Mais uma vez, o audiovisual do país surpreendeu após conquistar dois prêmios no festival de cinema mais prestigiado do mundo
Por Jhenifer Oliveira
O cineasta pernambucano Kleber Mendonça Filho levou para casa dois prêmios no Festival de Cannes com sua nova trama, “O Agente Secreto”, que se passa em 1977, durante a ditadura militar. O filme estreou em uma sessão matinê no festival e foi o terceiro mais bem avaliado, segundo os críticos da revista acadêmica Screen.
O cineasta ganhou na categoria de Melhor Direção (Prix de la mise en scène), se tornando o segundo brasileiro a levar o prêmio – o primeiro foi Glauber Rocha, em 1969. Wagner Moura teve a honra de levar o prêmio de Melhor Ator para casa. É a primeira vez que um ator brasileiro venceu na categoria de atuação masculina no Festival de Cannes. O filme também estava na disputa pelo prêmio Palma de Ouro, mas acabou perdendo para “It Was Just an Accident”, do diretor iraniano Jafar Panahi.
Mendonça Filho foi ousado e levou o carnaval de Recife para o tapete vermelho, com uma apresentação de frevo do grupo Guerreiros do Passo e da Orquestra Popular do Recife. “A entrada foi maravilhosa para desmistificar a visão de que no Brasil só existe o samba. Além de levar a cultura do Norte de forma mais natural para o público internacional”, afirma a jornalista e crítica de cinema Flavia Guerra.
O Agente Secreto se passa nos anos 70, e conta a história de Marcelo (Wagner Moura), um professor especializado em tecnologia com um passado misterioso e violento. Ele decide se refugiar em Recife para começar uma nova vida, mas essa decisão logo tira sua paz e calmaria. Além de Wagner, o elenco conta com Gabriel Leone, Maria Fernanda Cândido, Alice Carvalho, Hermila Guedes, Thomás Aquino e Udo Kier.
Segundo Flavia, apesar da trama se passar durante a ditadura, o filme não trata sobre o regime. “O filme se passa em um momento em que é bonito ser feio, em que a ética está completamente controversa, ou seja, basta você seguir seus princípios para ser um dissidente e se tornar uma persona não grata aos olhos do governo. Não se trata ser sobre determinado partido político, e sim sobre a violência banal e abuso do poder que ocorria na época, o que era uma consequência da ditadura!”.
O longa foi bem avaliado e recebeu muitas críticas positivas, além disso a plateia ovacionou o filme durante 13 minutos, no final de sua exibição.
David Rooney, do The Hollywood Reporter, escreveu que a linguagem da produção apresenta “momentos de humor anárquico em meio a um suspense genuíno”. Para o crítico, esse é o tipo de coisa que torna o filme de Kleber Mendonça Filho um original tão emocionante.
O crítico também fez um paralelo com o filme Ainda Estou Aqui, de Walter Salles. “Apesar de seus floreios humorísticos e personagens cômicos, O agente secreto é um filme profundamente sério sobre uma época dolorosa do passado brasileiro, quando inúmeras pessoas desapareciam, assassinos de aluguel negociavam preços, e até mesmo cidades remotas, onde a ditadura era praticamente invisível, sentiam seu longo alcance. É ao mesmo tempo semelhante e completamente diferente do vencedor do Oscar do ano passado, Ainda Estou Aqui, de Walter Salles, cuja ação principal se passa no Rio de Janeiro no início dos anos 70”.
Marché du film
O Brasil foi representado como o País de Honra no Marché du Film, que é o principal mercado de cinema do mundo. Com essa parceria, projetos nacionais são destacados para o público estrangeiro, possibilitando negociações, vendas, compras, coproduções etc. A homenagem é devido aos 200 anos das relações diplomáticas entre o Brasil e a França. A jornalista Flavia Guerra afirma que esse título é muito relevante para o audiovisual brasileiro, pois ele mostra que o Brasil é um país reconhecido pela sua indústria cinematográfica brasileira.
