12 meses após o desastre, famílias ainda sofrem, empresas buscam recuperar seu espaço e os gaúchos ainda esperam uma mudança duradoura
Por Pedro Inácio Barbosa

Foto: Prefeitura de Porto Alegre
Há um ano, em maio de 2024, ocorreu a maior catástrofe natural do Rio Grande do Sul e uma das maiores de todo o Brasil. A tragédia foi causada por enchentes em decorrência das grandes chuvas vividas no estado. É estimado que mais de 180 pessoas tenham sido mortas pelas enchentes e cerca de 600 mil ficaram desalojadas, além dos danos ambientais e econômicos sofridos pelos gaúchos.
As chuvas são de origem natural, porém devido a alguns fatores antrópicos, as enchentes foram mais intensas e perigosas. O volume de água das chuvas foi elevado, com cidades atingindo mais 800 mm de água em um mês. Alguns fatores agravantes foram o aquecimento global e o fenômeno do El Niño, que altera os padrões de vento e circulação atmosférica, devido ao aquecimento anormal das águas do Oceano Pacífico.
O aumento urbano desordenado foi um dos fatores que agravaram as enchentes, pois o solo não teve capacidade de drenar toda a água das grandes chuvas. Além disso, o sistema de drenagem das cidades estavam com falta de manutenção e não tinham capacidade de suprir a falta de escoamento do solo. Por exemplo, os diques de Porto Alegre apresentavam rachaduras, vazamentos e vegetação crescendo sobre eles, além de terem sido construídos há décadas.
Para superar os danos causados, o governo federal iniciou o Auxílio Reconstrução, que dava R$5100, 00 às famílias afetadas, cujo objetivo era a reposição de móveis, eletromóveis e itens essenciais perdidos. Enquanto isso, o governo do Rio Grande do Sul desenvolveu o Programa Volta por Cima, que disponibilizou R$2500,00 aos atingidos, porém apenas famílias que tinham uma renda per capita de até R$218,00 podiam receber o auxílio.
Além do auxílio, outras medidas complementares foram implantadas para auxiliar o Rio Grande do Sul, como a suspensão da Dívida Estadual por três anos para o estado. Adicionalmente, outra medida adotada pelo governo federal foi a destinação de R$111,6 bilhões para o estado, em busca de ações emergenciais e recuperação de infraestrutura.
O momento foi desesperador para a população gaúcha. O doutor veterinário Cleandro Dias, gaúcho de origem, relata sobre o sentimento de alguém que não estava presente, mas que viu lugares que já conviveu submerso. “Eu conhecia muitos locais e por um período da minha vida, eu frequentava. Então eu imaginava tudo debaixo d’água e ficava impressionado. Isso impacta mais a gente quando a gente conhece o local”.
Ele ainda relata que teve familiares afetados com o desastre. Nenhum familiar dele foi morto pelas chuvas, porém ficaram desabrigados. Ele relata sobre o sentimento de querer ajudar seus entes e não ser capaz devido às condições. Cleandro fala sobre seu desespero e que desejo de que tudo se resolvesse logo.
Os pais do médico veterinário não foram diretamente afetados, porque a cidade na qual eles moravam não foi uma grande afetada. “Existia uma sensação de isolamento vivida nas cidades do interior, por causa do bloqueio das estradas, que impossibilitava o trânsito para macro regiões”, diz Cleandro.
Embora as chuvas tivessem diminuído, as estradas demoraram a serem recuperadas, segundo Cleandro, ainda existem estradas para sua casa que até hoje não foram recuperadas. Com isso, até mesmo áreas que não sofreram com enchentes obtiveram mudanças significativas na vida de seus habitantes.
Cleandro fala sobre as dificuldades presenciadas pelo povo do estado. Um dos tópicos citados por ele foram as pontes estaduais, que já existem algumas que foram reestabelecidas, porém muitas delas ainda não possuem nem projeto para recuperação das rodovias. Ele relata ver obras de recuperação durante algumas estradas, além de ainda ter estradas bloqueadas, o que dificulta o tráfego da população. Para completar, ele diz que durante as estradas é possível encontrar cidades totalmente destruídas em que a população não retornou, mesmo após as águas baixarem.
A empresa Tanac, uma empresa que atua na produção e comercialização de extratos vegetais, cavacos e pellets de Acácia Negra foi fortemente atingida pelas enchentes. Cerca de 50% da empresa ficou submersa e teve prejuízos financeiros gravíssimos.
