Os bebês reborn, antes populares entre as crianças, se tornaram recentemente a nova sensação entre os adultos
Por Sthefany Gomes
Estas são mulheres adultas que tratam os bonecos como se fossem filhos, dando banho, alimentando, colocando pra dormir e até levando ao médico.
Bonecos ultrarrealistas que se parecem com bebês reais vem sofrendo uma drástica mudança de público-alvo. Os bebês reborn, que antes era uma febre entre as crianças, se tornou viral entre o público adulto, mas de uma maneira diferente, trazendo junto o surgimento de um novo termo: as mamães reborn.

Bebê reborn Reprodução:Redes sociais
Mas como a psicologia explica esse comportamento desenvolvido por essas mães?
O jornal Contexto entrou em contato com a professora e supervisora do Centro de Psicologia Aplicada da UNESP Bauru, Marianne Feijó. Para ela, existem várias situações distintas, e é necessário pensar sobre quem estamos falando, e em que relação e contexto essa pessoa está inserida.
“Uma senhora de 80, 90 anos, desenvolvendo uma demência, ou que não tenha tido boneca na sua infância, pode estar revivendo aspectos de quando os filhos eram pequenos, se ela teve filhos, ou um filho que ela não pôde ter”, pontua Feijó.
“Uma senhorinha que nunca teve a boneca vai cuidar da sua boneca como se fosse um bebê, ela já está ali num momento peculiar do seu ciclo vital, do seu desenvolvimento, e não vai trazer um prejuízo grande para ela ou para quem cuida dela”, explica a psicóloga.
Ela explica que, em alguns casos, pode ser positivo. “Se essa senhora se relaciona com os netos, com os filhos, ou até se ela não teve filhos e netos, mas se relaciona com parentes, com as pessoas próximas, com os cuidadores, se está se deixando cuidar, e também está cuidando desse bebê, aí, nessa situação, se isso é possível, que bom, né?”, completa a psicóloga.
A professora cita também outro tipo de caso em que há a necessidade de pensar sobre quem está sendo falado: o de mulheres jovens adultas.
“Uma jovem adulta, ou até uma mulher adulta se relacionando com um bebê imóvel como se fosse um filho, essa pessoa tem algumas dificuldades nas habilidades sociais e na sua história”, diz.
“Esse adulto, ao invés de lidar com demandas da realidade das relações, pode se voltar para esse investimento, um bebê que não tem vida, e com isso se esconder dessas questões que para a vida, para o desenvolvimento social, são muito importantes. Essa é uma preocupação”.
Feijó também traz um exemplo de situação que justifica a ocorrência desse comportamento, mas dessa vez num viés financeiro.
“Temos na mídia um fato circulando de um casal que coloca o dia a dia de um bebê reborn nas redes e na hora do divórcio eles disputam quem vai ficar com esse bebê, o que talvez seja uma demanda econômica: quem vai ficar com os frutos dessa mídia que alcançou tantas pessoas e pode gerar algum tipo de renda, coisas que hoje em dia a pessoa valoriza como ser famoso. Então, essa é outra questão, mas tudo isso está dentro dessa sociedade que a gente precisa começar a mudar. É muito consumista, muito pautada em padrões estéticos, um sucesso que tem que ser só de um jeito”, explica.
A psicóloga cita um outro exemplo, o das pessoas que pensam que ter um pet é mais fácil que ter um filho, associando também com o bebê reborn.
“Nem sempre é, né? Porque o pet você também vai ter que cuidar, cada pet é de um jeito, você vai ter que lidar com as diferenças e educar porque se não ele irá interferir demais na sua vida, é um compromisso de médio prazo, mais sério e que irá demandar de você afetivamente, trabalho e dinheiro. Dependendo do pet pode demandar um pouco menos que um bebê vivo de verdade, e o bebê reborn vai demandar menos do que os dois, você não vai ter que deixar de fazer alguma atividade porque está doente, ou porque não pode ficar muito tempo sozinho”.
Ao comparar um pet com o bebê reborn, Marianne diz que são níveis diferentes de envelhecimento, de investimento. “Um dia o seu animal de estimação não estará mais aqui, tem num tempo mais curto que o bebê”.
A entrevistada completa falando sobre o luto e a necessidade de apoio. “Uma pessoa enlutada, que está cuidando de um bebê reborn como se fosse seu, talvez precise de apoio para evoluir nas fases que a gente chama naturais do luto, a pessoa perde e vai enfrentando uma série de etapas, uma série de sentimentos”. Para ela, nesses casos há uma questão de saúde mental das pessoas.
Bebês reborn e status
“Outras pessoas entram nessa demanda por consumismo, para mostrar socialmente que você pode ter”, diz Marianne. Ela acrescenta que o mais preocupante é o tipo de situação que é classista, onde a pessoa tem o bebê reborn, que custa entre R$400,00 e R$3,000,00 para apenas mostrar que conseguiu comprar, expondo o bebê como bem de consumo.
“Isso aí é uma situação bem específica, que tem a ver com essa nossa sociedade de consumo: Você tem um bebê reborn, você tem o tênis X”, diz.
Marianne afirma que essa febre exagerada é um problema, pois precisamos cuidar mais das pessoas, da sua saúde mental e do consumismo. E esses excessos são muito perigosos.
