A nova versão da novela tradicional que marcou gerações é a grande aposta do Grupo Globo para esse ano e está cada vez mais em alta com assuntos polêmicos, pautas sociais engajadas e muitas críticas, de especialistas e, principalmente, dos telespectadores.
Por Nina Conrado

Versão antiga de Raquel e Maria de Fátima (à esquerda) e versão atual (à direita). Reprodução: Universo Retrô
Vale Tudo é o reboot de uma das telenovelas mais clássicas do Grupo Globo. Essa nova tentativa de cativar o público brasileiro com algo tão característico dele, que é a novela, está sendo adaptada por Manuela Dias, e era a grande aposta da emissora para a comemoração de seus 60 anos. Porém, vem decepcionando com sua audiência de somente 21 pontos – sendo, em mais de 20 episódios, menor que a novela das 19h.
A adaptação que está sendo desenvolvida primariamente por Manuela Dias se inicia quando Maria de Fátima (Bella Campos) vende a casa de sua mãe Raquel (Taís Araújo) após a morte de seu avô e se muda para o Rio de Janeiro em busca de fama, sucesso, dinheiro e principalmente, ascensão social.
Entre as diferenças na forma como foram conduzidas as versões antiga e atual, o diretor de arte Lucas de Britto (31) destaca a premissa da novela como a principal. “Se você ler a descrição de Vale Tudo (2025), vai ser algo relacionado à relação de mãe e filha. Vale Tudo (1989) é uma história que questiona a honestidade no Brasil, passando por cima dos clichês de bem ou mal e trazendo nuances muito mais interessantes”. Ele também critica a autora da novela, ponderando se ela tem medo da forma como a original foi escrita: “A autora tem medo das atrocidades ditas em 1989, porém, elas são reais e retratam o Brasil e uma novela pautada nesse contexto, mesmo que não seja correto. Me assusta uma autora com medo da realidade escrevendo uma obra que deveria estar ligada ao real”.
Há muitas controvérsias entre a versão original e a nova em relação à qualidade técnica da novela. Porém, segundo o diretor de arte, essas comparações são descabidas: “Eu vejo as mudanças técnicas como algo diferente da versão original. Acredito que talvez essa seja a graça de fazer um remake ou uma remontagem, você consegue propor uma nova forma de contar essa história. Se fosse exatamente igual à versão original, não me interessaria”.
Além disso, Lucas também comentou sobre a novela estar utilizando seu espaço no horário nobre para conscientizar seu público sobre assuntos relevantes na atualidade. Pautas verdes, pensão não paga por pais, adoção por um casal homossexual e a homofobia enfrentada nesse processo são alguns dos temas tratados.
Em alguns casos, o roteiro consegue fazer jus ao tema e de fato gerar um impacto social, como por exemplo com o aumento de 300% na quantidade de mães solteiras que se incentivaram por Lucimar (Ingrid Gaigher) e exerceram seu direito de receber ajuda financeira dos pais de seus filhos.
Porém, Lucas acredita que apesar de ser uma mudança válida em relação a original, no geral, o roteiro “é bem mais fraco e superficial que o original”, o que influencia na recepção de assuntos polêmicos como os citados por parte do público. “É um diferencial benéfico comparado a antiga mas um diferencial maléfico na forma como está sendo escrita. Acho que tem muita coisa escrita para educar, mas de uma forma ‘palestrinha’ ou rasa demais e isso faz com que o público não necessariamente queira aprender mas encaixe a novela no ‘politicamente correto’ ”.

