Artistas independentes da cidade de Bauru comentam sua realidade em relação ao cenário musical da cidade, as festas, os estilos, alegrias e realizações ao se perseguir um sonho.
Por: João Cameran e Miguel Bueno
Bauru é uma cidade universitária, portanto, as festas entre os estudantes são bastante comuns. Nessas festas, geralmente quem fica encarregado de divertir o pessoal com a música são os artistas da região, geralmente independentes, que na maioria das vezes ainda são estudantes ou trabalham em algum outro emprego, mantendo a profissão de artista ainda em “segundo plano”.
Mas no caso do Eduardo Cordeiro, conhecido artisticamente como Dj Helipa, viver desse sonho já se tornou uma realidade. Em entrevista ele diz “Hoje é minha principal fonte de renda, hoje é o que me sustenta, o que faz eu investir nas minhas coisas, é o que vai fazer eu conseguir comprar um computador agora, conseguir pegar uma controladora nova. Paga minhas contas, paga minhas regalias quando eu quero sair, por exemplo eu namoro, então a gente sempre quer agradar alguém que a gente gosta, então me permite fazer isso também”, mostrando que não é uma realidade tão distante para os que almejam viver de tal sonho, no entanto ele comenta que ainda faz outras coisas para se manter.”
Na conversa, ele ainda afirma que no começo não esperava que fosse sua forma principal de renda, pois lá atrás ele ainda focava no seu sonho no futebol, contudo, após algumas pessoas o incentivarem a começar a tocar, ele entrou nesse mundo. Mas para chegar onde ele está hoje não foi rápido. “Mas foi uma coisa que demorou muito pra acontecer, demorou bastante, eu estagiei, trabalhei bastante, hoje eu trabalho com outras coisas também, mas ainda é meu primeiro objetivo, meu primeiro foco, minha fonte de renda, faz eu viver”.
Helipa participando da Redbull BATTLE DJ / Fonte :perfil do helipadj
No entanto, não é por ter uma grande demanda de artistas, que todos participam desse meio. Pela falta de contatos de alguns artistas, nem sempre participam tanto das famosas festas, mas um fator comum que os impede de ter visibilidade é o interesse do público e do que costuma fazer sucesso. Existem alguns gêneros musicais que se destacam nas festas, como é o caso do funk, trap e seus outros estilos derivados, acompanhado algumas vezes da música eletrônica. As festas mais populares na cidade tocam quase exclusivamente funk, o que impede outros estilos musicais e artistas de receberem a visibilidade merecida e se expandirem eventualmente.
O “underground” de Bauru
Eventos ou “rols” mais alternativos são necessários para a propagação de artistas de outros estilos e para agradar pessoas de outros nichos. Contudo, existem bem poucos em Bauru, mas vem fazendo sucesso por trazer estilos diferentes as festas do barato mp3. Düt é uma das idealizadoras e criadoras do coletivo que dá espaço para artistas. Mas ela não só organiza os eventos como também toca neles e produz suas músicas, modificando totalmente o ambiente com seu estilo de tocar e set escolhido.
Helipa concorda, ao dizer que “É essa troca de energia e essa construção de saber o que a galera gosta de ouvir, entender como que tá a pista, você sentir a energia da galera e ver o que eles tão precisando ali”, provando que um Dj não só deve tocar, mais colocar sua própria energia e construir um ambiente, assim como se fosse um filme. Düt também explica que não trata da música necessariamente como fonte de renda, mas sim como hobbie, seu trabalho atualmente é como tatuadora e produz músicas como um meio de diversão.
Düt tocando no evento Vortex / Fonte: yuribonemusic (captura de um vídeo)
Uma paixão pela música
Ainda assim, existem aquelas pessoas que preferem manter a música como algo íntimo, como por exemplo Rafaela Gonçalves, também conhecida como Mavis. Em entrevista, ela comenta: “eu acho que não tenho objetivo futuro em uma carreira musical, meu interesse não é crescer dentro da música, mas é explorar mais gêneros e aprender mais coisas”. Mavis também fala de seu gosto por produzir estilos musicais mais “nichados”, como por exemplo o frenético breakcore.
Originado do drum n’ bass e hardcore, surgiu em meados de 1990, sendo um estilo mais produzido por produtores underground, esse estilo é mais ouvido pela comunidade da internet.
Mavis também fala de seu contato com a música. Sua família sempre a incentivou a se aproximar da cultura, por isso ela sempre esteve próxima desse estilo de arte, começando a produzir inicialmente trap na adolescência. Ela comenta que não pretende tocar em festas, muito por conta também da dificuldade de encaixar seu estilo nas festas, algo dito por Helipa e Düt também, que possuem alguns gêneros e estilos de músicas que não seriam tão agradáveis ao público em geral.
Enquanto Helipa deseja encaixar um pouco do estilo da Zona Norte de São Paulo, Düt deseja produzir noise, um estilo de música que mistura um pouco o industrial com ruídos e frequências dissonantes. Mas para Mavis, isso não é um problema tão grande, pois por mais que ela não tente agradar um público, quando cria uma nova obra só almeja agradar a si mesma, ou seja, no final seu amor por música a motiva a estudar mais sobre produção, outros estilos e gêneros, almejando “só aprender por gostar mesmo ”.
Rosto de Mavis / Fonte: perfil do Instagram picles juice
Nem tudo são obstáculos
Apesar dos desafios de produzir arte independente, grande parte de seu processo é também a felicidade e as conquistas que realizar seus sonhos pode trazer.
Eduardo, o DJ Helipa comenta: “Uma das maiores alegrias foi, por exemplo, tirar foto com pessoas, as pessoas quererem tirar foto comigo pós-show, as vezes me encontrar depois de algum tempo e me admiram pelo meu trabalho, de ir lá e pedir uma foto, acho que esse é um dos pontos e o outro é ter uma música minha sendo tocada em roles. Eu ir numa festa por exemplo, hoje dificilmente eu vou mais tanto assim pra curtir, mas algumas vezes que eu cheguei a ir, eu ouvia minha música tocando na festa, então isso é tipo, muito gratificante assim, a galera as vezes te conhece, te olhar assim, você fala: ‘Que brabo mano, a galera tá curtindo’, é um som meu que tá ali”.
Düt também comenta sobre as suas conquistas artísticas. “Acho que a mais recente que tem foi o rolê que a gente organizou, do “Funeral”, o Funeral teve um espaço um pouco maior assim no meu coração por motivos de que foi nosso primeiro rolê grande. Foi o primeiro rolê com uma tentativa de vender ingresso, a gente botou 160 pessoas numa casa, a gente encheu um lugar bem grande com pessoas, eu chamei um DJ que eu gosto muito, que é o Yandrel, ele é conhecido na gringa, ele já foi pro Japão pra tocar, eu toquei antes, eu esquentei a pista pra ele sabe, e muita gente falou muito bem, gostaram pra caralho, muita gente fi e a gente tava tipo muito inseguro antes do role acontecer assim”.
Relatos de artistas como esses são exemplos de que a arte independente pode ser motivo de orgulho e realização, e que tirar seus sonhos do papel, investindo em um talento, é libertador.
