O Paris Saint-Germain conquistou neste sábado, na Allianz Arena, o título da Champions League ao atropelar a Inter de Milão por 5 a 0, numa final histórica que selou não apenas a supremacia do novo projeto parisiense, mas também a afirmação definitiva do clube como potência incontestável da Europa.


Por Rafael Fernandez

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A equipe de Paris, leve, confiante e impiedosa, não deu qualquer chance ao time italiano, que entrou em campo pressionado e saiu com mais uma derrota dolorosa: é a segunda final perdida em três anos, evidenciando um ciclo de desgaste e frustrações.

O placar foi aberto logo aos 12 minutos, quando Hakimi apareceu livre no meio da área, após falha grotesca de marcação de Dimarco, apenas empurrando a bola livremente ao gol. Aos 20, Doué, o prodígio de 19 anos, ampliou com um chute desviado novamente no lateral italiano, deixando claro que o dia seria dos parisienses.

A Inter, que sempre se notabilizou pela consistência defensiva, desta vez sucumbiu à velocidade e à intensidade do PSG. Como destacou Renato Rodrigues,comentarista da TNT Sports, “muita gente esperava uma final equilibrada, até pela consistência defensiva dos italianos, mas o PSG vinha num momento muito claro de evolução; o jogo melhorou muito, muito, muito. A Inter, em contrapartida, vivia seu momento mais instável”.

O segundo tempo apenas confirmou a superioridade parisiense. Aos 63 minutos, Doué marcou novamente, desta vez após bela jogada coletiva com um passe genial de Dembélé, celebrou tirando a camisa, num gesto de afirmação que parecia anunciar não apenas um título, mas a chegada definitiva de uma nova estrela ao futebol europeu. Dembélé, concorrente direto à Bola de Ouro, foi um dos grandes maestros da partida, orquestrando jogadas, acelerando transições e desestabilizando completamente a defesa italiana com um posicionamento de falso 9 versátil.

“O PSG tem tudo, se você for ver”, comentou o analista. “Dois zagueiros muito bons, dois laterais de força e velocidade, três meio-campistas que jogam e marcam muito forte… E atacantes que trabalham muito sem bola. É um baita time,muito jovem e com jogadores com muita fome”.

Renato Rodrigues

A Inter, por outro lado, foi a antítese desse vigor: sem força, sem vontade, lenta e previsível. O meio-campo foi facilmente anulado pelos parisienses, que impuseram uma pressão asfixiante e neutralizaram qualquer tentativa de reação. A equipe de Inzaghi parecia esgotada física e emocionalmente, não só pelo peso da final, mas pela campanha exaustiva e a necessidade de provar que ainda era capaz de conquistar a Europa.

“Eu continuo achando que o trabalho da Inter é muito bom”, ponderou o comentarista, “mas é um time mais velho já, que vai precisar rejuvenescer em alguns momentos, além de precisar de um pouco mais de qualidade técnica em alguns setores”.

Aos 73 minutos, Kvaratskhelia faz o quarto gol, após troca rápida de passes com Dembélé, coroando uma exibição de absoluto controle tático. E, aos 86 minutos — ainda no tempo regulamentar —, a jovem promessa Mayulu, de 18 anos, fechou a goleada ao soltar um míssil direto no canto do goleiro com frieza de veterano. O PSG não apenas venceu: deu um espetáculo, elevou seu status e consolidou-se, enfim, como uma das grandes forças do futebol europeu comandada em campo por alguém como o Marquinhos que passou por todas as fases perdedoras do clube francês e agora conquista merecidamente este título.

A derrota pesada expôs as fragilidades de uma Inter que parece ter esgotado seu ciclo competitivo mesmo que tenha uma campanha sólida até a final. Sem conseguir impor seu habitual jogo físico e organizado, a equipe italiana foi atropelada por um PSG que, além do talento, apresentou uma solidez emocional rara. “Eu acho que não tinha jeito melhor para o PSG ganhar e se estabelecer como uma força da Europa, porque é um torneio ganho sem qualquer tipo de contestação”, analisou Renato, completando: “O nível de atuação realmente é muito alto, muito alto mesmo.”

A vitória parisiense, além de marcar um título, simboliza a ascensão de uma geração jovem, ambiciosa e disciplinada. Já a Inter, que acumula sua segunda derrota em finais continentais nos últimos três anos, terá de refletir profundamente sobre seu futuro, suas lideranças e sua capacidade de renovação. Como concluiu Renato, “certamente alguns ciclos serão encerrados, mas o caminho é esse”. O futebol, afinal, é um organismo em constante mutação — e em Munique, o PSG deixou claro que está pronto para liderar essa nova era.

