Evento gratuito no Sesc Bauru segue até junho com apresentações artísticas e oficinas voltadas ao público a partir de 12 anos.


Por Maria Eduarda Clementino


Otis Selimane e instrumentistas no palco da Convivência no Sesc Bauru. Foto: Jhen Freitas

O Sesc Bauru está promovendo uma nova edição de “Negras Narrativas”, um projeto que valoriza a memória, os saberes e as expressões culturais do continente africano. A ação teve início no dia 7 de maio e reúne diversos artistas negros, além da participação de instrutoras de kemetic yoga. A programação gratuita e voltada para o público a partir de 12 anos, segue até o mês de junho.

Entre os destaques da programação está o músico e produtor moçambicano Otis Selimane, que se apresentou na quarta-feira (14). No show “Renascimento”, o artista mostrou composições inéditas com ritmos de Moçambique, além de referências afetivas de sua infância.

Selimane comemorou a estreia do show em Bauru, destacando a recepção calorosa do público local. “Foi muito especial fazer o “Renascimento” pela primeira vez trazendo um show majoritariamente instrumental e ver a receptividade boa das pessoas, a interação e a cidade em si também, que nos recebeu super bem, apesar de termos ficado pouco tempo”, declarou.

Segundo o artista, o projeto tem se revelado uma experiência única, marcada pela construção contínua e pela colaboração de diversos públicos. A curiosidade da plateia faz o artista acreditar no crescimento de uma relação cada vez mais fluida e próxima entre a cultura brasileira e a moçambicana.

“Existem consideráveis pessoas que por onde eu passo, tanto dando aulas, tanto fazendo shows, tanto ministrando palestras ou workshops, têm muito interesse em conhecer”, destaca.


Otis Selimane durante apresentação. Foto: Jhen Freitas

Daiana Terra, 33, e Vanessa Santos, 44, acompanharam a apresentação. Para elas, embora o Brasil seja o país com o maior número de pessoas negras fora do continente africano, as expressões culturais ainda são limitadas e frequentemente reduzidas a ritmos como samba, rap e reggae.

Segundo Daiana, iniciativas como o “Negras Narrativas” contribuem para desconstruir visões estereotipadas sobre a identidade. “Trazer essas sonoridades, que foram perdidas ou abafadas ao longo dos anos, é muito importante para as pessoas entenderem que a África é muito além do que elas imaginam”, afirmou.

Questionadas sobre o racismo no Brasil, ambas declararam: “Sim, com certeza o Brasil é um país racista.” A afirmação evidencia uma realidade marcada por desigualdades históricas e pela exclusão da herança africana nos espaços sociais.

De acordo com Vanessa, eventos que valorizam a diversidade dessa cultura são importantes por ampliarem o protagonismo às vozes negras e incentivarem o conhecimento sobre a identidade do continente. “É uma forma de resgate e oportunidade de conhecer coisas e músicos que não teríamos oportunidade sem o Sesc”, acrescentou.

Nesta edição, a gratuidade chamou a atenção e a música foi mais que entretenimento – foi uma manifestação artística. Do ponto de vista de Daiana, para ver artes visuais ou até mesmo um grafite, é preciso ir a um museu, ao centro ou em outro lugar para ter acesso, mas com a música, é diferente. “Se tiver tocando uma música, você passa a ouvir aquela que te pegou, ou seja, não precisa gastar nada, é a forma de adquirir cultura mais barato”, destacou.

“Negras Narrativas” cumpre um papel essencial no enaltecimento dos saberes africanos. Mais informações sobre o projeto estão disponíveis nas redes sociais do Sesc Bauru.

Negras Narrativas – Projeto do Sesc que valoriza a ancestralidade, a memória e os saberes das populações negras. Confira a programação em @sescspbauru.

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