A principal competição europeia de clubes passou por mudanças significativas no sistema de disputa, prometendo mais jogos, mais emoção e uma nova dinâmica na busca pela glória continental.

Por Rafael Fernandez
Na temporada 2024/25, a UEFA ampliou a Champions League de 32 para 36 equipes, substituindo os grupos por uma fase de liga única. Cada clube disputou oito partidas — quatro em casa e quatro fora. Ao término, os oito primeiros colocados garantiram vaga direta nas oitavas de final; os times de 9º a 24º lugar disputaram os playoffs para definir as outras oito vagas; e os clubes classificados entre 25º e 36º foram eliminados, sem direito a repescagem.
Para o comentarista Piero Fiorelli, da TNT Sports, “essa transição para 36 equipes e a fase de liga tornaram a competição muito mais balanceada: cada jogo passou a valer como um verdadeiro ‘mata-mata’.” Segundo ele, a maior variedade de adversários possibilitou confrontos inéditos e impediu que alguns clubes se acomodassem em “grupos fáceis”. “Somente nas últimas rodadas se definiu quem ficaria entre os oito primeiros, aumentando a tensão em campo e o interesse dos torcedores”.
A luta para garantir uma das oito vagas diretas e evitar a fase de playoffs foi intensa até o fim. “Vimos equipes tradicionais vacilarem em momentos críticos, enquanto clubes de menor expressão pressionaram para entrar no top 24”, comenta o jornalista. Ele acredita que essa indefinição obrigou times que antes gerenciavam a fase de grupos com tranquilidade a se desgastar desde o início, estimulando os clubes mais badalados a acompanhar cada rodada. O PSG, aliás, quase não se classificou para os playoffs, mostrando como até equipes tradicionais tiveram sua margem de erro reduzida .
O comentarista também observa o impacto financeiro: “com mais jogos entre gigantes e pequenos clubes, a arrecadação de bilheteria e os contratos de transmissão ficaram mais robustos. Até os times de menor expressão ganharam visibilidade ao enfrentar os principais adversários em suas próprias casas, gerando receita extra.” Apesar das exigências físicas e logísticas, Piero avalia que a nova estrutura já se mostra sustentável e tende a ser aperfeiçoada em edições futuras, ajustando o calendário e equilibrando a tabela.
Sobre gestão de elenco, Piero acredita que os grandes clubes precisam planejar deslocamentos e rodízio de atletas com ainda mais cuidado. “Hoje em dia, não há margem de erro. Permanecer entre os oito primeiros virou vantagem enorme, pois evita jogos extras e dá mais tempo de preparação. Os times terão de ajustar o rodízio para não perder competitividade e planejar viagens com antecedência.” Ele destaca que, nas próximas edições, garantir mando de campo nas fases finais para quem terminar entre os oito primeiros deve influenciar as escolhas táticas ao longo da fase de liga.

Por fim, o comentarista ressalta que “o alcance da competição foi ampliado: clubes de menor expressão ganharam protagonismo e visibilidade, enquanto os gigantes tiveram de entrar em campo com força máxima desde o início. No fim, é bom para o futebol europeu como um todo — gera mais espetáculos, equilibra receitas e faz com que nenhuma partida seja tratada como amistoso.”
Dois caminhos, um destino: a batalha final pela glória europeia
O Paris Saint-Germain protagonizou uma campanha de superação. Ainda na fase de liga, flertou com a eliminação, mas reagiu de forma impressionante e garantiu sua vaga nos playoffs, depois avançando com autoridade. Como destacou Piero Fiorelli, “a trajetória do PSG é mais cinematográfica, digamos assim, porque aquele jogo contra o Manchester City na fase de liga já era um mata-mata: virtualmente eliminado, o clube foi capaz de uma virada impressionante e elevou muito o seu nível de futebol”.

Nas oitavas de final, o PSG teve pela frente o Liverpool. Perdeu o primeiro jogo em casa, mas, mostrando sua força e capacidade de reação, venceu em Anfield por 1 a 0 e garantiu a classificação nos pênaltis. Nas quartas, enfrentou o Aston Villa, equipe que surpreendeu ao chegar entre os oito melhores, mas o time parisiense manteve o controle da eliminatória e avançou. Na semifinal, o desafio foi diante do embalado Arsenal, em um confronto que testou os limites físicos e táticos do time parisiense, mas que terminou com vitória e vaga garantida na final.
Do outro lado, a Inter de Milão teve uma campanha marcada pela solidez e por atuações decisivas contra adversários de peso. Depois de avançar com segurança pela fase de liga, eliminou com tranquilidade e leveza o Feyenoord nas oitavas. Pelas quartas enfrentam o poderoso Bayern de Munique em confrontos muito equilibrados mas a constância defensiva do time italiano fez a diferença para passar de fase, e, por fim, protagonizou uma virada épica diante do até então melhor clube da temporada europeia, o poderoso Barcelona, na semifinal: empatou em 3 a 3 no jogo de ida e venceu a volta em um épico 4 a 3 com atuações fantásticas de Sommer e de te todo o meio de campo azzurri, parando a jovem promessa Yamal e garantindo a vaga na decisão.

Para Piero, “por mais que a Inter tenha eliminado o grande time da temporada, o Barça, a trajetória do PSG é mais chamativa”. Ele ponderou, ainda, que “a Inter pode até ser mais consistente ao longo da temporada, mas não jogou o mesmo futebol que o PSG no ano de 2025”.
Além disso, o comentarista destacou o merecimento das duas equipes: “São dois finalistas justíssimos. O Barcelona seria um ótimo finalista também, mas não dá para tirar o mérito do PSG e da Inter. O PSG flertou com o desespero, venceu os jogos que precisava vencer, enquanto a Inter, com sua defesa quase intransponível, soube partir para a trocação quando necessário e eliminou o melhor time do ano.”
Na final, o PSG contava com um ataque volátil, capaz de trocar de posições constantemente formado por Dembélé, Désiré Doué e a mais recente contratação Kvaratskhelia, enquanto a Inter se apoiava na solidez defensiva e nos ataques rápidos, com transições do meio-campo de Barella para Lautaro e Thuram. O duelo colocava frente a frente dois estilos distintos: o dinamismo ofensivo do PSG contra a tradicional organização defensiva italiana mortal em seus contra-ataques que beiram a perfeição tática.
Como sintetizou Piero: “O alcance desta final é maior porque cada jogo valeu como mata-mata desde a fase de liga: não há tempo para relaxar, e cada detalhe pode decidir o título.” Assim, antes da bola rolar na Allianz Arena, a expectativa era de um confronto histórico, marcado por intensidade, equilíbrio, estratégia e muita qualidade técnica.
