheio de ‘tranqueira’”.

Nei Santos. Foto: Danielle Ribeiro.

Trajetória e inspiração

A motivação surgiu através de um hobby. Segundo o dono da loja, ele sempre gostou de acumular antiguidades, mas ainda sem pensar em abrir uma loja com esse objetivo, isso porque Nei já teve uma outra loja antes de O Curioso.

A Nei Atacado foi uma loja de utilidades domésticas de 3.000 m² e foi ali que Nei começou a comprar objetos antigos de clientes: “tinha uma placa lá na porta da loja, ‘compro coisas antigas’, então direto o pessoal levava”, ele relembra.

E após uma viagem aos Estados Unidos em 2013, Nei voltou para o Brasil com a intenção de fechar o Atacado e montar uma loja de antiguidades no exterior. Após passar meses liquidando os produtos da antiga loja ele ainda deixou grande parte de suas antiguidades no Brasil, pensando que nunca mais voltaria. E em 2015 ele se mudou para Orlando para construir a Trato Feito, porém nem tudo foi como planejado.

Devido às burocracias americanas com relação a empreendimentos de imigrantes, Nei ficou desmotivado a continuar, ainda que depois de um tempo ele conseguiu o documento de autorização, mas já havia recalculado as rotas do seu destino.

Ainda na mesma época, ele se mudou para Portugal, e durante esse período acabou perdendo o documento, apesar das dificuldades, o comerciante continuou comprando relíquias e bugigangas em feiras de garagem, com o propósito de, dessa vez, voltar para o Brasil.

Ele afirma que chegou a trazer dois containers de 40 peças, entretanto houve mais imprevistos pelo caminho. “Um deles chegou aqui sossegado. O outro, a Receita Federal achou estranho ter um container só de coisa velha, porque todo mundo que vai lá só traz coisa nova. Aí eles apreenderam um terço, um quarto, por exemplo”, comenta Nei.

Reacendendo um sonho antigo

Chegando ao Brasil, no final de fevereiro de 2020, ele guardou suas peças em um depósito. Com o início da pandemia do COVID-19 viu a venda online como solução e começou a vender suas antiguidades no Ebay e no Mercado Livre.

E após um tempo, Nei desenvolveu interesse pela venda de objetos antigos e despertou novamente aquele desejo de abrir uma loja e, assim que surgiu a oportunidade ele inaugurou sua primeira loja, já com o nome que hoje é conhecida.

Primeira loja O Curioso. Foto: Nei Santos.

Com a loja, Nei poderia vender antiguidades e relíquias que inicialmente muitas pessoas não tinham noção do valor histórico, cultural e sentimental do objeto. Inclusive poder desapegar de parte dos materiais e ter a oportunidade de passá-los para frente, para que outra pessoa também possa ter essa experiência.

O sucesso foi tanto que em março de 2024 ele teve que mudar de endereço, inaugurando a loja em um espaço maior e mais bem preparado para o tamanho do seu estoque. Atualmente, ela fica localizada na rua Gustavo Maciel, Quadra 6, no Centro.

A loja é repleta de detalhes, incluindo peças antigas, muitas delas são coleções até extintas. Dentre os objetos encontrados estão selos, placas de carro, brinquedos e câmeras antigas, objetos de militaria, moedas antigas e raras. Inclusive DVDs de filmes, séries e desenhos animados, livros, gibis e mangás, e para quem gosta de música há muitos discos, vitrolas, aparelhos de som, LPs e muito mais.

Loja atual O Curioso. Foto: Danielle Ribeiro.

Nei e sua esposa são responsáveis pela divulgação da loja e das redes sociais, incluindo a loja virtual. Também é possível encontrá-lo pelo Google: “todo mundo que vem aqui vender coisa é porque precisa de dinheiro. Eles pesquisam lá ‘disco de vinil’ e aparece ‘curioso colecionáveis’”, ele explica.

Além de muita divulgação pelo Mercado Livre, incluindo a compra e a venda de colecionáveis, Nei comenta que aos poucos foi ficando conhecido pelos bauruenses e com isso sua rede de contatos, compradores e vendedores foi aumentando. “As pessoas vão divulgando também, muita gente que sabe que eu compro essas coisas”, pontua.

É tudo verdade

Segundo pesquisas da Federação Internacional da Indústria Fonográfica (IFPI), em 2020 as vendas de discos de vinil aumentaram 25,9% e em 2021 o aumento chegou a 51,3%. Outro relatório de 2022 relata que as receitas com vendas de discos de vinil cresceram 17,1%. Em 2020, os discos de vinil foram responsáveis por 62% das vendas das mídias físicas, equivalente a 232 milhões de dólares. Entretanto quando vista de uma perspectiva mais ampla, englobando outros formatos, o vinil gera apenas 4% de lucro.

Ainda no primeiro semestre deste ano, em plena pandemia do COVID_19, o Discogs vendeu mais de 33% em comparação as vendas do ano passado, contabilizando 5 milhões e 800 mil discos vendidos na plataforma entre janeiro e junho de 2020.

Segundo um levantamento da Pro-Música Brasil realizado em 2023, o consumo de LPs e vinis cresceu 136%. Já em 2024, o consumo dos discos de vinil aumentou para 76,4%, representando um faturamento de 16 milhões de reais.

Pesquisas da Pro-Música. Foto: Na Ponta do Dado.

O mercado fonográfico brasileiro representa pelo 7º ano consecutivo um aumento positivo no consumo na indústria. E segundo dados da Federação Internacional de Produtores Fonográficos (IFPI), o Brasil está classificado como 9º país de maior potencial no mercado fonográfico mundial.

