Entenda as causas da formação do alcoolismo em um indivíduo e quais são os passos a serem seguidos em direção à recuperação
Por Beatriz Malheiro

Foto: Beatriz Malheiro

De acordo com Lays Aparecida, assistente social com mais de 25 anos de experiência no tratamento da dependência química, são muitos os fatores que indicam o desenvolvimento do alcoolismo em uma pessoa. Questões sociais, ambientais, psicológicas e, até mesmo, genéticas estão atreladas ao uso abusivo de bebidas alcoólicas.

Lays explica que a presença do álcool na vida de um alcoolista muitas vezes começa cedo. Por estar historicamente ligada à festividade, a bebida alcoólica se apresenta em circunstâncias comemorativas, pode ser introduzida por amigos, familiares ou dentro do ambiente paternal.

Esse é o caso de Rafael, alcoolista de 42 anos. Segundo ele, começou a consumir álcool desde muito cedo como forma de se adequar à convivência com amigos mais velhos. “Para eu me enturmar, para eu fazer uma questão de pertencimento, para eu participar daquele grupo, pra eu ser visto dentro daquele grupo, eu tinha que beber”.

Nelson, outro alcoolista de 63 anos, conta sobre como o mal estar emocional também pode se tornar um pretexto para o abuso de bebida alcoólica. Ele afirma que ingeria álcool de forma moderada até o ponto em que passou a lidar com o sofrimento mental. “A partir do momento que eu comecei a ter problemas emocionais, depressão, é uma coisa mais recente, é que eu usei o álcool como um sedativo pra sair fora dos problemas que estavam me afligindo”.

Ambos, Nelson e Rafael, concordam que o alcoolismo vem junto de uma compulsão, e que esse é o fator genético que contribui para a doença. “Investigando hoje, eu consigo perceber que existe uma questão da compulsão. Isso é herança genética. Não propriamente ao álcool, por outras coisas. Então eu carrego isso dentro de mim. Fato”, pontua Rafael.

Deve-se esclarecer, também, que o consumo de bebida alcoólica é muito normalizado dentro da sociedade. “A gente não pode esquecer que o álcool é uma bebida democrática, os preços são acessíveis”, diz a assistente social Lays. Ela também sinaliza que a fiscalização da venda de bebidas alcoólicas é ineficiente no contexto brasileiro, o que facilita a formação de alcoolistas.

Foto: Beatriz Malheiro

Nelson afirma se identificar com a normalização e até com o incentivo da ingestão de álcool. “Diferentemente das outras drogas, o problema é que com o álcool a gente tem muito contato. Mais contato todo dia. Todo mundo que eu conheço bebe”.

O que destaca o alcoolista entre as pessoas que não possuem compulsão por bebida é o controle do consumo de álcool. Lays esclarece que o consumo de álcool passa a ser perigoso a partir do momento em que deixa de ser algo recreativo e torna-se um alívio. Dessa forma, tenderá para o abuso e, então, ao descontrole.

“A partir do momento em que você deixa de fazer as suas coisas, coisas vitais, coisas básicas. E o álcool faz muito isso. Você não quer tomar banho, você não quer sair da cama. Você já acorda pensando em primeiro lugar nisso, e depois em sua vida”, conta Rafael.

Nelson relata que a crise de abstinência também pode ser um fator expoente do alcoolismo. Diz que conforme o tempo passa e o consumo de álcool se torna mais e mais agressivo, ele se desprende para a busca de conforto físico. “Eu acordava tossindo e com ânsia de vômito. A única forma de parar é bebendo, claro”.

A partir daí, o primeiro passo para que a pessoa comece o tratamento do alcoolismo é reconhecer a dependência química, confirma a assistente social Lays. “Eu assumi que eu sou alcoolista quando realmente eu… tentei parar e não consegui. Eu tentei parar sozinho. E não… não consegui”, afirma Rafael.

É nesse momento que entra a ajuda médica, e é importante entender que cada alcoolista é único. Lays ensina que, dadas as particularidades de cada caso de alcoolismo, o tratamento de cada pessoa seguirá um rumo diferente.

“Quando eu perdi o controle da quantidade de bebida que eu estava consumindo, eu não conseguia parar sozinho. Por isso que eu procurei ajuda de forma voluntária. Tinha noção de que aquilo estava me prejudicando e eu precisava de ajuda”, relata Nelson.

Segundo Lays, em algumas situações, o indicado é que o alcoolista seja internado para que ocorra a desintoxicação do álcool de forma segura e confortável. Durante esse processo é realizada a anamnese do paciente, dessa forma ele entende os seus prejuízos e quais são os motivos que o fazem recorrer ao uso.

Depois, o ideal é que haja acompanhamento médico e psicológico constante na vida dessas pessoas em recuperação. Elas podem optar por visitas em um hospital dia, atendimento privado, entre outras alternativas.

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