Um clube que deixou de vender imagem para construir história

O Paris Saint-Germain, durante anos, foi símbolo de um projeto que parecia mais interessado em vender camisas e atrair holofotes do que em construir uma verdadeira identidade vencedora. Contratou astros globais como Neymar, Messi e Sergio Ramos — jogadores consagrados, mas que, ao desembarcarem em Paris, muitas vezes pareciam olhar o clube de cima para baixo, como se o PSG fosse uma vitrine e não um destino final. Esse abismo emocional entre os craques e a instituição foi, talvez, o maior fracasso do projeto: um elenco recheado de glórias passadas, mas vazio de fome, desconectado do que faz um time ser, de fato, uma potência, de que adianta ter varias estrelas em seu plantel se o seu brilho é artificial.

Hoje, esse PSG é outro. Sob o comando de Luis Enrique, o clube se transformou radicalmente. Deixou de lado o fetiche por medalhões e apostou em jovens ainda desconhecidos do grande público, mas famintos por escrever sua própria história. “A diferença de perfil é brutal”, como disse o jornalista, “é um time muito jovem, os jogadores querem mostrar do que são capazes”. Essa fome, esse desejo de provar-se, transformou o PSG de uma marca global para um time europeu de verdade, com alma, com identidade, com propósito.

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Luis Enrique foi o grande artífice dessa metamorfose, criando um time para chamar de sua obra. Sua filosofia autoral, marcada pelo jogo de posição típico espanhol, baseado em pressão constante, intensidade e coletividade, fez com que até os atacantes virassem os primeiros defensores. Um futebol que exige entrega total, mental e física. O resultado foi um time que, mais do que vencer, dominou o cenário europeu com autoridade. Como observou Renato: “O Luis Enrique é um treinador que tem convicções muito claras. Aceita tomar uma nova direção, com um clube e um novo perfil de contratações… além da história, tem muito trabalho, muita identidade de jogo.”

A bandeira de Paris dessa vez ficou na arquibancada

Mas a noite de Munique guardava ainda um capítulo profundamente humano, bordado de saudade e memória. Luis Enrique, que já havia erguido essa mesma taça como técnico do Barcelona em 2015, viveu ali um momento de glória sob um signo diferente. Naquela final, sua filha, Xana Martínez, então com apenas 5 anos, correu livre pelo gramado e fincou, com a alegria inocente de quem ainda desconhece a gravidade do tempo, uma bandeira da Catalunha no meio do campo, celebrando a vitória do pai.

Anos depois, em 2019, Xana partiu aos 9 anos, vítima de um câncer ósseo, e deixou um vazio que não se mede, não se explica, não se preenche.

Há presenças que a ausência não apaga. Desta vez, ela não pôde estar fisicamente na comemoração do pai, mas, em um dos gestos mais emocionantes da final, os torcedores do PSG estenderam um enorme bandeirão com a imagem de Xana e Luis Enrique, recriando aquela cena de 2015 — agora tingida com as cores de Paris. Foi uma homenagem que atravessou o tempo e a dor, reconhecendo que, mesmo ausente, Xana sempre fará parte das vitórias de seu pai, como um fio invisível que costura amor e resistência.

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Naquela bandeira, não estava apenas a memória de uma menina que celebrou com o pai; estava a lembrança viva de que o futebol, como a própria vida, é feito de ausências que nunca partem por completo. E ali, diante do mundo, Luis Enrique não apenas levantou um troféu: ergueu, junto, a delicada eternidade de quem se foi cedo demais, mas que permanece — silenciosa, mas eterna — no coração de quem ama.

Como sintetizou Renato, “não tem como ignorar a carga emocional dessa conquista para Luis Enrique. A maneira como ele lida com toda essa história que é triste, é inspiradora. A questão anímica muda muito o jogo. E ver ele levantar a taça da Champions com uma atuação tão imponente do PSG parece ter um significado ainda mais profundo.”
Neste título, há mais do que um troféu: há a redenção de um clube, a consagração de uma ideia e, acima de tudo, a celebração da vida que resiste, mesmo na ausência. Sábado se apagaram todas as estrelas artificiais do céu para brilhar uma única estrelinha que tem muito orgulho de seu pai.