Especialistas discutem sobre os aspectos positivos e negativos do uso desta ferramenta em sala de aula

Por Davi Martins Fronza
No mês de maio último, um aluno sul-coreano Universidade de Columbia revelou que 80% de seus trabalhos durante o curso de graduação foram escritos por IA. A revelação do estudante levantou uma discussão bastante atual: até que ponto o uso desta ferramenta pode ser positivo ou negativo no dia a dia dos estudantes?
Para o professor Jonas Tolocka, doutorando em Mídia e Tecnologia pela Unesp, o uso abusivo da IA pode alienar o estudante, fazendo-o se distanciar do pensamento crítico. Para ele, isso já acontece desde que a memória das pessoas foi terceirizada ao google. “O problema todo é a gente terceirizar a nossa capacidade de pensar criticamente”.
As críticas ao uso de Inteligência Artificial são ásperas. Há uma relutância do uso da ferramenta em sala de aula e em trabalhos estudantis. O uso excessivo é feito não apenas por estudantes na graduação, como foi o caso do estudante sul-coreano, mas também de alunos do ensino fundamental, que já a utilizam para gerar redações, mas acabam apresentando textos iguais. “A professora pede uma redação sobre as regiões do Brasil e os alunos de quinto, sexto e oitavo ano recorrem ao Chat GPT e entregam textos bem iguaizinhos”, diz Jonas.
Para o professor, é preciso reaprender a ensinar e a aprender, já que muito do que é apresentado em aula já está dado na IA. “Muito do que a gente aprende hoje já está dado numa inteligência artificial”.
Na opinião do professor do Departamento de Ciências Humanas da FAAC/UNESP, Danilo Rothberg, Doutor em Sociologia da Comunicação, as críticas não deveriam ser sobre o uso, mas como usar. Ele afirma que o uso da ferramenta é aceito no meio científico, e pode ser utilizado em aplicativos como de pesquisa bibliográfica e revisão de textos.
“O foco deveria ser não sobre se usou IA ou não, mas como usou. IA é aceita em vários usos pela comunidade científica, seja em aplicativos específicos úteis para pesquisa bibliográfica, por exemplo, ou de forma geral para revisão de texto”, diz.
O que o estudante de Columbia fez em sua graduação é considerado fraude, e possui pesos relativos ao plágio, aponta Rothberg. “Usar IA para gerar capítulos inteiros de um trabalho científico é fraude, e como tal é vetado pelos códigos de ética na pesquisa científica, assim como o plágio”.
Desta forma, surge o questionamento de como realizar atividades que priorizem o saber do discente, que contornam a alienação com a ferramenta. Ambos os professores apresentaram propostas parecidas. Danilo, ao ser questionado sobre quais atividades poderiam se adequar a estes quesitos, propõe a formulação de atividades criativas a fim de gerar pensamentos autênticos aos discentes, desestimulando as fraudes. “Atividades criativas que gerem aprendizado autêntico desestimulam fraudes”, diz o professor Danilo.
Para Jonas, “uma das soluções é exatamente poder evoluir no presencial, produzir as coisas no presencial, é onde o cara sabe ou não sabe”.
O uso de ferramentas de inteligência artificial ao extremo pode ser um problema para o aprendizado. Porém, a ferramenta não pode ser ignorada, apresenta usos construtivos como os apresentados por Rothberg, e, como defende Tolocka, deve ser implementada no ensino para enriquecer o conhecimento. “É uma ferramenta que inevitavelmente tem que ser usada, então que a gente consiga usar isso a favor da nossa inteligência, a não artificial”, conclui.
