por Bianca Sarto
No mês do jornalista, o tema “desinformação” volta à tona após veículos de comunicação divulgarem o suposto fim do programa Bolsa Família. Em resposta, o Ministério de Desenvolvimento e Assistência Social (MDS) desmente a informação e anuncia a atualização da Regra de Proteção.
Aline Camargo, jornalista, professora no curso de Jornalismo da Unesp (Universidade Estadual Paulista) e pesquisadora, aponta que a desinformação sempre existiu. Porém, no atual cenário social, estamos sujeitos à plataformização e ao modo como as redes sociais funcionam, fatores que permitem que a difusão de notícias falsas tome proporções maiores e com muito mais rapidez. Isso gera um excesso de disputas narrativas na mídia, acarretando uma falta de controle e fiscalização do que é considerado como verdade nos conteúdos divulgados. Isso se intensifica ao levarmos em consideração os constantes questionamentos e a polaridade de opiniões quando o assunto são programas sociais.
“É interessante pensarmos na desinformação como um guarda-chuva, que engloba desde a claramente absurda e falsa até a manipulada, com ou sem intenção de enganar. Essa é a que mais me preocupa, pois é menos óbvia, mais fácil de cair”, diz Aline.
Segundo dados da pesquisa levantada pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic) em 2024, 52% do total de brasileiros que possuem acesso à internet não checam a veracidade das informações que consomem. O que impacta diretamente na crise jornalística relacionada à onda de desinformação, tendo em vista o uso massivo das redes sociais nos dias de hoje.
De acordo com a também jornalista e professora do curso de Jornalismo da Unesp, Isabela Holl, existe uma falta de mecanismos por parte do público brasileiro de se perguntarem sobre a veracidade das informações que acessam. Ela culpabiliza a falta de letramento midiático para lidar com esse tipo de questão.
“As redes sociais e o jornalismo não estão em grau de igualdade. Eu posso como cidadã passar uma desinformação na internet e não ser punida por isso. Já o profissional, pode ser punido”, pontua Isabela. Para os profissionais jornalistas, antes da ação de publicar um produto na mídia, é necessário existir uma séria checagem de informações. A professora ainda sinaliza a falta de conhecimento do público sobre a responsabilidade e importância da profissão de jornalista em tempos de desinformação.
Ao propor medidas que deveriam ser tomadas em combate a essa problemática, Aline Camargo afirma que o jornalismo pode ir além de somente produzir notícias. Ela sinaliza algumas iniciativas interessantes de serem exploradas pelos profissionais: o metajornalismo – que dialoga sobre o próprio jornalismo em busca de abrir as portas para o público conhecer o que acontece por trás da profissão; Explorar o Jornalismo Local – a fim de buscar proximidade e interesse do público ao transmitir informações que afetem o seu cotidiano; e os News Influencers – que procura ser uma solução mais rápida para lidar com a desinformação, pois visa aproximar o público de conteúdos verdadeiramente jornalísticos através de profissionais que utilizam das suas redes sociais para noticiar.
O jornalismo possui soluções para evitar a desinformação, que devem ser exploradas de modo que sejam suscetíveis a adaptações conforme a sua eficácia na mídia. Além disso, também é necessário investir em letramento midiático, dado a tendência de falsos conteúdos cada vez mais difíceis de desmentir.
