Ações de conscientização e combate das hepatites virais iniciam nesta terça-feira (1).

Por Beatriz Custódio

Doutor Mario Peribanez Gonzalez em uma palestra da campanha Julho Amarelo em 2024.

A campanha Julho Amarelo é prevista pela lei 13.802 sancionada em 2019 e atualizada em 2023. Ela determina que, durante o mês de Julho, o governo brasileiro deve promover atividades direcionadas ao enfrentamento das hepatites virais no Brasil, “com foco na conscientização, na prevenção, na assistência, na proteção e na promoção dos direitos humanos”, segundo a lei número 14.613/2023.

O médico infectologista Dr. Mario Gonzalez, nomeado pelo Ministério da Saúde coordenador geral de Vigilância das Hepatites Virais, conversou com o Contexto sobre a campanha.

“É o mês inteiro de ações, tanto de sociedade civil quanto ações governamentais para a gente trazer para a mídia, trazer para a discussão o tema das hepatites virais”.

Durante esse período serão realizadas palestras e atividades educativas, campanhas de divulgação e ações para prevenção e diagnóstico das infecções em acordo com o Sistema Único de Saúde (SUS).

“No Julho Amarelo, a gente sempre lança uma campanha publicitária que pode ser replicada, tanto nas plataformas digitais quanto em outras mídias, por estados e municípios, gestores locais, sociedade civil. E também nós lançaremos o nosso boletim epidemiológico, com os dados atualizados sobre as infecções das hepatites de A a E no Brasil. E tudo isso é disponibilizado pelo próprio portal do Ministério da Saúde”, adiantou o doutor sobre a campanha deste ano.

Estas e outras medidas tomadas pelo Ministério da Saúde buscam alcançar um dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2015: assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos e todas, em todas as idades. Com metas a serem cumpridas até 2030.

“E tem lá o capítulo 3 dos objetivos de desenvolvimento sustentável, que fala sobre a garantia a medicações e acesso ao tratamento para as pessoas com hepatite. A partir disso, a Organização Mundial da Saúde, através do seu núcleo de gestão estratégica, trouxe objetivos, metas de impacto, para a gente realizar entre 2015 e 2030. Então, seria a diminuição da mortalidade em 65% e diminuição de novos casos em 90%”.

De acordo com o boletim epidemiológico mais recente divulgado pelo Ministério da Saúde, com dados até 2023, a incidência de casos das hepatites B e C (tipos mais comuns e que mais matam) caiu drasticamente desde 2015.

O gráfico expõe o número de casos confirmados das hepatites A, B e C entre 2013 e 2023 no Brasil. Fonte: Ministério da Saúde

Os óbitos causados por esses dois agentes etiológicos (B e C) também tiveram uma queda brusca.


Os gráficos 1 e 2 expõem o número de mortes por hepatite B e C, respectivamente, entre 2012 e 2022 no Brasil. Fonte: Ministério da Saúde

Para as hepatites tipo A também é possível observar uma grande evolução para alcançar os objetivos, com número de diagnósticos bem menor se comparado com 2014, ano em que a vacinação para esse agente etiológico se tornou parte do calendário vacinal do SUS.

O gráfico expõe o número de casos de Hepatite A confirmados entre 2012 e 2022 no Brasil. Fonte: Ministério da Saúde

A vacina contra a Hepatite A é administrada em crianças, grupo mais vulnerável ao vírus, em seu primeiro ano de vida, e aos adultos pertencentes à alguns grupos populacionais como pessoas que vivem com HIV ou AIDS, portadores crônicos de HBV (hepatite B), candidatos a transplante de órgão sólido ou já transplantados, entre outros.

Já a vacina contra a Hepatite B é administrada nas primeiras horas de vida para os bebês nascidos depois de 2015, mas qualquer adulto ou criança mais velha pode se imunizar gratuitamente a qualquer momento.

O Doutor Mário cita que em maio deste ano, houve um avanço na imunização da população adulta para Hepatite A. O Ministério da Saúde aprovou a vacinação em duas doses para adultos usuários da PrEP (Profilaxia Pré-Exposição), ou seja, usuários de medicação para prevenção de HIV.

A ampliação da cobertura vacinal busca combater os surtos de hepatite A na população adulta da mesma forma que foi feita para combatê-la entre as crianças: a vacinação total da população.

Apesar da imunização das crianças ter levado a uma redução de mais de 95% dos casos nessa faixa etária, ainda há quem não acredite em sua eficácia.

Sobre isso, o médico afirma que “as pessoas estão discutindo mais suas crenças políticas acerca de assuntos que não são políticos, são científicos.” E assegurou sobre a eficácia da vacina: “Nós não temos a menor dúvida que as vacinas para as hepatites são seguras e eficazes. E nós também não temos a menor dúvida que são doenças que a longo prazo acarretam a morte das pessoas. Então a gente está, com as vacinas, livrando muitas pessoas de terem desfechos trágicos por conta de uma infecção completamente evitável”.

O principal problema das hepatites virais é que são doenças silenciosas, na maioria das vezes levam anos para se manifestarem e quando fazem, já estão muito avançadas. Por isso é importante que todos se previnam e realizem o teste de diagnóstico oferecido pelo SUS para os tipos de hepatites mais comuns no Brasil (A, B, C). E caso o resultado seja positivo, o tratamento também pode ser realizado de forma gratuita.

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