Sala de Leitura em homenagem à escritora é inaugurada em escola na Cidade Dutra, em São Paulo

Cartazes feitos por alunos da Escola Laerte, em São Paulo, inspirados em Carolina Maria de Jesus. Foto: Bruna Arcanjo

Por Bruna Arcanjo

“Quem não tem amigo mas tem um livro tem uma estrada”. Tudo se iniciou com um primeiro contato com a professora Josiane Cecilio de Holanda Paez. Ela mencionou, em uma conversa com o professor Samuel Mascarenhas, um ex-aluno da escola, Luiz Fernando Barbosa, que participava de um grupo coletivo alinhado à proposta do evento que eles desejavam realizar.

Com os contatos trocados, eles se reuniram com a diretora da instituição para alinhar um plano que permitisse que o evento fluísse bem, instigando o lado artístico dos alunos e cumprindo o papel pedagógico dos professores. A ideia era criar uma biblioteca para os alunos da Escola Estadual Prof. Dr. Laerte Ramos de Carvalho, na Cidade Dutra, zona sul de São Paulo.

Com o local da futura biblioteca definido, o próximo passo era escolher o nome do local. Os alunos da escola participaram de uma votação que incluía diversos nomes de destaque da literatura brasileira, como Cecília Meireles, Graciliano Ramos e Clarice Lispector. O nome preferido dos alunos foi “Carolina Maria de Jesus”, uma das principais escritoras negras do país.

Com o nome da biblioteca definido, os alunos passaram a se envolver com conteúdos sobre a escritora, sua obra e sua importância na literatura. O passo seguinte foi decidir o que fazer para marcar a inauguração da sala, visto que apenas uma placa não seria suficiente para representar todo o significado do nome Carolina Maria de Jesus.

“Foi a partir daí que a gente começou a pensar no processo do que nós poderíamos fazer para tornar esse momento simbólico”, comenta o professor Samuel Mascarenhas, idealizador da ação. Decidiu-se, então, realizar um evento mais abrangente, com palestras, oficinas de colagem, cartazes espalhados pela escola e leitura de trechos do livro.

O professor Samuel Mascarenhas. Foto: @menor011_

Durante o evento, os alunos tiveram a honra de receber o grupo Intelectualidades Marginais, um coletivo cultural da periferia que promove arte, literatura e educação popular. Esse grupo também fundou o cursinho Niggaz, um preparatório para o vestibular totalmente gratuito, acessível e aberto a todos. Como material, trouxeram uma apresentação rica e completa sobre a importância de Carolina Maria de Jesus para a literatura brasileira, além de uma crítica ao esquecimento de autores marginalizados — aqueles que não se encaixavam no padrão imposto à escrita da época.

“Essa homenagem à Carolina resgata o papel que ela teve na história e valoriza sua escrita”, afirma Danielle dos Santos Vieira, educadora popular e palestrante do evento.

“Memória é o resgate de uma lembrança. O legado que ela deixou precisa ser homenageado e lembrado”, acrescenta ela, ao abordar a desvalorização e a falta de acesso às obras da escritora, cujo trabalho foi, por muito tempo, reduzido pela mídia.

“O que se fala sobre Carolina é só Quarto de Despejo, porque é o que vende. Houve um certo choque ao se deparar com a realidade do pobre”, argumenta Itanny Mortali, coordenadora do cursinho Niggaz.

“Participar de um evento assim nos aproxima, visto que a realidade dela não está tão distante da nossa. Trazer essa reflexão para a sala de leitura foi de uma importância crucial”, finaliza a palestrante.

Ao final da apresentação, os alunos foram direcionados para uma oficina exclusiva de colagens com a temática, é claro, de Carolina Maria de Jesus. Os mediadores do grupo Intelectualidades Marginais auxiliaram os alunos com os materiais e na produção das colagens, que, ao serem finalizadas, foram expostas nas paredes da Sala de Leitura. O espaço agora conta com um novo acervo de livros e áreas de estudo disponíveis para os alunos nos intervalos e trocas de aula.

Como cerimônia de encerramento, a diretora da escola, Vanda Santos, subiu ao palco para declamar trechos do consagrado Quarto de Despejo. Em seguida, os certificados de participação foram entregues a todos os membros do grupo Intelectualidades Marginais. Por fim, junto com as demais autoridades da instituição, a placa com o nome da homenageada Carolina Maria de Jesus foi exibida e ovacionada por todos.

Sobre os planos futuros para a biblioteca, o professor garante que esse não será o único projeto: “Ele é um dos meios que nós pensamos para fomentar a leitura, além de oficinas e eventuais saraus culturais.”

Com a próxima proposta marcada para meados de junho, será realizada uma feira literária, trazendo autores convidados e abrindo espaço para que os alunos vivenciem uma verdadeira imersão no mundo da literatura. “Teremos uma continuidade, buscando novos projetos engajadores, que tragam ao aluno a possibilidade de ser o protagonista do processo”, afirma, referindo-se às oficinas propostas.

A educadora Danielle dos Santos Vieira e a coordenadora do Niggaz, Itanny Mortali. Foto: Bruna Arcanjo

Biblioteca da Escola Laerte em homenagem à escritora Carolina Maria de Jesus. Foto: Bruna Arcanjo

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