Por Leticia Aguilar e Rebeca Mattos
No imaginário popular, os zoológicos são vistos como espaços de turismo e entretenimento. No entanto, eles estão muito além de um lugar de confinamento ou exibição. Sua missão é digna e sustentada por pilares fundamentais como a educação ambiental, a pesquisa científica, a conservação das espécies, a reabilitação de animais e um forte compromisso ético com a fauna. Você já parou para pensar no verdadeiro papel e na importância do Zoológico de Bauru para a cidade e região?
(Acervo pessoal: Rebeca Mattos)
Embora os primeiros zoológicos tenham surgido como ambientes de exploração animal, para agradar a elite local, esse cenário mudou a partir da segunda metade do século XX. E o ZooBauru se destaca como uma referência no interior paulista, seus projetos buscam garantir os melhores tratamentos para as espécies, oferecendo desde palestras e enriquecimento ambiental até vasto conhecimento, proporcionando um passeio educativo e de qualidade à população.
O principal foco do recinto de Bauru é a educação ambiental, promovida diariamente em suas atividades. Biólogos especializados guiam as visitas do público, o qual é muito diverso e engloba, majoritariamente, escolas, famílias, casas de repouso, entidades e projetos sociais. Esses profissionais elaboram práticas que valorizam as ações realizadas no espaço, desestigmatizando o ambiente e mostrando seu verdadeiro propósito.
“Eu gostei muito da educação ambiental. Lá tinham várias linhas para a gente fazer, buscando abranger o máximo de pessoas que visitam o zoológico. Uma delas era todo dia de manhã: os monitores recebiam as escolas, falavam sobre a importância do zoológico e explicavam que o animal não está ali para servir de exposição, mas sim porque ele precisa de cuidados”, ressalta a bióloga Stephany Letícia da Silva, ex-estagiária do zoológico de Bauru.
O acolhimento é tarefa central, e conta com o apoio de dinâmicas através das mídias sociais, como o projeto ‘’Bicho do mês”. A cada mês, um animal é selecionado para despertar a curiosidade do público por meio de dicas, instigando o pensamento e o levantamento de hipóteses. A internet é um importante meio de diálogo com os jovens, que é considerada pela diretoria do zoológico um elemento de comunicação facilitada e direta com a população. Além disso, o ZooBauru divulga sua rotina, funções e manutenção, com a intenção de integrar e conscientizar os visitantes sobre o funcionamento do local.
Outras iniciativas relevantes incluem o tradicional curso de férias; o Programa Municipal de Educação Ambiental (PMEA), através do apoio do Sistema Municipal de Ensino de Bauru; as Campanhas Educativas Nacionais, da Associação de Zoológicos e Aquários do Brasil (AZAB); os projetos em parceria com universidades, como o Bio na Rua (Unesp) e Biologando no Zoo Bauru (Unisagrado); e a Semana Integrada de Meio Ambiente (SIMAB).
“Além disso, temos algumas atividades em datas comemorativas e expositivas, como o Dia Mundial do Meio Ambiente, o Dia do Tamanduá e o Dia do Mico Leão Dourado. São eventos que acontecem para a sociedade, tanto dentro quanto fora do zoológico”, acrescenta Samantha Bittencourt, gerente do zoológico de Bauru.
Dessa forma, por meio de um cronograma anual de atividades, o zoológico fortalece seu diálogo com distintas áreas da sociedade, promovendo a conscientização e levando adiante a educação, um fator fundamental, principalmente em tempos de crises climáticas e ambientais.
Conservação e Reabilitação de Espécies
A atuação do zoológico na conservação das espécies é bem extensa e envolve diversas etapas. Inclui a realização de enriquecimento para o animal, sensorial, físico, cognitivo, ambiental e alimentar, que embora não seja essencial, é vista como uma prática a ser implementada rotineiramente. Atualmente, o zoológico de Bauru oferece diariamente uma ambientação adequada aos animais, com elementos como poleiros, tocas, ninhos e, por vezes, aspersão de água para regular a umidade.
O biólogo Emanuel Macedo destaca a importância do ambiente monitorado, “Dentro dos zoológicos, são espaços onde os pesquisadores conseguem, além do ambiente natural, acompanhar o dia a dia da espécie animal e observar comportamentos que muitas vezes passariam despercebidos na natureza. É bem abrangente, pois vai variar de espécie para espécie, grupo para grupo, e indivíduo para indivíduo. O zoológico tem esse papel essencial de analisar, avaliar o comportamento e documentar isso em bancos de dados, para que tenham acesso a esse tipo de informação. Ao serem levados ao zoológico, os animais recebem tratamento veterinário, nutricional e check-ups mensais, necessários para sua recuperação e eventual liberação”.
