Prêmio ABAG/RP de Jornalismo “José Hamilton Ribeiro” abre portas para novos jornalistas
Por Ana Julia de Souza
Antes de pisar em uma redação profissional, diversos estudantes de jornalismo já têm a chance de ver seus trabalhos sendo reconhecidos pelo prêmio ABAG/RP. Mais do que status, esse concurso mostra outro viés do jornalismo, o agronegócio, e impulsiona carreiras, fortalece currículos e motiva jovens repórteres a seguirem por essa vertente.
Valéria Ribeiro, coordenadora do prêmio, destaca que a iniciativa nasceu para estimular estudantes de jornalismo a conhecerem o setor e perceberem as oportunidades que ele oferece. Ao longo de dezoito anos, mais de mil alunos participaram da premiação, vivenciaram o cotidiano de empresas agroindustriais, visitaram plantações e fábricas e compreenderam o agro como uma indústria altamente integrada e tecnológica, que demanda comunicação qualificada.
“É para abrir as portas do agro. Mais de mil estudantes já participaram do prêmio, e muitos trabalham em editoras especializadas em agro”, diz ela.
A partir dessa vivência prática, os futuros jornalistas desenvolvem um olhar mais crítico e informado, essencial não apenas para a cobertura do agro, mas também para outras áreas.
“Esses jornalistas do futuro talvez nem sigam carreira no agro, mas vão escrever sobre política, economia, meio ambiente, saúde — e terão tido esse contato”, explica a entrevistada, ressaltando o caráter formativo e transversal do prêmio.
O Prêmio ABAG ajuda a construir uma visão mais ampla do agronegócio, apresentando aos estudantes o funcionamento de cadeias produtivas e sua relação com questões como sustentabilidade e rastreabilidade. Em tempos que o consumidor deseja saber qual a procedência dos produtos, cabe ao jornalista informar, contextualizar e checar dados. “Vejo isso como uma oportunidade para o jornalismo, porque o mundo se importa com o que comemos e exige rastreabilidade. E quem pode ajudar nisso? Os jornalistas”, afirma Valéria.
Participar do prêmio significa mais do que ganhar uma competição: é abrir a cabeça para um setor que movimenta a economia, impacta o meio ambiente e está em ascensão na mídia. Além disso, é um diferencial no currículo.
“Conheço muitos casos de jornalistas que, após colocarem no currículo que participaram do Prêmio ABAG, conseguiram estágio rapidamente”, conta a organizadora, citando uma estudante da PUC que enfrentava dificuldades para se inserir no mercado, mas viu sua trajetória mudar após essa experiência.
Em um cenário em que muitos estudantes se concentram nas áreas de esportes e entretenimento, buscar experiência no agronegócio representa uma estratégia diferenciada. “As empresas valorizam o interesse que você demonstra por assuntos que não são tão óbvios”, aponta a entrevistada, destacando que há uma série de oportunidades profissionais em áreas de comunicação corporativa, assessorias de imprensa e empresas de sustentabilidade ligadas ao agro.
O prêmio proporciona ainda uma compreensão profunda sobre a complexidade do agronegócio, que diversas vezes é retratado de forma simplificada ou equivocada na mídia. “O jornalismo do agro precisa ser verificado. Se é verdade, tem que ser publicado”, afirma, criticando a falta de apuração em algumas coberturas. Nesse sentido, a formação proporcionada pelo prêmio é essencial para que os novos jornalistas possam atuar com responsabilidade, ética e preparo técnico.
Esta especialização está cada vez mais inserida na grande imprensa. Veículos como O Globo, a GloboNews e a Band vêm dando mais espaço para pautas relacionadas ao setor, reconhecendo sua importância econômica e social. Ao mesmo tempo, iniciativas regionais, como o Diário de São José do Rio Preto e o G1 Ribeirão Preto, mantêm uma cobertura constante e aprofundada.
“Quando comecei, há 40 anos, o agro era notícia todo dia. Hoje ele compete com muitas hard news que dão mais audiência”, comenta a entrevistada, ressaltando que, ainda assim, as emissoras começam a perceber que valorizar o agro atrai novos públicos.
Outro aspecto fundamental abordado no prêmio é a relação do agronegócio com a sustentabilidade e as questões socioambientais. O Brasil possui um dos códigos florestais mais rigorosos do mundo, e é essencial que jornalistas compreendam essa legislação para informar corretamente e evitar distorções. “O agro depende do meio ambiente. Se não cuidar, terá problemas para produzir no futuro”, alerta.
Além da formação técnica, o ABAG impulsiona a inserção dos jovens jornalistas em uma rede profissional sólida. Um exemplo é a criação da AgroJor associação brasileira de jornalistas do agro, que surgiu há três anos, e está integrada à IFAG, entidade internacional com mais de 50 anos.
Nos dias atuais, onde as fake news proliferam e muitas vezes há uma visão estereotipada do setor, jornalistas bem formados são essenciais para mostrar que produção e sustentabilidade podem caminhar juntas. “Vai ser muito bom mostrar que sim, produção e sustentabilidade andam juntas no Brasil”, conclui.
Assim, para os jovens jornalistas, o Prêmio ABAG representa uma oportunidade de aprendizado, um passaporte para um mercado em expansão que valoriza o conhecimento, a ética e a capacidade de se comunicar com qualidade e responsabilidade. O agro está se abrindo — e cabe aos novos profissionais atravessarem essa porta.

Valéria Ribeiro, assessora de imprensa e coordenadora do Prêmio ABAG/RP “José Hamilton Ribeiro”. Foto: Redes Sociais
