Professor de Psicologia fala sobre os efeitos do medicamento na saúde mental e seus estímulos para o desenvolvimento de distúrbios alimentares

O professor do Departamento de Psicologia da FC/UNESP, Fábio Leyses Gonçalves. Foto: Kethlyn Gonzaga de Oliveira
Por Kethlyn Gonzaga de Oliveira, 22 de maio de 2025
O medicamento Ozempic (GLP-01) é direcionado para o público de diabéticos tipo 2. Sua ação estimula a secreção de insulina e diminui a de glucagon sempre que a glicose sanguínea estiver elevada. Os sintomas, como uma maior sensação de saciedade e o processo vagaroso do sistema digestório, chamaram a atenção do público que está em busca de um emagrecimento rápido e notório e sem dar importância aos seus efeitos colaterais.
Segundo o professor Fabio Leyses Gonçalves, Chefe do departamento de psicologia da FC/UNESP, este problema da utilização de medicamentos não convencionais para fins estéticos não é algo novo.
“Isso já aconteceu por exemplo com outras drogas que são muito mais ligadas a dependências que são os anfetamínicos né a anfetaminas e seus derivados parentes, primos e assim por diante. Até uns trinta, quarenta anos atrás. Quarenta anos, talvez seriam a primeira escolha para a mesma coisa: inibir o apetite”, explica o professor.
Para ele, isto já é um avanço muito grande dado que este produto não afeta o sistema nervoso frontal diferentemente dos anfetamínicos. “Veja, avançamos muito! Entre um anfetamínico e um medicamento como esses Ozempic, Mounjuro, etc que alteram metabolismo e não tem ação no sistema nervoso frontal. Nos já avançamos muito!”.
Porém, mesmo com avanços os riscos continuam e entre eles o desenvolvimento de distúrbios alimentares motivados por longos períodos em jejum. Este tipo de ação, segundo ele, apenas favorece um comportamento descontrolado e um desequilibrado nutricional. “Favorece um comportamento alimentar descontrolado, tanto em termos calóricos com maior quantidade caloria, quanto de quantidade”.
O professor Fabio elucida sua fala afirmando que quanto maior o tempo sem alimentação, mais rápido você irá consumir as refeições e em maior quantidade, pois não haverá sensação de saciedade que inibirá a interrupção do seu comportamento alimentar. “Quando você fica muito tempo sem comer você vai atrás de comidas mais calóricas e você come uma quantidade acima do que você necessitaria. Assim, quando você come muito rápido, você come uma quantidade maior do que você deveria. Porque não dá tempo de você sentir a sensação de saciedade e conseguir interromper comportamento alimentar”, explica.
Para ele, as pessoas vendem este tipo de medicamento como revolucionários, que irão resolver todos os problemas e isto acaba trazendo consigo uma visão limitada sobre os efeitos colaterais e seus riscos.
“As pessoas gostam de ver milagres, elas gostam de dizer ‘encontrei finalmente o medicamento que está revolucionando’. Bom, quando se fala isso já não ajudou muito porque você já está colocando aquilo como uma coisa que vai salvar todo mundo e vai resolver todos os problemas”, afirma.
Como resposta para esta alienação informacional o professor acredita que para haver mudança deve haver uma participação integrada de todos os profissionais da saúde na retomada de controle em suas decisões. “O papel do profissional de saúde seja médico, seja psicólogo, seja nutricionista também é de orientar adequadamente de virar e falar ‘não, não é assim’”, diz.
Ele também entende que os canais de comunicação têm um papel fundamental na influência onde deverá ser exposto todos os prós e contras do uso. “É pegar aquele paciente obeso que teve uma qualidade também, teve um benefício e uma melhora de qualidade de vida e ao mesmo tempo que mostra quais são os efeitos colaterais, quais são as dificuldades e ao mesmo tempo falar para que caso serve para que caso não serve”.
O professor explica que com estas aplicações as pessoas terão uma visão mais ampla sobre o problema, porém que isso não irá resolvê-lo pois esta decisão além de questões externas conta com a vivência de cada indivíduo.
“Isso vai permitir que as pessoas tenham uma visão mais ampla sobre o problema. Isso vai resolver? Não, mas a pessoa tem que ter, pelo menos, essa informação. É no indivíduo que vai se ter a resultante de todas essas forças. Que vão se juntar suas pré disposições genéticas, história de vida as suas experiências com toda as informações e todas as suas pressões externas. O que é importante, assim é equilibrar as questões externas justamente para não provocar esse conflito maior para não potencializar este conflito,” conclui.
