Entenda o lado social de um esporte tão praticado no país e seu papel na integração das comunidades


Campo do Olaria com comunidade ao fundo. Foto: Isabela Cristina

Por Isabela Cristina

O futebol de várzea é uma forma amadora do futebol, geralmente praticada em pequenos pedaços de terreno, muitas vezes na rua, ou em clubes da comunidade. Essa modalidade faz parte da cultura brasileira, atravessando as 4 linhas do campo com seu papel social, seja proporcionando a prática do esporte de maneira democrática, ou promovendo a integração nas periferias.

Por mais que em muitos locais a várzea siga sendo marginalizada, os clubes lutam diariamente pelo reconhecimento e pelo investimento no futebol amador. Em entrevista para o Jornal Contexto, Diego Egidio, presidente do clube Olaria – um tradicional clube de futebol de várzea da cidade de Mairiporã – explica que esse esporte “é o futebol que até então era praticado por amor, por gostar do futebol, mas que com o tempo vem se profissionalizando, muitas pessoas têm renda fixa com o futebol de várzea, o cenário vem dando uma mudada”.

Para muitos apenas um esporte, mas para quem presencia o futebol de várzea reconhece que vai muito além disso. Uma paixão que passa de geração em geração, a determinação para manter o clube na elite e a função social de dar oportunidades para as comunidades.

“Eu vejo que o futebol tem essa potência, essa força de unir a comunidade, de o pessoal fazer um rateio, de levar uma cerveja para o campo, vai família, vai criança, vai bebê de colo, faz aquela festa toda e a gente sabe que é uma união”, explica Diego, mostrando que a várzea “tem uma magnitude muito grande, tem uma importância gigantesca nesse lado social, principalmente nas comunidades mais carentes”, completa o presidente.

Em janeiro de 2025, o clube Olaria reativou a tradicional escolinha de futebol para jovens de diferentes idades, sendo uma oportunidade da nova geração manter a paixão pelo esporte e pelo clube, além de investir no sonho da profissionalização.

“A escolinha é fundamental, não somente na questão do sonho, mas traz algo maior, que seria você estar em conjunto, dividir espaços com pessoas que vem de diversos bairros, diversas classes sociais. O futebol faz pessoas com poder aquisitivo muito grande conviver com pessoas que mal tem o que comer, que vem da comunidade”, explica Diego.

“Você pega uma escolinha de mil alunos, um exemplo, de repente um vai ser profissional, vai chegar ao grande sonho, ou nenhum, muitas vezes. Porém, você aprende muito, né?  Você aprende a ganhar, a perder, a saber lidar com a derrota e com a vitória, e socializar. Então, acho de extrema importância, não só o futebol, o esporte por si só, na educação das crianças”, completa.


Treino da escolinha e treinadores com Diego no detalhe. Foto: Isabela Cristina

O futebol para além do esporte é também um laço criado entre pais e filhos e passado como herança. Pela modalidade de várzea ser mais acessível, o gene da paixão pelo clube corre nas veias de diferentes gerações, se tornando parte fundamental da vida e da história familiar. Diego é a prova de que viver o futebol amador e alimentar o amor pelo clube Olaria é uma maneira de honrar a história daqueles que já se foram.

“Meu avô ajudou a fundar (o clube) e morreu aqui dentro. O meu pai, desde criança tá aqui e morreu aqui dentro”, conta o presidente “sobrou uma bandeira para a gente carregar, mas é uma bandeira que é leve, porque eu e meus dois irmãos somos apaixonados pelo clube”.

Como forma de mostrar a importância das vivências com o clube, Diego relembra a sua infância na escolinha do Olaria.

 “Eu joguei um pouco mais, comecei na escolinha, que na época nós tínhamos com o nosso grande professor Carlão, infelizmente veio a falecer esse ano. Ele foi quem me deu muita base, de você aprender muitas coisas, tenho um respeito como se fosse um pai para mim, Carlão Macedo.”

E em 2025 o Olaria se tornou campeão da Taça Cidade, campeonato de várzea de Mairiporã, e o menino que jogava na escolinha, viu seu time retornar ao topo e agora, comemorar com os seus filhos, da mesma maneira que um dia comemorou com o seu pai.

“A minha família toda no campo, minha mãe que nunca veio antes, estava no campo, de tão importante que era o projeto da gente conseguir retomar, e colocar a Olaria no seu devido lugar”, relembra o presidente.

A história de Diego é um exemplo das milhares de pessoas que vivem o futebol de várzea no Brasil, um esporte que é sinônimo de aprendizado, paixão e herança familiar e que para além do lado esportivo tem papel fundamental na integração das comunidades.

Diego Egidio na faixada do clube Olaria. Foto: Isabela Cristina

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