Comparado a 2024, Bauru registrou 4 mil casos a mais até junho em 2025
Por Giovana Sato e Gustavo Araújo | 26 de junho de 2025

No começo de maio de 2025, Bauru registrou mais de 10 mil casos confirmados de dengue. Seis mortes e 10.181 diagnósticos foram registrados, como mostra o painel de monitoramento de arboviroses do estado de São Paulo. Em 2024, esse número foi atingido no final de junho e já são contabilizados 4 mil casos a mais no mesmo período. O dado preocupa e acende alerta sobre a situação da dengue na cidade.
Retrospecto
Até junho de 2023, foram totalizados 13.434 casos e 10 mortes confirmadas. No montante do ano todo, os casos saltaram para 14.351 pessoas diagnosticadas e 14 mortas pela doença. Já no mesmo mês de 2024, foram 11.803 casos e 9 mortes. Apesar da queda no período, o total de diagnósticos daquele ano foi de 15.798 confirmados, um aumento de 10% em relação ao ano anterior.
Em 2025, até o momento, são 13.961 casos e 11 mortes decorrentes do vírus da dengue. Em informação divulgada ao Jornal Contexto, a Secretaria de Saúde de Bauru prevê que o número de casos seja ainda maior em relação aos dois anos anteriores.
Ainda neste ano, a Prefeitura confirmou a circulação da variante tipo 3, e, em abril, Bauru se tornou a primeira cidade do estado de São Paulo a registrar sorotipo 4 da doença. Assim, os quatro tipos de dengue circulam simultaneamente no município.

Infográfico elaborado em 22/06/2025
Variantes
O Professor Doutor Sebastião Ferreira, médico infectologista e professor da Unesp Botucatu e UNINOVE Bauru, explica que os tipos da doença são causados por quatro vírus diferentes. A doença é a mesma, sem alteração nos sintomas apresentados, o que muda é a capacidade de infecção de cada agente viral. O sorotipo 3 costuma ser o mais violento, seguido pelos tipos DENV-2, DENV-4 e DENV-1 na ordem de gravidade.
Quando uma pessoa é infectada por qualquer um dos tipos e se recupera, seu corpo cria anticorpos que a tornam imune aquela variante. Porém, se ela for picada por um mosquito que carrega um dos outros três tipos, mais uma vez é acometida pela doença.
Sintomas e tratamento
O infectologista ressalta que não existem sintomas específicos de cada variante, mas que a dengue é uma infecção obrigatoriamente febril.
Dores no corpo e atrás dos olhos, vermelhidão na pele, cansaço e dores nas articulações são outros sintomas comuns e aparecem normalmente cinco dias após a picada. No caso mais agudo da doença, chamado dengue grave, há sangramentos nas mucosas, falta de apetite, dores abdominais, vômito, e diarréia.
O conjunto de características envolvidas no agravamento do quadro pode acarretar em uma intensa hemorragia e uma consequente queda abrupta da pressão arterial, resultando na Síndrome do Choque da Dengue (SCD), principal causa de óbito.
Ferreira explica que a dengue consegue deixar o paciente debilitado independentemente do fator de risco, mas que as pessoas pertencentes aos grupos vulneráveis têm mais chances de terem um agravamento no quadro clínico da enfermidade.
“Um paciente que tem AIDS, por exemplo, ou um que usa medicamento para diminuir a imunidade, são pacientes que o vírus tem uma chance maior de replicação do que outras pessoas, porque eles não têm um sistema de defesa pronto e maduro para impedir que o vírus se multiplique”, diz.
“Pacientes com diálise, com problemas de imunidade, que fazem hemodiálise, são HIV positivos, transplantados, idosos, crianças e pacientes sequelados de AVC têm uma maior chance de desenvolver uma forma mais grave da doença” afirma o doutor Sebastião Ferreira.
Não há remédios específicos para a destruição do vírus, o recomendado é repouso e muita ingestão de líquido para o sistema imunológico vencer a doença. “É preciso negociar com o corpo. Beber maior quantidade de água em pouco intervalo de tempo é o ideal”, aconselha o médico. Um copo d’água a cada 30 minutos é desejável, ou sucos naturais sem açúcar são opções para manter o corpo hidratado.
Ainda segundo o infectologista, se o paciente não consegue ingerir ou perde muito líquido por conta dos sintomas, é indicado internação. “É importante alertar a população quais são os sinais que o corpo vai dar para que você seja internado”, complementa.
Influência das estações no período de alta
O trabalho “Saúde em Foco: Temas Contemporâneos”, publicado em 2020 e composto por diversas produções científicas voltadas à área da saúde, explica que o ciclo de vida de vetores, reservatórios e hospedeiros de doenças tropicais, como a dengue, está fortemente relacionado às mudanças nos ecossistemas e às condições climáticas.
Com o aumento das temperaturas, cresce também a quantidade de transmissores de doenças, o que pode facilitar sua reprodução à medida que a temperatura média do planeta se eleva. O estudo divulgado pelo “Saúde em Foco” destaca essa relação, afirmando que há uma conexão evidente entre a disseminação das doenças e fatores como o calor intenso, altos índices de umidade do ar e a duração prolongada do verão ou de períodos com clima quente e úmido.
“Uma coisa que a gente tem que alertar a população é que uma diminuição do número de casos não significa que a doença deixou de circular. Dengue tem um ano inteiro”, relembra Sebastião.
Em períodos mais quentes e chuvosos há um maior acúmulo de água parada e de lixo, o que aumenta a replicação do vetor, a fêmea do Aedes Aegypti. Mesmo em condições de tempo seco e frio, há concentração de água em recipientes descobertos e lixo descartado em locais inadequados, o que fomenta a reprodução do mosquito da mesma forma.
Medidas de prevenção
A forma mais eficaz de prevenção é o combate ao mosquito Aedes aegypti. A Secretaria de Saúde ressalta que a população deve colaborar com a eliminação dos criadouros, descartando corretamente qualquer recipiente que possa acumular água, verificando os ralos, calhas e caixas d’água, e manter os quintais, calçadas e terrenos limpos.
Medidas públicas
Em nota, a Prefeitura de Bauru afirma ter recebido 5.555 doses da vacina contra a dengue no mês de maio, prioritariamente destinadas às crianças e adolescentes de 10 à 14 anos. O imunizante, de nome Qdenga, é composto pelos quatro sorotipos do vírus enfraquecidos, que, uma vez dentro do corpo, são combatidos pelo sistema imunológico que se fortalece contra a infecção.

A vacina está disponível em 25 unidades de saúde da cidade, com horários de aplicação que vão das 07h30 às 22h, sem necessidade de agendamento, que podem ser conferidos no site da Prefeitura.
De acordo com informações dadas pela Secretaria de Saúde de Bauru, a Coordenadoria de Vigilância em Saúde mantém ações de combate ao mosquito Aedes aegypti na cidade, com vistorias nos imóveis e realização de mutirões de recolhimento de materiais insensíveis, como os feitos nas regiões do Pousada da Esperança e do Núcleo Gasparini.
