Programa foi instituído pelo governo federal como forma de diminuir a evasão escolar

O professor Eliton Aparecido dos Santos. Foto: arquivo pessoal
Por Helenita Queiroz
Em janeiro de 2024, o programa pé de meia chegou às escolas e passou a se fazer presente no cotidiano dos alunos. Instituído pela lei N° 14.818/24, vem como um incentivo financeiro na modalidade de poupança para estudantes matriculados em instituições do ensino médio público. Esta ação veio por meio do Governo Federal, em razão da evasão escolar que cresceu absurdamente durante, e pós, a pandemia em 2019.
A necessidade de intervenções em busca do resgate à educação surgiu após pesquisas realizadas pelo IBGE, que apontam que 9,1 milhões de jovens, entre 15 e 29 anos, abandonam seus estudos, muitas das vezes sem concluir a educação básica, para auxiliarem na renda familiar, ou por se sentirem sobrecarregados e não aptos a realizarem atividades básicas escolares.
O programa funciona assim: são feitos 10 pagamentos mensais de 200 reais durante o período letivo. No fim de cada ano do ensino médio, caso o estudante seja aprovado, é depositado o valor de R$ 1.000 reais. O incentivo pode chegar até 3mil na conclusão do último ano letivo (3° ano).
Atualmente, cerca de 3,9 milhões de estudantes em todo o Brasil são beneficiados pelo programa. Mas nem todos são abraçados pelo Pé de meia. Para ser um beneficiado, o aluno tem de estar inscrito no programa GOV.BR e seus responsáveis têm de ganhar o auxílio bolsa família. Sendo assim, muitos dos estudantes que são carentes e não pertencem a nenhum destes programas de apoio financeiro, não podem fazer uso do Pé de meia.
Para Eliton Aparecido dos Santos, que é professor de uma escola estadual em Bauru, o benefício faz os alunos irem à escola, mas a participação é baixa. “Temos sempre que cobrar as matérias, fazer malabarismos para prender a atenção, tudo isso só para sermos ouvidos. A indisciplina é algo complicado de lidar”.
Formado em ciências exatas, Eliton dá aula de Matemática e Educação financeira, disciplina que passou a ser obrigatória em algumas escolas do ensino médio. O objetivo é capacita os alunos a lidar com questões como o planejamento do consumo consciente, investimento, poupança, tomada de decisão e autocontrole de seus impulsos com seus bens.
“Aplico as aulas de Educação financeira e empreendedorismo para meus alunos, desde os sextos anos até os terceiros anos. E acho muito bacana essa nova oportunidade que eles estão tendo, porque na minha época de estudante, nós não tivemos nada disso. Eu aprendi errando, e agora aprendendo com o material que aplico em aula!”, explica o professor.
Desinteresse acadêmico
Eliton explica que por influência dos meios digitais, muitos jovens não sentem interesse de frequentar a escola, sendo bombardeados por táticas de Marketing das redes sociais, por dinheiro fácil e vidas perfeitas, porém irreais, e acabam se tornando reféns de sua realidade.
“Sou mediador do conhecimento, mas às vezes eu abro meu coração para eles. Me preocupo com o futuro deles. Mesmo tendo uma oportunidade de ouro, o desinteresse acadêmico é grande”, desabafa.
As regras do programa Pé de meia estabelecem com rigidez a participação e frequência do aluno. É preciso ter frequência mínima de 80% do total de horas para concluir o ensino médio. “Isso me entristece. Muitas vezes eu ouço o aluno falar que só vem para a escola por causa do pé de meia. Em uma classe de 20 alunos, perto do final de semana, às vezes só vão 5 ou 10 alunos”, comenta Eliton.
Diante deste cenário, o professor vê com tristeza o desinteresse dos alunos. “Todos tem oportunidade, mas nem todos tem maturidade”, conclui Eliton.
