O que torna o uso excessivo do celular por crianças, sem a supervisão do responsável, prejudicial para a educação das crianças?
Por Stephanie Cardoso
Nos últimos anos, o celular se tornou um item quase onipresente na vida de crianças e adolescentes. Cheios de possibilidades, os dispositivos móveis transformaram a forma como os jovens se comunicam, aprendem e até se divertem. No entanto, é necessário que pais e responsáveis sejam alertados sobre os impactos que o seu uso excessivo e sem supervisão causam na educação das crianças.
Em um passado não tão distante, os mais novos se divertiam correndo em casa, na escola e na rua, e davam asas à imaginação para criar brincadeiras com os amigos de carne e osso. Mas, não é segredo para ninguém que as novas gerações de crianças são totalmente tecnológicas e já nascem praticamente “coladas” na tela.
Segundo dados do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), mais de 80% das crianças entre 9 e 17 anos têm acesso a um smartphone. Muitas começam a interagir com telas antes mesmo de aprenderem a ler. Essa exposição precoce traz implicações profundas para o desenvolvimento cognitivo, social e escolar.
De acordo com a professora Sheila Guedes, que atua em um colégio particular em São Paulo, os prejuízos observados diariamente sobre os efeitos do uso excessivo e sem supervisão são as constantes distrações e a dificuldade de concentração dos alunos. “Esses problemas refletem diretamente na capacidade de aprendizado, resultando em muitas dificuldades no desenvolvimento tanto pedagógico quanto social da criança”, explica a professora.
Um estudo publicado na revista americana Sleep Medicine Reviews indica que o uso não supervisionado e prolongado de celulares está diretamente ligado à queda no desempenho escolar, distúrbios de sono, aumento da ansiedade e problemas de socialização. “O livre acesso pode gerar uma dependência tecnológica, afasta a criança da interação com o mundo real, a criança não brinca e tem dificuldades em dormir”, afirma a professora de educação infantil, Valéria Moura.

O lado pedagógico da tecnologia
Apesar dos alertas, especialistas concordam que, se bem utilizados, os celulares podem ser grandes aliados da educação. “Existem algumas plataformas seguras como jogos pedagógicos, aplicativos de leitura, ambientes virtuais escolares e Youtube Kids. Também existem os conteúdos que focam em aprendizado por meio de músicas, desenhos animados, animações educativas, como a palavra cantada e Show da Luna. O desafio está no equilíbrio e na orientação”, explica Sheila.
Aplicativos educativos, vídeos explicativos, podcasts e jogos interativos são recursos que podem enriquecer o processo de aprendizagem. Além disso, muitas plataformas vêm se preocupando em ter controles parentais, facilitando o trabalho dos responsáveis na hora de supervisionar o conteúdo assistido pelo menor, como a Netflix, que consegue mudar o perfil para o infantil. E, para além do controle parental, plataformas como o YouTube criaram versões apenas para crianças, podendo até controlar as recomendações de vídeos por idade.
O papel das famílias e das escolas
O debate sobre o uso de celulares na infância ultrapassa os muros da escola. As famílias também têm papel crucial nesse processo e a supervisão vai além de simplesmente restringir horários ou bloquear certos sites.
Para Valéria, o estímulo e a supervisão são essenciais. “Orientem, estabeleça limites de tempo, acompanhe o conteúdo acessado, observe se é adequado para a idade da criança, mostre a ela que você está ali, que está presente, converse com a criança, acesse junto a ela, demonstre interesse, estimule o uso a conteúdo de qualidade e educacionais”, recomenda a professora.
Além da supervisão, é importante os pais serem exemplos aos filhos e também não exagerarem no uso de celulares. A psicóloga infantil Natália dos Santos destaca a importância do exemplo: “Pais que estão o tempo todo no celular tendem a ter filhos que reproduzem esse comportamento. É fundamental mostrar, na prática, que há momentos para cada coisa e que eles não devem ser vividos atrás de uma tela”.
