Treinamentos online e cortes de verba comprometem qualidade da arbitragem e geram afastamentos em massa.

Foto: César Greco

Por Lucas Soares Maione

Nas recentes rodadas do Brasileirão, o preparo físico e teórico de baixo nível apresentado pelos árbitros escancarou a falta de investimento na preparação realizada pela CBF (Confederação Brasileira de Futebol). A questão ocorre em meio ao escândalo de altos gastos com interesses individuais dos membros da corporação. As más atuações da arbitragem em conjunto com o VAR (árbitro de vídeo), têm ofuscado a evolução técnica do futebol nacional neste começo de ano.

Frente aos erros cometidos nas primeiras rodadas do campeonato brasileiro, referências como Renato Gaúcho, Paulo César e próprio clube do Fortaleza se posicionaram afirmando que tais falhas são inaceitáveis para o nível da competição.

Com a presença do VAR, a confusão em torno de lances decisivos deveria ser solucionada com revisão que esclarecesse o erro cometido, de forma que o juiz possa corrigir estratégias. Entretanto, diferentes interpretações dos árbitros das partidas têm resultado em chamadas para revisões que não alteraram a decisão de campo. Isso expõe uma falha na preparação da CBF, que permite múltiplas interpretações de um mesmo lance por parte de seus profissionais. 

Em entrevista ao Jornal Contexto, o pesquisador que discute as relações entre a comunicação e o esporte, professor do curso de Jornalismo da Unesp (Universidade Estadual Paulista) e ex-árbitro, José Carlos Marques, revela que “falta maior entrosamento entre as equipes do VAR e as equipes de campo”.

O professor também reflete sobre as confusões causadas nas rodadas iniciais do Brasileirão.  “A situação acontece especialmente no futebol brasileiro, porque ainda não se encontrou por aqui um ponto certo para a utilização do VAR. Por vezes, o VAR é muito interventivo. E por vezes, o VAR é muito omisso, o que compromete ainda mais a sua credibilidade. A impressão que tenho, como espectador de futebol e como ex-árbitro, é que em nosso país os árbitros centrais e os assistentes passaram a não querer assumir o ônus de muitas decisões, delegando essa tarefa para o VAR”, afirma.

As polêmicas resultaram na pressão que a CBF vem sofrendo ao longo da semana. As críticas surgem em meio ao corte de verba para o treinamento de árbitros realizado no final do ano passado, que resultou em um aumento no número de árbitros afastados, de 40 para 110 afastamentos. Além disso, o treinamento passou a ser feito de maneira online, através de videoconferências.

“O corte de treinamento dos árbitros que atuam no futebol brasileiro não se justifica, haja vista os valores que a CBF acaba auferindo com a comercialização dos campeonatos que ela organiza. Há muito dinheiro envolvido com os patrocínios que a entidade recebe”, ressalta José Carlos.

A entidade máxima do futebol brasileiro admitiu a culpa pelos erros extravagantes que vinham sendo cometidos repetidamente em um curto período de tempo pela sua arbitragem e decidiu tomar algumas atitudes. “A CBF promoveu no Rio de Janeiro, na terceira semana de abril, um encontro para reciclagem e discussão da aplicação das regras de futebol com os nomes da arbitragem brasileira.”

A instituição também afastou instantaneamente os árbitros envolvidos nas polêmicas.

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