Quando aptos, os animais são encaminhados para soltura de volta ao seu ambiente natural. Já os que sofrem com sequelas, permanecem sob o cuidado de especialistas, como é o caso dos dois Pinguins-de-magalhães de Bauru, vítimas de um acidente com embarcação, que resultou na amputação de uma de suas asas. Existe também o setor extra, onde espécies recebem cuidados de reabilitação e muitas não são colocadas em exposição no parque.
(Ana Deolin / ZooBauru)
O espaço responsabiliza-se pela reintrodução das espécies ao habitat natural, mantendo sempre a comunicação com zoológicos da região para incentivar o intercâmbio de animais, através de permutas, baseadas nas demandas de cada região, com o objetivo de instigar a reprodução, apoio ao ecossistema e adaptação de qualidade.
Ética e Logística
O zoológico segue um padrão de serviço ético e planejado para o bem-estar dos animais, e conta com um quadro de funcionários que compreendem seis áreas de supervisão: administrativa, de manejo, de manutenção, zootecnia, veterinária e educação ambiental. Cada núcleo possui equipes formadas que atendem a todas as demandas do espaço, sempre em diálogo constante para transmitir e receber informações.
Como órgão municipal, o zoológico de Bauru faz planejamentos anuais e plurianuais, visando um gerenciamento adequado. Assim a logística do ambiente se mantém estruturada, permitindo que a equipe saiba como lidar com eventuais imprevistos.
O manejo é parte do cuidado com os animais e também segue uma regulamentação em todos os níveis, municipal, estadual e federal.
Samantha nos explica o termo e como é realizado, “O manejo envolve a parte de segurança, nutricional, de medicina preventiva, de recinto e de locomoção. Quando falamos no manejo de um animal, envolve todo esse contexto. Seguimos normativas do IBAMA sobre como deve ser o recinto, a área, o substrato e os métodos de contenção para cada espécie. É tudo que envolve o animal silvestre para que ele tenha um bem-estar. E ele é dividido em manejo nutricional ou alimentar, manejo de contenção, manejo físico (que entraria como contenção), de segurança, de urgência e emergência.”
(Acervo pessoal: Rebeca Mattos)
No âmbito das pesquisas científicas, o zoológico também possui grande estima e eficiência. Executadas por sua equipe técnica, que é constituída por profissionais qualificados, como por exemplo, os médicos veterinários, as pesquisas são realizadas e baseadas em elementos como a alimentação, o bem-estar e o comportamento dos animais. O local conta com a parceria de diversas universidades para a realização de projetos voltados a esses estudos.
Ainda quanto às pesquisas, o ZooBauru oferece a oportunidade para que estudantes possam realizá-las dentro do próprio zoológico, e, ao serem aprovados por meio de um formulário disponível em seu site e da avaliação dos técnicos responsáveis, é possível obter suporte da equipe para extração de materiais biológicos. Isso também pode ocorrer a partir de alguns animais mortos por atropelamento na rodovia, e que são mantidos em uma câmara fria, com o intuito de auxiliar nessas análises.
Outro pilar essencial do ZooBauru são os estágios para as áreas de Biologia, Medicina Veterinária e Zootecnia, importante fase de experimentação para o estudante, podendo influenciar em sua área de atuação. Samantha, coordenadora do zoológico de Bauru, entende que é uma experiência positiva para a experiência do estagiário, e também, para ampliar a pesquisa, o conhecimento e as atividades educacionais dentro do espaço.
“O estudante está diretamente ligado ao mundo acadêmico, então está o tempo todo recebendo milhares de informações na universidade e traz para nós, profissionais, muita novidade de assunto’’, comenta Samantha.
“Foi uma experiência muito enriquecedora”, explica Stephany sobre seu estágio. “O sonho da Stephany pequenininha, que visitava o zoológico e não fazia ideia de como era por trás, de como esses animais eram tratados. Foi muito satisfatório, eu tenho certeza que a minha formação em biologia foi muito mais potencializada por esse estágio.”
Em entrevista ao Jornal da USP, José Luiz Catão Dias, professor de Patologia Comparada na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP, afirma que os zoológicos são, de modo geral, espaços negligenciados pela esfera pública. No entanto, o ZooBauru recebe uma atenção especial e positiva da Prefeitura de Bauru, contribuindo positivamente para o desenvolvimento da conscientização ambiental, preservação da biodiversidade e avanço das pesquisas acadêmicas. Além disso, o zoológico faz parte da AZAB, instituição que congrega objetivos estratégicos para qualificar e certificar os zoológicos brasileiros, inserindo-os na comunidade zoológica internacional e sendo uma referência de conservação.