De acordo com dados da Official Charts Company e da associação que representa a indústria fonográfica britânica, a BPI (British Phonographic Industry), a revista Music Week revelou que no primeiro semestre de 2024, as vendas aumentaram em 3,2% em relação ao ano anterior, com mais de 8 milhões de unidades vendidas no período.

É uma loja de saudosismo”

O Curioso é uma loja de memórias, um espaço que transmite a nostalgia de brinquedos antigos e evoca lembranças do passado, vendendo não apenas objetos de época, mas toda a sua história junto a ele. Isso é o que chamamos de “vender experiências”, algo que muitas empresas fazem atualmente e Nei sabe fazer isso naturalmente.

Se você for na loja, provavelmente encontrará algum brinquedo, DVD ou miniatura que talvez nem esteja mais em fabricação, além de uma música ambiente antiga tocando em uma vitrola.

O dono comenta que alguns pais levam seus filhos para conhecer a loja e mostrar os brinquedos e outros objetos antigos de sua época, como o disco de vinil. Outros adultos procuram produtos que não puderam ter na infância e hoje têm a oportunidade de se reconectar com a sua “criança interior”. E muitos jovens frequentam a loja por conta de tendências retrô em busca de objetos de decoração.

O vinil está de volta à moda

Se você é antenado nas tendências ou, pelo menos, conectado à internet, sabe que nos últimos tempos a moda de colecionar discos de vinil ressurgiu.

Em meio a um mundo contemporâneo tão saturado com fabricações musicais produzidas em massa, as pessoas encontraram nos discos e vitrolas um respiro e um mergulho de volta ao passado, onde as músicas eram feitas de forma bem diferente.

Diferentemente dos streamings digitais, o disco de vinil valoriza o momento do “aqui e agora”, é necessário um ambiente preparado para tocar a música e o ouvinte dedica um tempo exclusivo para apreciação da mídia física, além de ser ótimo apreciar detalhes da capa e o funcionamento da vitrola, gerando experiências sensoriais satisfatórias para o usuário.

Além do inegável sentimento de nostalgia, sejam pessoas que realmente viveram aquela época ou jovens que sentem curiosidade e apreço por tempos passados, seja a estética, a qualidade ou o contexto histórico, o fato é que o disco de vinil tem um charme próprio. Nei Santos reitera esse pensamento, “eu acho que é o charme. É uma coisa diferente”. Essas informações podem ser confirmadas através de pesquisas da “Engaging with Music 2022” da IFPI, que realizou um estudo sobre o consumo musical no mundo.

Apesar de ser um hobby que exige certa gestão financeira, muitos se atraem pelo ato de colecionar vinis, seja para conseguir uma edição rara ou para completar a discografia de algum artista.

Histórias e objetos marcantes

Entre tantas relíquias, é claro que existem muitas histórias emocionantes que marcaram o dono da loja. Uma delas é a de um casal de idosos que procurava a música que foi tocava em seu casamento há mais de 50 anos, porém eles não se lembravam o nome da música ou o nome do cantor.

Após algumas perguntas e um pouco de cantoria por parte do casal, Nei pesquisou na internet e encontrou a tão querida música. Para a sorte deles o disco estava na loja, o casal se abraçou muito emocionado e começou a chorar de alegria.

Ele conta que várias histórias já passaram pela loja, desde o filho que vê uma máquina de costura e lembra da mãe, até um adulto que se emociona ao ver a caixa da Crush, marca de refrigerante popular entre os anos 80 e 90.

Refrigerante Crush. Foto: Divulgação.

Além dos clientes, Nei fala sobre objetos de valor pessoal que hoje ele tem orgulho de encontrar e poder colecionar. Um exemplo disto são algumas tampinhas de garrafa dos anos 70, que vinham com personagens da Disney desenhados na parte de trás, oficialmente conhecidos como Bingola Disney, fazendo referência a uma espécie de bingo temático.

Cartela e tampinhas Bingola Disney. Foto: Divulgação.

O Ferrorama é um brinquedo da marca Estrela que fez muito sucesso em sua época de lançamento. Assim como o Forte Apache , que foi um brinquedo também lançado nos anos 70, com inspirações em filmes e séries como “Fort Apache” (1948)” e Rin Tin Tin. Estes são alguns brinquedos que hoje Nei tem condições de comprar e ainda relembram memórias da infância com sua família.

Clássico XP500S Ferrorama e Forte Apache. Foto: Danielle Ribeiro.

Diferenças entre retrô, vintage e antigo

Muito interessante toda essa viagem no tempo, né? Mas você já parou para se perguntar qual a diferença entre o significado das palavras retrô, vintage e antigo? Popularmente são utilizadas como sinônimos, mas a seguir veremos as principais singularidades entre esses termos.

Retrô: É uma releitura de peças antigas, ou seja, objetos atuais que fazem referência ou foram inspirados em épocas passadas.

Vintage: São peças originais que possuem mais de 20 anos e menos de 100 anos, ou seja, objetos que se encaixam na faixa dos 80 anos.

Antigo: Referente a peças que tenham mais de 100 anos de idade. Normalmente objetos de valor histórico e cultural.

Agora que você está bem-informado, veja a seguir algumas fotos do estabelecimento O Curioso e sinta uma prévia da experiência imersiva da loja.

Mais informações:

  • Telefone: (14) 99123-1921
  • Instagram: @lojaocurioso
  • Site: https://www.instagram.com/lojaocurioso/shop
  • Local: R. Gustavo Maciel, Quadra 6 – Centro, Bauru-SP, 17010-180.
  • Horário de funcionamento: Terça à sexta das 10h às 17h30. Sábado das 10h às 15h. Domingo das 08h às 12 h.

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