Os desafios dos jovens entre 17 e 24 anos diante das exigências do mercado de trabalho
Por Maria Clara Rebustini
Inteligências artificiais, atualizações no mercado de trabalho e testes pelas empresas antes mesmo de serem contratados. Essa é a realidade do atual mercado de trabalho para os ingressantes, que na maioria das vezes saem direto do ensino médio, sem experiência nenhuma, em busca de uma primeira oportunidade. Esta é uma característica da Geração Z, jovens de 17 a 24 anos.
A evolução do mercado de trabalho é inegável para cada década e as inovações que surgem trazem consigo aspectos positivos e negativos para o trabalhador.
Trabalhos que eram feitos manualmente, exigindo paciência e anos de prática, hoje em dia, são feitos em um simples clique ou comando para alguma máquina. Uma evolução formidável, visando sempre facilitar a vida dos seres humanos.
Essas mudanças tecnológicas são naturais para os jovens desta geração, que, mesmo inexperientes, buscam iniciar-se no mercado de trabalho. Porém, as empresas não têm facilitado esse primeiro contato para dar oportunidades aos iniciantes.
“Tá todo mundo bem formado, as empresas estão aí há muito tempo e eles querem profissionais”, explica Niedson Carlos Santos Martins, que trabalha no supermercado São Benedito, em Jaú.
Ele explica que as empresas “querem profissionais, não quem está começando” e, muitas das vezes, a rejeição das empresas acaba causando sérios problemas no psicológico dos jovens e desmotivações que contribuem para essas desistências na busca do seu primeiro emprego. “Eles pedem profissionais, mas não formam profissionais”, desabafa.
Assim, o que era pra ser uma porta de entrada, acaba sendo uma parede fechada para a experiência profissional de alguns.
“Comecei a trabalhar aqui com 16 anos e até agora não saí, pra mim está bom. Uma única coisa que gostaria que mudasse é a escala”. Ele comenta também que para quem estuda e trabalha é bem complexo. “Ter que trabalhar de manhã e estudar de noite é difícil, às vezes você tem que escolher entre estudar ou trabalhar”.
A rotina puxada muitas vezes é uma forma também de desmotivar o jovem. Niedson frisa que “a pessoa não vai querer estudar, ou só trabalhar ou só estudar, se a pessoa não tiver dinheiro pra isso é difícil”.
Niedson lembra da legião mirim. “Era muito importante para quem estava começando”. O programa trazia uma forma de auxiliar o jovem no primeiro contato.
A geração nem-nem
Não é de hoje que o mercado de trabalho muda e traz novas exigências no currículo, pedindo capacitações, o que é esperado quando se busca um cargo, e a Geração Z busca sempre se qualificar.
Mas, para as gerações passadas, a Geração Z é conhecida como geração nem-nem, nem estuda nem trabalha. Sobre esse rótulo, Niedson comenta: “o pessoal mais velho fala isso porque na época que elas começaram, não tinha muita opção, começaram a trabalhar com 12-14 anos na roça, mas as coisas têm que melhorar sempre, a gente não tem que ficar estagnado em uma coisa ruim”.
Falas como essa, rótulos como esse, “nem-nem”, vindo de pessoas mais experientes, também acabam sendo uma forma de desmotivar e abalar o emocional do jovem, que em sua maioria, faz os dois, estuda e trabalha, em busca de um futuro melhor.
As exigências do mercado de trabalho costumam afetar os trabalhadores. Niedson explica que se tornou alguém mais organizado, mas também uma pessoa mais fria. Ele explica que no fim do expediente fica exausto e sem energias de interagir com alguém.
Para Niedson, o mercado de trabalho poderia passar por algumas mudanças, com pequenos incentivos para os jovens ingressantes e estudantes e também ser um mercado mais acessível. Ele diz que as empresas deveriam dar chances a quem está iniciando.
