Segundo Datafolha, escritores negros, indígenas e LGBTQIAPN+ vêm conquistando destaque no cenário literário, com obras que têm marcado tanto a crítica quanto os leitores

Por Bruna Arcanjo

Fotos: Via Internet


Uma lista recente divulgada pelo Datafolha vem movimentando o universo literário: os melhores livros do século 21, eleitos por especialistas brasileiros, trazem um dado revelador. Autores pertencentes a grupos historicamente marginalizados como negros, indígenas e pessoas da comunidade LGBTQIAPN+, têm cada vez mais protagonismo nas estantes, nas prateleiras e, principalmente, nos corações dos leitores.


A lista não apenas celebra grandes obras, mas também indica uma transformação no imaginário literário nacional. Nomes como Itamar Vieira Júnior (Torto Arado), Djaimilia Pereira de Almeida (Luanda, Lisboa, Paraíso), Jarid Arraes (Redemoinho em dia quente) e Eliane Potiguara (Metade cara, metade máscara) mostram que o século 21, ao menos no campo da literatura, parece caminhar para uma reparação histórica. Essa nova configuração no ranking contrasta com o cânone brasileiro clássico, historicamente branco, masculino e heteronormativo. A presença marcante de autoras negras, indígenas e LGBTQIAPN+ demonstra que novos olhares e experiências estão sendo valorizados e lidos.


Quem também concorda que a literatura tem um papel central na formação de subjetividades e no entendimento da sociedade é a ex-mediadora do clube de livros “Leia Mulheres”, de 2018 a 2023, na cidade de Bauru, Yngrid Suellen. “Quando ampliamos os horizontes sobre quem pode contar histórias, também expandimos o que pode ser contado. E essa mudança impacta diretamente na forma como a juventude — especialmente nas escolas e universidades — se enxerga dentro das narrativas”, explica.

Fotos: Yngrid Suellen/ Clube de livros “Leia Mulheres de 2018 a 2023, cidade de Bauru


Embora a representatividade tenha avançado, ainda há um longo caminho a percorrer. Muitos desses autores ainda enfrentam barreiras para publicação, distribuição e reconhecimento. Como destaca a crítica literária da plataforma “Skoob” Ana Caroline Mota, ao ser abordada sobre o assunto. “Hoje publicar ainda é um ato de resistência. Muitos autores, principalmente os de fora do eixo branco, cis e centralizado, precisam vencer uma maratona só pra ter o livro aceito e mesmo depois de publicado, enfrentam distribuição precária e falta de reconhecimento. A literatura continua sendo um palco onde poucos têm o microfone. Por isso, iniciativas como rankings inclusivos e políticas públicas de incentivo à leitura e à publicação são essenciais para manter essa roda girando”.


Mais do que uma simples lista de preferências, o levantamento do Datafolha é um espelho do nosso tempo — e talvez, um convite para lermos o Brasil que por muito tempo foi silenciado. Para muitos estudantes, ver suas vivências representadas nos livros pode fortalecer o senso de pertencimento e valorização da própria história, tornando a leitura uma experiência mais significativa e formadora.


“Acredito que essa nova lista, ao dar visibilidade a obras de autores pertencentes a grupos historicamente marginalizados, pode transformar a maneira como os jovens leitores se relacionam com a literatura. A presença de vozes diversas contribui para que eles compreendam melhor as diferentes realidades sociais do país, incluindo questões de raça, classe, gênero e território”, finaliza Yngrid Suellen.

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